20 de janeiro: data marca luta e resistência de povos indígenas


Por: Bianca Diniz

20 de janeiro de 2025
Indígenas da Comunidade Tatuyo, no Amazonas (Divulgação/Amazonastur)
Indígenas da Comunidade Tatuyo, no Amazonas (Divulgação/Amazonastur)

MANAUS (AM) – Celebrado em 20 de janeiro desde 2013, o Dia Nacional da Consciência Indígena homenageia a luta e a resistência dos povos originários, relembrando a morte do cacique Aimberê Tupinambá. Líder da Confederação dos Tamoios – uma revolta que ocorreu entre 1554 e 1567 contra a colonização portuguesa no Brasil, abrangendo o sul do Rio de Janeiro e o litoral norte de São Paulo – Aimberê simboliza a defesa da liberdade e da cultura indígena diante do avanço colonial.

A data foi lançada oficialmente por representantes indígenas da aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro, liderados por Carlos Tukano, em meio à polêmica sobre a demolição do antigo Museu do Índio, localizado próximo ao estádio do Maracanã. Desde então, o dia tornou-se um marco de reflexão sobre as conquistas, os desafios e as violações históricas enfrentadas pelos povos indígenas no Brasil.

A luta pela terra e pela cultura

Desde o primeiro contato com os colonizadores, os povos indígenas têm resistido à exploração e ao extermínio. As primeiras rebeliões foram motivadas pela defesa da liberdade e a recusa em ser escravizados. No entanto, a expulsão das terras, o genocídio e a marginalização continuaram ao longo dos séculos.

Durante o regime militar brasileiro (1964-1985), a Comissão Nacional da Verdade (CNV) documentou a morte de aproximadamente 8.350 indígenas em massacres, expulsões forçadas e condições desumanas. Na contemporaneidade, o avanço econômico sobre territórios indígenas, com a construção de hidrelétricas, mineração ilegal e desmatamento, especialmente na Amazônia, agravou os desafios enfrentados por essas comunidades.

Apresentação de indígenas da Comunidade Tatuyo, no Amazonas (John Britto/Cenarium)

De acordo com o Greenpeace, a Amazônia, que abriga mais da metade da população indígena brasileira, enfrenta pressões crescentes de exploração econômica, como projetos de infraestrutura, mineração e exploração ilegal de madeira, colocando em risco a biodiversidade e os modos de vida tradicionais.

Foi somente com a Constituição de 1988 que os direitos dos povos indígenas passaram a ser reconhecidos oficialmente no Brasil. O texto garantiu a proteção de terras, o direito à autodeterminação e destacou a importância dessas comunidades na preservação ambiental e cultural do País.

Ainda assim, a luta pela terra continua sendo central. Muitos territórios indígenas sofrem com invasões e exploração ilegal de recursos naturais. Segundo o Censo 2022, apenas 36,73% da população indígena brasileira vive em Terras Indígenas (TIs) devidamente demarcadas pelo governo federal, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais efetivas.

Enquanto o Dia dos Povos Indígenas, comemorado em 19 de abril, remonta a 1944, o Dia Nacional da Consciência Indígena, em 20 de janeiro, é um símbolo de resistência.

Enaltecendo os povos indígenas

Neste dia especial, é imperativo refletir sobre a grande importância de preservar e enaltecer a trajetória e os valores culturais dos povos indígenas, legítimos habitantes desta região muito antes da chegada dos portugueses.

À CENARIUM, a doutoranda em História pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Izabel Cristine, da etnia Munduruku, afirmou que o 20 de janeiro é uma data que retrata o valor da memória para os povos indígenas. Ela destacou que a data é um meio que auxilia os povos originários a se autoafirmar, por meio do processo de reconhecimento.

“A gente tem pautado muito a autoafirmação que é o processo de se reconhecer, de se identificar enquanto pessoa indígena, tendo em vista os processos de apagamentos e de racismo que nos condicionam e que, em muitos contextos, nos fazem ter vergonha de nós sermos quem somos. Então, a gente fala muito da importância de da autoafirmação, e dentro dessa autoafirmação nós estamos nesse acolhimento e da luta coletiva“, pontuou.

A doutoranda em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Izabel Cristine (Reprodução/Arquivo Pessoal)

A doutoranda também disse que a data é uma forma garantir a afirmação de várias etnias no território brasileiro. “Apesar de tudo, da violência, da negação e da estrutura racista, nós permanecemos aqui através da memória material e imaterial que são encontradas. Então, essa é uma data muito importante porque é uma data de afirmação das diversas identidades indígenas no território brasileiro”, concluiu.

Leia mais: ‘Aldear a política’, entidade faz retrospectiva da luta indígena no Brasil em 2022
Editado por John Britto

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