Fernanda e a mãe, na pele e na fotografia. (Divulgação/ Arquivo pessoal)
Nauzila Campos – Da Revista Cenarium
MANAUS – Do que você mais sente falta? Pessoas, lugares, momentos? Em 30 de janeiro, comemora-se, nacionalmente, o Dia da Saudade. E, para falar melhor do sentimento que mexe com a memória de um jeito quase tátil, a REVISTACENARIUM conversou com duas pessoas que sentem na pele a dor da perda misturada com o orgulho da lembrança de terem vivido o que viveram — e com quem viveram.
Fernanda Delfino, educadora e produtora, perdeu a mãe há quase oito anos. O que ela guarda no peito é agridoce. “É uma linha tênue entre saudade e nostalgia. Daqui a uns dias vai ser meu aniversário e também vai fazer oito anos que ela faleceu. Essa mistura de sentimento é bastante presente nesse período. Tem dias que esqueço a saudade, em outros a saudade é intensa demais, mas não tenho como matar essa saudade. Eu revivo os momentos que tivemos e, logo, a nostalgia aparece”.
Transformar a saudade em linhas na pele pode ser um conforto. Foi isso que Fernanda buscou ao reproduzir uma foto antiga com a mãe no próprio braço. A tatuagem relembra um desses momentos que reacende a convivência com ela, e faz lembrar até daquele cheirinho de mãe — todas têm o seu, não é mesmo?
O jornalista Caio Reis quis, voluntariamente, participar desta reportagem, em um momento muito particular, no qual sentia sua saudade de maneira visceral: justamente dois dias após a morte do avô, seu Elpídio Reis, leu a respeito sobre o Dia da Saudade, no Twitter. Naquela hora, enquanto passava a timeline da rede social, estava deitado na cama dos avós, justamente no lado em que o avô dormia. Hoje, Caio é apoio fundamental para a avó Jalbas Reis, esposa de Elpídio por 60 anos. Mas, mesmo enquanto é força para a família, ele revela suas dores — principalmente, quando visita a casa dos avós, em Vila Velha – ES.
“Por mais que eu saiba que ele está morto, eu sempre acho que ele vai estar lá fora, no quintal, me contando as histórias dele, me chamando de ‘meu netinho’. Ainda mais que eles têm uma cachorrinha que sempre foi muito apegada ao meu avô. Ela seguia meu avô para todo lado. E, agora, ele não vai voltar… E ela não sabe disso. Ela sempre deita no mesmo lugarzinho que ela deitava com meu avô, repete toda a rotina que fazia com ele. Ver todas essas cenas me deixa muito triste”, conta Caio, com a voz embargada.
Caio sempre teve o costume regular de visitar os avós — e, agora, com a missão de confortar a avó, que perdeu o companheiro de 60 anos de vida, as visitas estão ainda mais frequentes. A avó Jalbas ainda não
O senhor Elpídio adorava encontros de família. Ele está de camisa verde e chapéu branco, enquanto Caio veste uma camisa listrada (Acervo pessoal)
Caio sempre teve o costume regular de visitar os avós — e, agora, com a missão de confortar a avó, que perdeu o companheiro de 60 anos de vida, as visitas estão ainda mais frequentes. A avó Jalbas ainda não consegue dormir no quarto que era do casal. Sua forma de lidar com a saudade é diferente da do neto Caio, que se sente mais perto do avô quando está no quarto deles.
Dona Jalbas, viúva de Elpídio, e o neto Caio (Acervo pessoal)
A saudade de um futuro inalcançável
Quando alguém se vai, sem que tudo o que se planejou com essa pessoa tenha sido feito em vida, é impossível não imaginar como certos momentos seriam se a pessoa amada ainda estivesse viva. Fernanda, que perdeu a mãe precocemente, pensa nisso com frequência. “Penso muito nos momentos que não partilhamos. Quando passei no vestibular, me formei, imagino como seria se ela tivesse vivido isso comigo. A saudade do que não aconteceu dói bastante também”.
Caio também imagina… E não vai muito longe. Os momentos mais simples apertam mais o coração. “Do lado da cama deles tem uma cadeira onde ele sempre sentava para dormir de tarde. Eu fui dormir pedindo muito para acordar no meio da noite e vê-lo sentado na cadeira”.
Para os especialistas, a saudade é um sentimento humano, faz parte da vida e todos nós sentiremos saudades em algum momento. Mas, é preciso cautela ao lidar com isso. A doutora em psicologia, Gisele Resende, alerta que “ter a foto ou um objeto da pessoa que partiu pode ser um recurso para lidar com a perda, mas é preciso cuidado! Se a saudade se transformar em dor e ficar muito intensa a ponto de influenciar no dia a dia, o melhor é procurar ajuda médica e psicológica. É preciso lidar com o sentimento para não adoecer. Dar novos rumos e sentidos para a existência”.
Mas, como conceituar o que é tão difícil de explicar? E como lidar?
“É um sentimento que reúne um misto de sentimentos: alegrias, por ter vivido momentos bons; tristeza, por não ter mais o ‘objeto’ (pessoas e/ou situações vivenciadas); e vontade de viver novamente, o que pode vir acompanhada de uma certa ansiedade. É um carinho, pelas lembranças de momentos que foram importantes em nossas vidas e que temos o desejo de resgatar de algum modo. E, como lidar com a saudade? Entendendo as situações. Apesar de nem sempre termos o domínio de tudo, por exemplo, a saudade de alguém que se foi, que faleceu, a aceitação e a compreensão da situação é uma forma de lidar melhor com os sentimentos e trazer à memória os bons momentos, as alegrias, para que a saudade tenha um sabor mais agradável”, conclui a psicóloga.
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