5% para o meio ambiente, 5% para o futuro!


Por: Joel Araújo*

19 de novembro de 2025

Na 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente (CNMA), a sociedade brasileira apontou com clareza uma prioridade: destinar 5% dos recursos públicos à política ambiental e ao enfrentamento da mudança do clima. A proposta, a mais votada do encontro, com 352 apontamentos, é um chamamento para a mobilização da sociedade neste momento decisivo da realização da COP30 na Amazônia.

É vexatória a forma como a pasta é tratada nos governos, sempre ficando em segundo e terceiro planos. Muitas secretarias nem sede têm e, muito menos, servidores — o que inviabiliza o seu funcionamento real. Enquanto isso, áreas como a publicidade recebem até 500% a mais.

Uma saída é incluir a proposta na Constituição Federal com um Projeto de Emenda à Constituição (PEC), nos moldes do que já ocorre com saúde e educação, que contam com percentuais mínimos obrigatórios. Isso impediria que o orçamento para o meio ambiente sofresse com as intempéries ideológicas de cada governo, que aumentam e diminuem esse recurso de acordo com seus interesses.

O resultado dessa negligência é visível: aumento do desmatamento, avanço do garimpo ilegal, queimadas fora de controle e comunidades inteiras expostas à vulnerabilidade climática. Nossos cidadãos são as maiores vítimas, sofrendo com as problemáticas advindas da falta de políticas para o meio ambiente, especialmente os mais vulneráveis, como povos indígenas, ribeirinhos e moradores de encostas e áreas alagáveis – todos impactados por problemas ligados ao lixo, poluição e contaminação de ambientes aquáticos, fogo e fumaça, entre tantos outros.

A ideia é que a gestão ambiental tenha estabilidade, previsibilidade e seja fortalecida nas diversas formas de ação em todas as esferas, particularmente no funcionamento das secretarias municipais, estaduais e no Ministério do Meio Ambiente, além de políticas e ações ambientais intrassetoriais, como a educação ambiental e a gestão de resíduos sólidos. Por outro lado, a medida garantiria, de forma assertiva e inequívoca, as ações de fiscalização, monitoramento, recuperação de florestas desmatadas ou degradadas e ações de desenvolvimento sustentável, conservação de espécies e contratação de pessoal. Olha aí a geração de trabalho e renda!

O que não pode acontecer é que essa perspectiva se torne mais um saco sem fundo de recursos públicos, onde haja desvios para interesses pessoais, políticos e de grupos econômicos. Por isso, o Ministério Público precisa ser parte integrante da execução, garantindo a transparência na aplicação.

O Brasil tem uma posição única no cenário global. Somos guardiões da maior floresta tropical do mundo e detentores de um potencial incomparável de energias renováveis e de soluções baseadas na sociobiodiversidade. Ao mesmo tempo, somos também um dos países mais vulneráveis à mudança climática, com eventos extremos cada vez mais frequentes: enchentes, secas prolongadas, deslizamentos e crises de abastecimento e de fumaça, como os que atingiram Manaus em 2023 e 2024 ou o Rio Grande do Sul, com perdas irreparáveis, inclusive de vidas humanas. Não se trata, portanto, de luxo ou de pauta ideológica: investir em meio ambiente é investir na segurança e no futuro das pessoas e da economia do Brasil e do mundo.

Assumir o compromisso de destinar 5% do orçamento à agenda ambiental é, em última instância, reconhecer que a sobrevivência coletiva está em jogo. É dar um passo decisivo para transformar o discurso em prática, a promessa em ação concreta. Cabe agora ao Congresso Nacional e ao Executivo ouvir o que a sociedade deliberou e responder à altura da crise que vivemos.

Agora o desafio é maior! A “Proposta de Manaus” como ouso chamar foi lançada na plataforma da COP30 para que seja incluída como iniciativa do Brasil, tornando-se um dos nossos compromissos internacionais. Qualquer cidadão pode apoiar, votando na proposta, deixando comentários e contribuições. Além disso, pode compartilhar com outras pessoas, fortalecendo a luta pelo financiamento da gestão ambiental.

Segue o link da proposta “5% para o meio ambiente” na COP30: https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/processes/cop30/f/1346/proposals/62941

A 5ª CNMA aprovou mais 9 propostas que também devem ser pautadas, devido à relevância de suas temáticas: incêndios florestais, educação ambiental, justiça climática, transformação ecológica e adaptação. Todas estão à disposição de nossos mandatários do Legislativo e Executivo para se tornarem políticas públicas e leis.

Nascida das mentes e corpos da maior floresta tropical do mundo, tendo sido aprovada nas conferências municipal de Manaus, estadual e livres, até chegar à nacional, com o respaldo das lideranças ambientais, comunitárias e indígenas, através da Associação dos Movimentos Ambientais do Amazonas (AMA), a proposta vencedora precisa de apoiamento em todas as esferas da população brasileira e, muito mais, de políticos que possam encampá-la, levando o debate a todas as casas legislativas e a todos os cantos do nosso país – e, quem sabe, até do mundo.

(*)Natural de Parintins, no Amazonas, Joel Araújo é formado em Licenciatura Plena em Geografia, especialista em Gestão Política Ambiental e atua como analista Ambiental no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), onde, desde janeiro de 2023, ocupa o cargo de superintendente no Amazonas. Ao longo de sua trajetória no órgão, Joel Araújo já exerceu funções de destaque, tendo sido chefe da Unidade de Parintins, chefe do Núcleo de Fiscalização e coordenador de Operações.

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