A captura dos Partidos Políticos e a sem-vergonhice
Por: Walmir de Albuquerque Barbosa
23 de novembro de 2025O que fazer com um Parlamento tão indecoroso, que afronta os mais comezinhos princípios do bom senso? Fôssemos um regime Parlamentarista, seria dissolvido, uma nova eleição seria convocada e marcada para recompor a casa, ajustá-la à vontade do povo, dentro dos ditames da lei e a favor da ética parlamentar e do bem da Nação. Não pode! Nosso regime de governo é Presidencialista. E no mais, esse parlamento é a expressão da vontade do povo! Foi o povo que quis e agora o aguente! Por lá transitam figuras estranhas e insanas: uns com chapéu na cabeça; outros com bíblias na mão; vários armados de pistolas e ódio ameaçando apertar o gatilho; outros com tiaras ou perucas na cabeça fazendo troça; outros, ainda, embrulhados em bandeiras do Brasil ou de outros países; um bando de adultos com esparadrapos na boca para não pronunciar os palavrões chulos da nossa língua. Não sei se são assim na vida real e fora do Congresso ou, apenas, “representam” em uma peça bufa.
Certo é que, pelo andar da carruagem, não mudaremos o comportamento e as convicções ideológicas de aproximadamente um terço de Deputados e Senadores. Eles detém uma grande fração de poder. E assim, para cumprir o seu destino e o nosso, saem de seus apartamentos funcionais, mantidos pelo povo, com o fito de fazer arruaças no Congresso, desonrar o mandato, distratar colegas e autoridades que convidam ou convocam para prestar esclarecimentos ou contas de seus atos no exercício da função pública. É um levante todos os dias contra a lei, os bons costumes e a sanidade dos que discordam dessas condutas.
Por pressão ou pusilanimidade, vários colegas cedem votos e formam maiorias e aprovam as mais estapafúrdias “leis” que terminarão no colo do Supremo Tribunal Federal, já ameaçado em suas prerrogativas de dizer a última palavra, nesses casos. Ou o que é mais grave: criar problemas de governabilidade que resultam em prejuízo para todos os cidadãos. Uns dizem que esse é mesmo o jogo nos Parlamentos. Concordando ou não, tudo isso é verdade vista a olho nu, com declarações contundentes e cenas explícitas de traição, de pugilismo grotesco no plenário e nas Comissões Parlamentares. No entanto, não é um privilégio só nosso. Tem método, e não é somente o que parece ser! A desfaçatez é universal, a nossa nos pertence em consequências. O Parlamentarismo não tem sido a solução para resolver tais problemas; o federalismo, no nosso caso, se espedaça no egoísmo e na prepotência dos maiores negando respeito aos menores estados e facilitando a criação de um centro poderoso e uma periferia onde se concentra a subalternidade. Anomia social? Pode até ser! Parece, também, ser coisa muito pior, que não conseguimos detectar com clareza. Mas, é disso é que precisamos tratar.
O boicote às políticas públicas contra as desigualdades arraigadas à nossa formação social sempre foram o meio mais usual das elites perpetuarem o status quo. E isso se fez sempre à luz do dia, naturalizando as relações de trabalho desiguais e as chamadas relações sociais de convivência, todas estigmatizadas na figura “dos que mandam” e “dos que obedecem”, formando a hierarquia das subalternidades. A ostentação dos ricos nem sempre foi problema, tanto é que até esquecemos de cobrar-lhes as origens da riqueza ostentada e muitos preferem até justificar isso contentando-se com o epíteto de que o “mundo sempre foi dos mais espertos”. A ideia de fazer uso do poder, do prestígio dos cargos ocupados em benefício próprio ou do bando que representa, nem sempre causou asco e há os que esperam a sua vez para repetir os feitos de antecessores com maior esmero. Impedir a livre concorrência sempre foi um artifício pouco contestado entre os privilegiados, é assim “que a roda gira”. E o “jeitinho brasileiro” virou marca identitária entre sujeitos de conduta errática, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas para acomodar o nepotismo e a corrupção.
Suspendendo a beirada do lençol, tenho visões pavorosas: a “clava forte” da tal “Teoria do Destino Manifesto”; a “Teologia do Domínio” e do “Fascismo Católico” ressurgentes; o submundo das milícias e do tráfico, associados aos rentistas, herdeiros do tráfico negreiro, hoje, na Faria Lima, capturando os partidos políticos do Estado Laico Brasileiro. Não sendo miragem, os que primam pela decência precisam se manifestar. O resto é oportunismo e sem-vergonhice mesmo!