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‘A celebração do nosso casamento foi um ato de resistência’, diz gastróloga sobre união com esposa em igreja batista
Casamento reuniu familiares e amigos do casal. (Divulgação)
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12 de dezembro de 2021
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS – “Ficamos muito felizes em recebermos essas energias positivas com muito carinho e amor. Sinto que, de certa forma, a celebração do nosso casamento também foi um ato de resistência”. A declaração é da gastróloga Tuane Alves, recém-casada com a representante de atendimento Érika Ribeiro, ambas de 29 anos, em cerimônia realizada no último dia 4 de dezembro, em Maceió, Alagoas. O casamento realizado pela pastora e teóloga Odja Barros, da Igreja Batista, tem repercutido nas redes sociais por ser uma das primeiras celebrações de união entre pessoas do mesmo sexo conduzida por pastor batista.
Com seis anos de relacionamento, Tuane e Érica, em entrevista à CENARIUM, contam que os sentimentos de responsabilidade e satisfação, após viver a tão sonhada celebração se equiparam. De acordo com elas, ao verem o tamanho da repercussão por conseguirem realizar a união em tempos tão hostis, principalmente para as pessoas consideradas minorias, só as deixou ainda mais felizes, por trazer representatividade e encorajamento.
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“Saber que algo que foi feito pra nós, por nós e em prol do nosso amor servirá de encorajamento para tantos casais LGBTQIA+ traz responsabilidade, mas é responsabilidade de algo que já defendíamos, já disputávamos essa narrativa, desde sempre. Principalmente a gente, que veio de um contexto religioso agressivo, de como foi construída toda a nossa história e de como foi fundamental, para nós, essa acolhida por parte de uma comunidade religiosa, revela Tuane.
Integradas na juventude da Igreja Batista do Pinheiro, elas falam em relação à escolha da pastora Odja Barros para conduzir a cerimônia. Tuane revela que ela sempre foi o primeiro nome, desde a decisão de formalizar a união, por enxergarem nela uma narrativa de mulher muito potente e de relevância nas lutas sociais.
“Nossa admiração pela pastorinha (maneira carinhosa do casal se reportar à pastora), se deu desde que tivemos o primeiro contato com ela. Desde que nós duas decidimos nos casar em uma cerimônia religiosa, não vinha em nossas mentes outro nome a não ser o dela. Para nós, seria motivo de muita honra e, sobretudo, representatividade. Além de tudo isso, ela traz consigo a força do evangelho, e defende, de maneira muito honrosa e inteligente, o que ela acredita ser a proposta de Cristo, que também é o que nós acreditamos”, considera o casal.
Conhecida por ser uma pastora feminista e aliada às causas LGTBQIA+, Odja Barros também comemorou o momento ímpar. Vale ressaltar que a designação batista é conhecida por ser, dentre as denominações existentes, uma das mais tradicionais entre as igrejas evangélicas.
“Alegria, honra e privilégio celebrar o amor dessas duas mulheres incríveis. O verdadeiro amor lança fora o medo”, disse a pastora, nas redes sociais, que, entre poucas críticas, recebeu diversos comentários de apoio e congratulações pelo feito.
“Por mais pastoras evangélicas, corajosas e afirmativas como Odja. Que alegria viver nessa geração ao lado de pessoas como você”, comentou um seguidor nas redes sociais.
Em entrevista ao site UOL, Odja afirmou ser ciente sobre as constantes lutas da comunidade LGBTQIA+ e sobre a longa jornada das mulheres em relação às conquistas que vêm com mais dificuldade. De acordo com a pastora, o ato simbolizou, de certo modo, “momento novo e histórico na tradição das igrejas batistas no Brasil”.
“Senti frio na barriga de emoção, de saber que estava vivendo algo que é fruto de muita luta. Como pastora feminista, queria muito que minha primeira celebração de casamento igualitário fosse com duas mulheres”, compartilhou a pastora em entrevista ao site UOL.
Compartilhando amor
Na rede social Instagram, o casal compartilhou a liveda união e denominaram como o dia mais importante de suas vidas. “Nosso casamento para partilhar com vocês que não puderam estar juntos conosco, tá aí a live do dia mais importante das nossas vidas. Estamos aqui espalhando o amor, pois acreditamos que ele tem o poder de mudar o mundo. Apreciem a beleza do mundo, apreciem a beleza da diversidade”, postaram as recém-casadas.
“Acho que serviremos para mostrar a possibilidade de ser LGBTQIA+ e, ainda assim, não perdemos o direito de ter nosso amor legitimado dentro das nossas crenças. Espero que essa voz ecoe, para que outras pessoas como eu, sintam-se no direito de ter o amor de Cristo respeitando a diversidade do “SER”, finaliza o casal.
Direitos conquistados
Em maio deste ano, comemorou-se os dez anos que o Supremo Tribunal Federal (STF), por unanimidade, reconheceu o direito de união entre pessoas do mesmo sexo. A data, 5 de maio de 2011, tornou-se importante e, de lá para cá, vem sendo celebrada por muitos casais homoafetivos.
Segundo a Associação dos Notários e Registradores do Brasil, até maio, mais de 21 mil casais homoafetivos oficializaram a união estável no País. No Amazonas, por exemplo, em 2019, foram 103 enlaces oficializados.
De 2011 até o ano passado, no Estado, o crescimento de união estável foi de 260%. Mesmo com muita luta e o reconhecimento pelo STF, em 2011, apenas em maio de 2013, por meio da Resolução 175, publicada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é que a união homoafetiva passou a valer no Brasil.
Isso porque, até então, os cartórios brasileiros não reconheciam como legítima a união e alegavam a falta de uma regulamentação oficial. Após essa regulamentação, os casais do mesmo sexo passaram a ter os mesmos direitos que casais heterossexuais.
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