A COP é nossa
Por: Alex Carvalho*
23 de novembro de 2025A realização da Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em Belém, tem sido frequentemente reduzida à preocupação sobre como acomodar 60 mil pessoas durante pouco mais de duas semanas. Para muitos, parece um desafio intransponível. Mas arrisco dizer: essa percepção só existe para quem não conhece de verdade a Amazônia. Ou melhor, para quem não conhece quem faz a Amazônia.
Estamos falando de uma região onde vivem 29 milhões de pessoas, representando uma das maiores diversidades étnicas e culturais do planeta. Aqui, convivem saberes tradicionais do extrativismo com o trabalho inovador em tecnologias. É um bioma que preserva impressionantes 88% de sua cobertura verde – um patrimônio inestimável para o Brasil e para o mundo.
O Pará, estado anfitrião da COP30, por exemplo, conta com cerca de 98% da energia gerada de fontes renováveis, sendo 97% provenientes de hidrelétricas e apenas 1,48% de origem fóssil.
No Brasil, 87% da matriz energética produzida é renovável, enquanto que a média mundial de energia renovável é de apenas 26%.

Esses números reforçam o papel do Pará como líder em sustentabilidade energética.
Nós, do setor produtivo industrial paraense, temos consciência da importância de nos inserirmos nas
discussões, demonstrar ao Brasil e ao mundo nossas boas práticas e propostas de soluções e caminhos a seguir. Reconhecemos que existem melhorias que podem e devem, pela urgência climática, ser adotadas.
Justamente por isso estamos à frente de um movimento que busca construir
uma agenda sólida e transformadora, baseada em pilares fundamentais: sociobioeconomia, transição
energética, rastreabilidade, economia circular e infraestrutura. Esse movimento, batizado de Jornada COP+, tem promovido encontros estratégicos com representantes da indústria e de diversos setores da sociedade. Desses encontros, surgem ferramentas concretas para a construção de um futuro mais sustentável, como programas, plataformas de monitoramento e pesquisas. É um legado técnico e de conhecimento que está a serviço de uma transição energética justa e do crescimento sustentável.
No entanto, o debate público sobre a COP30 tem se concentrado quase exclusivamente em um único ponto: a suposta falta de leitos para acomodar os participantes. Essa narrativa é prejudicial e desvia o foco do que realmente importa: a agenda climática. Mais do que isso, ela levanta suspeitas sobre uma tentativa deliberada de enfraquecer a primeira COP realizada no Brasil – justamente por estar sendo sediada na Amazônia.
É urgente redirecionar esse discurso e destacar os esforços em andamento para garantir a infraestrutura necessária ao evento.
Os governos Federal, Estadual e Municipal estão implementando alternativas, como o uso de navios, escolas, vilas militares e tendas climatizadas para acomodar os visitantes em Belém e em cidades circunvizinhas.
O setor hoteleiro também está ofertando novos leitos. Uma plataforma digital para gerenciar ofertas de hospedagem será lançada em breve, facilitando o planejamento e a organização logística.
O Procon já iniciou ações preventivas e educativas para garantir preços justos em hospedagens e acomodações temporárias. Haverá fiscalização rigorosa para coibir práticas abusivas, como as registradas durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.
Essas medidas demonstram o compromisso das autoridades em superar os desafios logísticos. É hora de acreditar na capacidade do Pará e da Amazônia de sediar um evento dessa magnitude e de trabalhar pelo que realmente interessa: a pauta climática.
Vale lembrar que, em outras edições da COP, questões de infraestrutura também existiram, mas nunca dominaram o debate. Na COP27, realizada em Sharm El Sheikh, no Egito, por exemplo, as discussões prévias giraram em torno dos impactos das mudanças climáticas no rio Nilo. Durante o evento, faltou água e comida para todo mundo e longas filas se formaram. Durante dois dias, os participantes tiveram que tentar matar a sede com refrigerante.
E, ainda assim, o foco
permaneceu na agenda climática. Afinal, quem frequenta COP sabe que tem seus “perrengues”, como se diz.
Por que, então, a COP30 no Brasil tem sido reduzida a uma questão de hospedagem? É preciso refletir sobre isso e combater essa narrativa com informações claras e transparentes.
A realização da COP30 em Belém é também, um ato de reparação histórica. O Brasil e o mundo nos devem este momento de holofotes – para compreenderem nossos desafios e, fundamentalmente, entenderem que qualquer modelo de desenvolvimento colonialista perpetuará o desequilíbrio ambiental e socioeconômico muito presente em toda a Amazônia.
Urge ações conjuntas, soluções e avanços!
Precisamos de apoio, financiamento e atenção internacional para ações que sejam realmente capazes de transformar a realidade atual e que, realmente (de novo) atendam aos interesses da Amazônia, indo além de extensos relatórios que pouco dizem e tendo mais resultados concretos e efetivos.
É disso que queremos falar.
Vamos, definitivamente, mudar o discurso. Vai ter sim COP na Amazônia! Estamos preparados para os encontros. Podem vir!