A diversidade da maternidade: amor, carinho e acolhimento são as bases para mães LGBTQIA+

Iara Fernandes (à esquerdar), com as filhas Sarah e Sofia (ao centro) e Karen Arruda (à direita) (Arquivo pessoal)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS — A missão de maternar traz, diariamente, desafios e dificuldades que são superados com garra, dedicação e muito amor. Em várias famílias, a maternidade é permeada pela diversidade e fica de fora dos padrões pré-estabelecidos socialmente, mas não deixa de dar amor e acolhimento. É nisso que se inspiram as mães da comunidade LGBTQIA+ (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, trans, queers, intersexos, assexuais e outros).

Assistente de projeto da casa de acolhimento LGBT+ Casa Miga, Iara Fernandes, ao lado da companheira Karen Arruda, sabe o que é lidar com esses desafios no cotidiano. Juntas há quatro anos, elas criam seis filhos. Duas meninas, de 7 e 16 anos, filhas biológicas. Mas os outro quatro, já adultos, são filhos “de coração”. O desafio fica ainda maior, mas não impossível, pelo fato dos filhos “de coração” serem trans e travestis e dos preconceitos enfrentados, como contou ela à CENARIUM.

“A gente não consegue explicar muito essas coisas do coração”, contou ela, com dificuldade em encontrar as palavras certas. “A gente sabe que existem os problemas da sociedade, mas você estar perto, vivendo, presenciando, muda as coisas, porque uma coisa é a gente saber, outra é viver de perto esses problemas. Sentir a dor dessas pessoas, o abandono, o descaso. A gente foi se apegando”.

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Sobre a criação da mais nova ao lado de outra mulher, Iara conta que o começo foi difícil, mas o instinto materno de proteger de ataques a faz lutar.

“O pai delas não aceitava muito bem e as famílias também. Por mais que alguns não expressem para gente o que realmente pensam e acham sobre a situação, a gente sente os olhares, ouve uma coisa aqui e outra ali que acaba revelando o que as pessoas sentem. Tem as divergências dentro de casa, porque eu sou a mãe biológica e eu sou muito defensora. E como eu quero que elas sejam criadas, educadas, às vezes também é um problema. Mas hoje já melhorou muito”, destacou.

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Karen e Iara estão juntas há quatro anos e são mães de seis filhos (Arquivo pessoal)

Mães por amor

Karen Arruda, diretora de projeto da Casa Miga e presidente da Associação Manifesta LGBTQIA+, compartilha, além da vida, o trabalho ao lado da companheira. Ela contou à CENARIUM como foi o acolhimento dos filhos já adultos, que têm entre 23 e 36 anos.

“A gente acabou encontrando pessoas trans que, de alguma forma, precisavam de ajuda, não tinham condições de se sustentar, pagar um aluguel. Não tinham opção de ir para casa de familiares, pai e mãe, porque era uma situação até violenta. Nós acabamos acolhendo e abrimos as portas de casa. São três travestis e um menino trans”, explicou, ao contar como se tornaram mães de mais quatro filhos.

Dos filhos mais velhos, o primeiro foi acolhido em setembro do ano passado e os outros vieram na sucessão: outro em novembro, e outras duas chegaram em janeiro e fevereiro. “Nós formamos um laço de família, porque assim como a gente ajuda eles, eles também ajudam muito a gente. Ficou um laço bem fortalecido, mesmo que eles saiam e sigam com a vida, com o canto deles, o laço de família fica. Nós todos não somos aceitos 100% pelas nossas famílias, então, na vida, a gente encontra pessoas que se tornam família”, acrescentou ainda.

Ensinamento para a vida

Sobre a criação das filhas em uma família não tradicional, Iara conta que o objetivo diário é ensiná-las a respeitar o próximo. “Acredito muito nas verdades das pessoas, eu tento não reprimi-las, não deixar de falar sobre o que é viver nessa comunidade LGBT. Elas estão bem esclarecidas nessas coisas”, disse.

Karen lembrou que a relação com a Sarah e Sofia é de cuidado, carinho e de conversa. Segundo ela, a relação com a esposa nunca precisou ser explicada e o relacionamento com os outros irmãos é natural.

“Elas entendem, porque elas já são acostumadas com o jeito que nós somos. Nós somos muito de ajudar, e elas participam e ajudam. Elas os veem como irmãos e elas têm esse laço também, têm esse apego. Buscamos ensinar para elas olharem o ser humano como ser humano, independente de qualquer outra diferença que essa pessoa possa ter”, concluiu Karen.

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