A face étnica na Economia do Amazonas

Com mais de 180 quilos na cabeça e nas costas, a cena épica dos estivadores lembra a construção das grandes pirâmides. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)
Marcley Silva, 30 anos

“Não escolhi ser estivador porque gosto. Você acha que é fácil carregar 180 quilos na cabeça e nas costas todos os dias?”

Eduardo Sabariego, 30 anos

Texto: Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium
Imagens: Ricardo Oliveira

MANAUS – “Não escolhi ser estivador porque gosto. A escolha veio da necessidade de alimentar minha família e de sobreviver neste Brasil de desigualdades. Você acha que é fácil carregar 180 quilos na cabeça e nas costas todos os dias?”. O dramático depoimento é do amazonense Marcley Nunes da Silva, de 30 anos, que trabalha como estivador no Porto da Manaus Moderna, zona Centro-Sul de Manaus, há dez anos.

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Essa é uma das histórias que você vai conhecer ao longo desta reportagem. A REVISTA CENARIUM passou cinco dias no Porto da Manaus Moderna, localizado no centro histórico da cidade, acompanhando o dia a dia destes estivadores, que a maioria das pessoas não sabe ou ignora a existência deles. Entretanto, eles são peças importantes para movimentar a economia do Estado ou quiçá, do País. É deles, a tarefa de carregar e descarregar as mercadorias dos barcos oriundos dos beiradões dos rios da Amazônia para as barracas da Feira da Banana, do Mercado Municipal Adolpho Lisboa e Feira Manaus Moderna. Parte das hortaliças, frutas e verduras comercializadas na capital amazonense é comprada nesses locais.

O intenso vai e vem de carga e descarga para o abastecimento de mercados e feiras do Centro de Manaus começa nas primeiras horas da manhã. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

No quinto e último dia, nossa equipe chegou ao Porto da Manaus Moderna, em Manaus, por volta das 5h20. O local estava bem movimentado, dezenas de pessoas, entre feirantes e estivadores, dividiam um pequeno espaço na plataforma onde os barcos atracam. O local, além de pequeno, para acessá-lo é necessário descer duas tábuas em formato de ponte. Quando o barco atracou, às 5h30, os passageiros começaram a desembarcar. Em poucos minutos, uma aglomeração de estivadores se dividia em equipes, formando uma linha de produção. Todos com turbantes na cabeça e de forma organizada na lateral da embarcação Tribo de Manasse’s N2A, oriunda do município de Beruri, no Alto Solimões (a 249 quilômetros de Manaus) para iniciar o árduo trabalho de descarga das mercadorias.

É um verdadeiro sobe e desce de homens musculosos e suados, com cargas pesadas, de jerimum [abóbora], macaxeira [aipim], hortaliças, frutas, entre outras, na cabeça e nas costas, faça chuva ou sol, seja dia ou noite. A ação lembra uma construção de pirâmide ou uma Torre de Babel. Além da força física, a profissão de estivador exige organização racional das mercadorias, sem danificar os produtos durante o transporte. Na época da vazante dos rios, a situação é ainda pior porque formam-se praias e o trajeto entre o atracamento dos barcos até a feira, fica ainda mais distante e mais cansativo.

Atualmente, grande parte desta atividade está automatizada em diferentes regiões do Brasil. No entanto, no Amazonas, o trabalho ainda é hercúleo. Mesmo assim, o número de estivadores informais é grande. O Porto da Manaus Moderna tem, aproximadamente, sete plataformas e cada uma delas concentra inúmeros destes trabalhadores que fazem de tudo.

Considerado um trabalho informal e perigoso, a rotina também é insalubre e estressante, já que as condições de trabalho quase sempre não são boas, podendo ocasionar acidentes. Até a primeira metade do Século 20, cabia aos estivadores a tarefa de embarcar a carga nos navios transportando parcela dela nas costas, frequentemente embaladas em sacos de 60 até 180 quilos. 

Trabalho informal do Amazonas

A quantidade de trabalhadores informais no Estado do Amazonas é a maior do País. Enquanto a taxa no Brasil é de 40,9%, na capital amazonense, 58,35% dos ocupados trabalham em regime informal. Os dados referem-se ao último trimestre de 2019, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em fevereiro deste ano.

Reconhecida como uma profissão informal, a função dos estivadores é essencial para o comércio das grandes cidades. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Segundo dados apresentados pelo IBGE, o Estado possui 1.657 milhão de pessoas na força de trabalho, destes, 967 mil estão na informalidade. No Brasil, são 94.552 milhões na força de trabalho e 38.735 milhões sem carteira assinada ou CNPJ. Os números referem-se aos trabalhadores que estão ocupados nos grupos de setor privado, por conta própria, empregadores, trabalhadores domésticos e trabalhador familiar auxiliar.

Por informalidade, segundo IBGE, se entende o empregado no setor privado (sem carteira assinada) ou trabalhador por Conta-Própria (sem CNPJ e Sem Contribuição para Previdência Oficial) ou empregadores (sem CNPJ e Sem Contribuição para Previdência Oficial) ou trabalhador doméstico (sem carteira de trabalho assinada) ou trabalhador familiar auxiliar.

De acordo com um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os trabalhadores por conta própria receberam efetivamente apenas 60% do que habitualmente recebiam, com rendimento médio de apenas R$ 1,09 mil. Já os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada receberam 24% a menos.

O ponto de vista sociológico da profissão

Para o professor de sociologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e sociólogo, Luiz Antônio Nascimento, o trabalho dos estivadores é uma expressão máxima da força de trabalho em geral e deveria ser tratada como outras profissões. Segundo o sociólogo, a economia e a sociedade precisam dessa força de trabalho.

“Mas ao mesmo tempo, a remuneração desses trabalhadores, no Brasil está entre as mais miseráveis do mundo. O mais emblemático é você pensar que tanto o patrão, empresários de modo geral, como a sociedade e o próprio trabalhador consideram a baixa remuneração justa. Mas, não é. É interessante observar também que enquanto mais esforço físico desses trabalhadores, menos serão as remunerações. Por outro lado, fazendo um comparativo, você pega o Judiciário como exemplo, que recebe salários magníficos, porém, com desempenho e produtividade extremamente baixos e a sociedade acha isso normal”, critica o professor. 

Em relação à diária de trabalho dos estivadores do Porto da Manaus Moderna, Luiz Antônio salienta que há pontos importantes a validar. 

“O primeiro deles, é que se esses trabalhadores ganham em média R$ 100 a R$ 150 em uma jornada de trabalho de 10 a 12 horas com esforço hercúleo e que degrada a saúde deles de forma imensurável. Lembrando que os estivadores exercem trabalho avulso, e quando recebem a diária de trabalho, não pagam a previdência social, ficando desprotegidos. Em um eventual acidente de trabalho, esse trabalhador ficará semanas e dias sem receber absolutamente nada e sem assistência social e o mesmo se aplica do ponto de vista da aposentadoria, pois eles não têm condições de se aposentar”, assegura o sociólogo. 

“Antigamente, eles tinham acesso ao beneficiamento contínuo, que era concedido aos maiores de 60 anos, mas que o ex-presidente Michel Temer e o então presidente Jair Bolsonaro acabaram com a reforma da previdência. Agora, esses trabalhadores, quando o corpo deles não aguentar mais esse esforço, eles serão descartados como objetos. Por outro lado, diferente de outras regiões, onde se tem sindicatos organizados, que faz a assistência social, dá apoio e defende esses trabalhadores, aqui no Estado do Amazonas, isso não existe, ou seja, não há um sindicato comprometido com essa força de trabalho avulsa”, alerta Luiz Antônio.

O sociólogo destaca ainda que mão de obra desqualificada não é um acaso ou apenas de responsabilidade e culpa do trabalhador. Ela é uma consequência de uma estratégia do capitalismo que precisa dessa mão de obra barata. 

“Quando o Estado não oferece educação para milhões de pessoas, ou oferece uma educação miserável, onde as crianças muitas vezes terminam o ensino fundamental sem saber escrever ou fazer as quatro operações matemáticas, como deveriam, isso não é resultado de uma negligência do pai ou da mãe da criança. Mas, é uma estratégica da dinâmica do capitalismo que precisa dessa mão de obra, abundante e barata. Enquanto mais vulnerável e frágil for as condições desses trabalhadores, mais barato será a remuneração”, salienta o professor. 

“Um exemplo disso, vimos recentemente, o caso dos aplicativos de comida que durante o período de pandemia, acumularam um volume enorme de dinheiro. Enquanto os entregadores, desses aplicativos, nunca ficaram tão expostos e ao mesmo tempo, tão vilipendiados. Você já imaginou, ele carregar comida para cima e para baixo e não ter comida para ele próprio e para a família dele? ou, o que é para esse trabalhador sentir o cheiro de uma pizza e não poder comer uma? ou sentir o cheiro de um hambúrguer, ou de uma picanha e não poder comprar? que sociedade a gente construiu que cria esse tipo de sujeito?.O trabalhador da estiva, não é diferente. Ele carrega mercadorias e não tem como levar comida para casa, é dolorido”, finaliza o sociólogo.

Quem são os estivadores

Enquanto falava com a REVISTA CENARIUM, o simpático e tímido, Marcley da Silva, estava com os olhos voltados, ora para a embarcação que atracava no porto, ora para as minhas perguntas. Segundo ele, é estivador porque não teve oportunidade de estudar. Ainda criança, precisava ajudar, juntamente com os outros dois irmãos, a mãe, na roça. Logo depois, a família mudou para o município de Nova Olinda do Norte, (a 134 quilômetros de Manaus), onde vive até hoje. Entre idas e vindas, Marcley decidiu ficar em Manaus.

Com expressão forte no rosto e olhar profundo, Marcley Silva reconhece trabalho árduo, mas diz ser recompensador. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

“Não tive muitas oportunidades na vida. Trabalho desde que me entendo por gente. Já fiz de tudo que você possa imaginar. Mas nenhum trabalho paga melhor do que este como estivador, minha renda diária varia de R$ 100 a R$ 500, de acordo com a carga, a quantidade de barcos que atraca na plataforma e com a época do ano. Falo todos os dias para os meus filhos estudarem para que eles não tenham o mesmo trabalho braçal que eu tenho. Chego em casa todos os dias ‘moído’, mas quando olho em volta e vejo meus filhos tendo o que comer, onde morar, por mais humilde que seja, e onde estudar, esqueço a dor, durmo e no dia seguinte estou aqui novamente”, afirma o estivador.

Quando questionado sobre qual mensagem diria para ele daqui a cinco anos e qual profissão gostaria de ter tido caso tivesse estudado, Marcley é enfático. “Toco teclado na igreja e quero continuar fazendo isso. A mensagem que eu deixaria para mim é: ‘não desistir de acreditar em mim’. Mas confesso que sou feliz fazendo o que faço hoje. Em relação à profissão, eu seria músico profissional”, finaliza Marcley. 

O venezuelano Michael Madri el Tigre, de 28 anos, deixou há três anos a cidade de Puerta La Cru (a cinco horas de Caracas) fugindo da situação de miséria e perseguição política do País. Segundo Michael, a viagem até o Brasil foi muito difícil. Foram muitos dias andando no sol e calor, com sede e com fome. Na Venezuela, Michael trabalhava como pasteleiro, ocupação que até buscou trabalhar, em Manaus, mas por não ter documentos brasileiro e por não falar português, não conseguiu. Foi na estiva que ele conseguiu uma oportunidade e a partir daí, se estabelecer em Manaus.

Após dias andando sob sol e chuva, venezuelano Michael Madri el Tigre encontrou em Manaus a chance para o sustento de sua família. (Ricardo Oliveira/ Ricardo Oliveira)

“Quando cheguei no Brasil esperava trabalhar em algo melhor, mesmo sabendo que era imigrante. Mas infelizmente não consegui. O único trabalho que tive oportunidade foi aqui, carregando mercadorias. É daqui que consigo pagar o aluguel, comer e ainda mandar dinheiro para minha família na Venezuela. Para mim, a pior carga é a macaxeira por ser muito pesada. Trabalho como estivador aqui no Porto há um ano, mas estou feliz apesar do trabalho ser pesado” garante Michael. 

Quando questionado se havia deixado filhos na Venezuela, Michael respondeu com os olhos marejados o seguinte:

“Meus dois filhos ficaram na Venezuela. Desculpa [lágrimas escorrem pelo seu rosto], a saudade é grande e também, a vontade de dar uma vida melhor para eles e poder trazê-los para o Brasil. Aqui não tem guerra, fome existe em todo lugar. Mas em Manaus, morre de fome quem quer. O que me dá forças, apesar do preconceito das pessoas sobre nós, é saber que posso ter meu dinheiro quando acaba o trabalho. Muitas pessoas acham que somos bandidos pela nossa aparência. Mas elas não têm noção do volume de cargas que carregamos nas costas para elas chegarem na feira e poder comprar o alimento”.

Michael disse ainda que agora já tem documentos e fala português, mesmo com sotaque venezuelano. Mas, gostaria de trabalhar como pasteleiro e sonha com uma oportunidade na área. Seu maior desejo é abrir a pastelaria El Tigre, em Manaus, comenta ele, sorrindo.     

Para Alberto Prado Rodrigues Filho, de 36 anos, a estiva foi o dinheiro mais rápido que encontrou e também, por estar desempregado. Filho de pescador, Prado cresceu em Barcelos (a 401 quilômetros de Manaus). Sua mãe teve 11 filhos e segundo ele, a vida no interior além de difícil, não tem muitas oportunidades de trabalho, principalmente para quem não tem estudo. Quando chegou em Manaus, o estivador fez diversos bicos até conseguir um trabalho numa marmoraria, mas o salário não era suficiente para o sustento da família.

Alberto Padro deixou o trabalho de marmorista para carregar caixas de até 180 quilos na imensa “Torre de Babel” do Porto de Manaus. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

“Tenho três filhos com idade de 4, 6 e 10 anos e moro de aluguel. O salário da marmoraria era baixo, apesar do trabalho ser pesado. Aí pensei, esforço por esforço, vou tentar o trabalho da estiva. Vim por meio de um amigo e gostei porque recebi um dinheiro bom, no fim da jornada de trabalho. Estou como estivador apenas há dois anos e vamos ver até quando aguento, já que aqui não tem seguridade. Se não trabalhar, não ganho, se sofre acidente de trabalho não tenho a quem recorrer porque não pago o INSS”, aponta Alberto.

Sobre o que espera do futuro Prado reflete. “Se eu pudesse dar um conselho para mim mesmo eu diria: Estude, mas já tô velho. Falo para os meus filhos estudarem porque essa vida é difícil. Às vezes trabalhamos a noite toda e quando vou pra casa, passo o dia jogado. Mas essa é a vida de quem não estudou. Vejo esses doutores aí nos carrões que se pudessem passavam por cima de nós (sic). Mas mal sabem eles que somos nós que transportamos o jerimum, a banana, a macaxeira que eles comem em casa e compram na feira. Pensa que não dói ser tratado como lixo?”, critica o estivador de Borba.

Padro destaca ainda que o melhor período de trabalho, na opinião dele, é na seca dos rios, pois o fluxo de trabalho e o valor recebido, aumentam.

“Agora como rio encheu, diminuiu um pouco o trabalho porque as pessoas não conseguem plantar e isso reflete na nossa diária. Mas aqui tiro uma base de R$ 200 a R$ 250 por dia. No período da vazante do rio, temos mais trabalho e mais dinheiro porque os agricultores plantam mais e mandam as mercadorias para vender em Manaus. Jerimum é a carga mais pesada na minha opinião. O volume mais pesado que já levei do barco para dentro da feira foi 150 quilos. A gente ganha 4 reais por saco carregado, ou seja, uma média de 50 sacos por diária”, conclui Alberto Prado.

Assim como outros conterrâneos, o venezuelano Assel Lopez, que preferiu não falar a idade, está em Manaus há sete meses. Ele deixou a cidade de São Félix (a 8 horas de distância da capital Caracas) fugindo da crise econômica e política, da Venezuela. Na capital amazonense, Lopes conheceu o trabalho da estiva por meio de parentes, que moram na cidade e trabalham na área do Porto da Manaus Moderna. Sem falar português muito bem, o venezuelano se diz feliz, apesar do trabalho pesado que exerce.

Ainda sem domínio da língua portuguesa, o também venezuelano Assel Lopez não abandonou os estudos mesmo diante da labuta. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

“Na Venezuela eu trabalhava vendendo coisas na rua. Mas com a crise tudo ficou mais difícil. As pessoas não tinham dinheiro para nada e os preços das coisas subiram muito. A inflação, fez os produtos desaparecerem. Agradeço por ter conseguido entrar no Brasil. Aqui o trabalho é muito pesado. Mas eu gosto porque recebo meu dinheiro no final do serviço, posso pagar meu aluguel e quando sobra, mando um pouco para minha mãe”, assegura Assel. 

Lopes confirma ainda que está cursando o ensino médio, em Manaus. Com a pandemia do novo Coronavírus, as escolas fecharam as portas e sem ter muito o que fazer, ele dedicou mais tempo ao trabalho da estiva. Mas, quando as escolas retomarem ao normal, sua rotina voltará ao normal.  

Já o venezuelano da Ilha de Margarita ( a 474 quilômetros de Caracas), Eduardo Sabariego, de 30 anos, com mais traços de modelo de passarela, do que de estivador, chegou até nossa equipe quando já estávamos indo embora, dizendo que gostaria de ser fotografado entre as caixas de mercadorias e, com um sorriso espontâneo, semblante cansado e o suor escorrendo no rosto ele contou à REVISTA CENARIUM sua história.

Eduardo Sabariego deixa o cansaço de lado para dar conta de suas responsabilidades financeiras. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

“Estou em Manaus há três anos, sendo dois deles, como estivador. Escolhi carregar carga porque foi o único trabalho que encontrei na cidade e me dediquei a ele. Venho para cá dia e noite praticamente ou depende muito da chegada dos barcos com mercadorias do interior. Tem dias que não descanso muito porque preciso fazer dinheiro para pagar o aluguel, sustentar a família e comer. Tenho três filhos, dois na Venezuela e um aqui. Mas preciso alimentar todos”, pontua Eduardo.

Quando questionado o motivo de ter deixado a belíssima Ilha de Margarita, Sabariego é enfático.

“Bonita para os turistas, porque para nós nativos, não temos oportunidades. Lá não tem trabalho e viver de sol e mar não dá. Lá eu trabalhava com petróleo, mas o dinheiro que ganhava não era suficiente por causa da crise, da inflação que o País está vivendo. Aqui no Brasil, não consegui nada na área petrolífera. Mas se eu conseguir algo melhor do que isso aqui, eu saio na hora. Aqui é muito esforço, mas precisamos do dinheiro que ganhamos aqui”, pontua Eduardo.

Sabariego salientou ainda que a quantidade de peso que já carregou até hoje foi de 150 quilos. O que mais deixa triste, às vezes, é sofrer o preconceito e a falta de dignidade como as pessoas enxergam a profissão de estivador. 

“Elas só não lembram que para o alimento chegar na mesa delas, quem tira a mercadoria do barco e leva até a barraca do mercado ou de diversas áreas da cidade somos nós, que acordamos 3 horas da manhã todos os dias para carregar as mercadorias até a barraca da feira”. conclui Eduardo Sabariego.

No Brasil, Sabariego tem um irmão mais velho, que mora na região Sul.

Riscos

Entre as dificuldades apontadas por carregadores estão:

  • Problemas de saúde ocasionados pela exposição excessiva ao sol;
  • Problemas de saúde decorrentes do esforço físico;
  • Risco de acidentes de trânsito nas ruas durante o trabalho;
  • Risco de quedas nas escadarias que dão acesso até as balsas onde os barcos atracam;
  • Risco de quedas das rampas de madeiras colocadas para se entrar nas embarcações;

Previdência Social

De acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), todo trabalhador com carteira assinada é automaticamente filiado à Previdência. Já as pessoas que atuam por conta própria ou na informalidade precisam se inscrever e contribuir mensalmente para ter acesso aos benefícios previdenciários.

São segurados da Previdência Social os empregados, os trabalhadores avulsos, os empregados domésticos, os contribuintes individuais e os trabalhadores rurais. Quem não possui renda própria também pode se inscrever na Previdência Social, a partir dos 16 anos.

O INSS disponibiliza uma Central de Atendimento pelo telefone 135. O serviço está disponível de segunda a sábado das 7h às 22h (horário de Brasília).

Até a publicação deste conteúdo, a Secretaria de Trabalho e Emprego e o Fundo Previdenciário do Estado do Amazonas (Amazonprev), não responderam aos questionamentos.

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