A luta diária pela preservação da floresta Amazônica no Dia Mundial do Meio Ambiente

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a REVISTA CENARIUM traz uma entrevista exclusiva com o secretário municipal de Meio Ambiente, Antônio Nelson Júnior. (arte: REVISTA CENARIUM)

Luís Henrique Oliveira e Luana Dávila – Da Revista Cenarium

MANAUS – Falar de meio ambiente é falar de vida e cuidar do meio em que vivemos é de interesse de todos. Esta semana, a REVISTA CENARIUM lançou uma série de reportagens para anteceder o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta sexta-feira, 5.

Durante os cinco dias (segunda a sexta-feira), jornalistas se aprofundaram em temas como o risco da grilagem aos indígenas e demais povos da floresta, os impactos da pandemia deixados na natureza, a contribuição negativa na poluição do ar causada pela queima de resíduos, além do uso de tecnologia, que aliado a sistemas inteligentes, auxilia na preservação.

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E para fechar a data, nesta sexta, a reportagem traz uma entrevista exclusiva com o titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), Antônio Nelson Júnior, responsável por comandar ações das mais diversas, desenvolvidas dentro da cidade da maior floresta verde do mundo: Manaus.

Nesta entrevista, Antônio Nelson irá falar sobre as invasões que destroem áreas verdes em Manaus, programas de arborização e preservação de animais, assim como o andamento da fiscalização em tempos de pandemia e ações de educação ambiental.

Confira entrevista na íntegra:

REVISTA CENARIUM: Quais ações têm sido feitas pela Semmas para a proteção ao Meio Ambiente?

Antônio Nelson: Nós temos na Semmas, hoje, cinco frentes de trabalho para organizar as nossas ações. Temos arborização e paisagismo; licenciamento e monitoramento; fiscalização; gestão de áreas protegidas e por fim, a frente da educação ambiental.

Titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmas), Antônio Nelson Júnior. (reprodução)

REVISTA CENARIUM: Quantas mudas já foram plantadas na capital?

AN: Temos um trabalho que começou em 2013 e foi intensificado em 2015 que é o ‘Arboriza Manaus’. A meta do programa é tirar Manaus da lista das capitais menos arborizadas do Brasil, principalmente por conta do mundo inteiro olhar para Manaus como uma representação da Amazônia. Fizemos um plantio em grande escala na cidade. Temos 40 mil árvores crescendo e 200 mil mudas arbóreas para que possamos sair dessa lista. No Acordo de Paris, que inclusive o prefeito de Manaus [Arthur Virgílio Neto] assina, temos o compromisso com o mundo de baixar a temperatura em ao menos um grau e meio. Isso está ligado diretamente à arborização urbana.

REVISTA CENARIUM: Sobre as ações de conscientização, que ações são essas?

Programas de mobilização e conscientização têm sido realizados em Manaus com foco na preservação do Meio Ambiente. (divulgação/Semmas)

AN: Manaus e o Amazonas em si realmente têm hoje a maior floresta em pé do mundo e isso é respeitado mundialmente. Por isso, essa mobilização mundial quando se trata de desmatamento e exploração da floresta. Temos esse trabalho em Manaus que é o de trabalho ambiental, que é demorado, que chamamos de trabalho de formiguinha, mas que ao final dá uma satisfação enorme, pois a gente já vê a população com uma consciência ambiental muito melhor. Prova disso é o índice de furtos e depredações das árvores que são plantadas. Quando entramos em 2013, esse índice era de 70% e hoje em dia, com esse trabalho, temos certeza que estamos em 20%, o que é aceitável. Temos esse índice controlado. As pessoas que querem mudas sabem que podem se credenciar para receber a muda.Assim, elas não precisam mais furtar.

REVISTA CENARIUM: Sobre esse assunto, a fiscalização deve andar lado a lado com a população. Nesse momento de pandemia, como esse trabalho tem sido desenvolvido?

AN: O trabalho de fiscalização é feito com uma unidade com membros de vários outros órgãos. Essa unidade se chama Gipiap [Grupo Integrado de Prevenção a Invasões em Áreas Públicas], que tem governo do Amazonas, prefeitura, governo Federal. Dentro dessa unidade, traçamos estratégias, principalmente, para fiscalizar o caso das invasões. Manaus chegou a ter mais de 70 casos de invasão e hoje ainda está mais controlado. Mas, infelizmente, elas não param, pois muitas vezes são conduzidas pelo tráfico, pelo crime organizado. É um trabalho que fazemos com a polícia e outros órgãos ambientais. Foi uma das atividades de campo que mantivemos. As denúncias são muito importantes. Trabalhamos diretamente com os olhos da população, porque Manaus tem uma área muito grande. E temos os canais de informação, entre eles o Disk Denúncia 0800.092.2000 e o portal da prefeitura [www.manaus.am.gov.br] onde tem uma aba direcionando para a Semmas.

REVISTA CENARIUM: Ainda falando das invasões, que são desafios, conforme, você declarou na pergunta anterior, quantas são as invasões existentes em Manaus?

AN: Em 2019, identificamos um salto muito grande de 2018 para 2019, que praticamente dobrou. Tínhamos trinta e poucos focos de invasão e hoje temos 74 invasões que estamos monitorando. Algumas já desconstruímos. Estamos fazendo o trabalho de realocação e de retiradas em outros. É praticamente um foco por bairro.

REVISTA CENARIUM: Manaus é cortada por água e um grande curso de água existente é o Igarapé do Mindu. Como está esse braço de rio?

AN: O Igarapé do Mindu realmente é muito grande, com mais de 15 quilômetros de extensão, cortando da zona Leste a zona Oeste da cidade, saindo do Galileia, lá de cima da Reserva Ducke, onde tem a nascente do Mindu que vem até a zona Oeste, cruzando várias avenidas importantes. Naturalmente, por conta desse crescimento de décadas, vimos ele ser devastado em algumas áreas e, paralelo a isso, na gestão do prefeito Arthur, que tem um carinho grande pelo Mindu, a fazer um trabalho de conscientização nos bairros ,onde têm as chamadas Áreas de Preservação Permanente [APPs] do Igarapé do Mindu. Além disso, resgatamos o projeto Pró-Mindu, que visa, principalmente a preservação das margens desse igarapé, para que consigamos a despoluição natural a partir do momento em que paramos de jogar lixo e a natureza vai despoluindo naturalmente.

REVISTA CENARIUM: Ainda falando desse cuidado de áreas, qual a importância do Corredor Sauim-de-Coleira?

AN: O Sauim-de-Coleira foi criado na nossa gestão. É uma área de mais de 1 mil hectares, que se estende da reserva até o Parque do Mindu [bairro Parque Dez]. Nós temos uma espécie endêmica de Manaus chamada Sauim-de-Manaus que é um símbolo nosso e ele está em extinção no nível máximo, ou seja, por pouco podemos perder essa espécie. Com isso, houve uma mobilização muito grande do MPF e de instituições que acompanhavam a vida desse animal silvestre e da própria prefeitura. Então, criamos esse decreto municipal que visa organizar as áreas onde ele vive para que ele possa transitar, se desenvolver, se alimentar e assim, possamos tirar desse nível de extinção, que é grave. Seria uma vergonha perder uma espécie típica de Manaus, super agradável. Se for ao Parque do Mindu você encontra várias famílias.

REVISTA CENARIUM: Percebemos uma preocupação com a questão da preservação. Observamos que o prefeito de Manaus Arthur Neto vem ganhando notoriedade na mídia a nível internacional, não só com a questão da preservação do Meio Ambiente, mas com a questão do enfrentamento à pandemia. Como o senhor vê o apoio de ativistas como a Greta Thunber?

AN: Eu vejo com muito bons olhos, pois a Greta é uma liderança mundial que se destacou. Apesar da idade, ela conseguiu uma notoriedade muito cedo. Num momento em que nós, por meio da sensibilidade do prefeito, acionamos essa ajuda da Greta, conseguimos ter uma audiência para a nossa situação muito maior. Eu achei muito importante e agora, passando para essa fase, infelizmente de atingir mais o interior [a pandemia], nos preocupa ainda mais que a comunidade indígena seja preservada e consiga enfrentar isso. Estamos dando todo apoio e a Greta teve o seu papel de contribuição.

REVISTA CENARIUM: Sobre os cuidados com relação a comunidades ribeirinhas e a população indígena morando na capital? Como tem sido feito esse trabalho de aliar preservação com os povos tradicionais?

AN: Temos uma quantidade significativa de indígenas em Manaus. O Amazonas em si tem 60% da população indígena do Brasil e Manaus não é diferente. Cada vez mais os indígenas vão migrando para perto, até por conta da sobrevivência e necessidade de vir até a capital esporadicamente e a gente tem um trabalho específico, principalmente na área do Rio Negro, onde temos comunidades indígenas e a prefeitura administra essas áreas. O Tupé, por exemplo, tem uma comunidade indígena lá, outra no Nova Canaã, enfim.

REVISTA CENARIUM: Diante dos desafios e avanços nos projetos e ações da Semmas, hoje, nós temos o que comemorar com relação ao Meio Ambiente?

AN: Temos com certeza, pois continuamos essa luta diária de preservação. Tenho certeza que, com o novo censo, que deve acontecer até o ano que vem, Manaus dará um grande salto de cidade arborizada. Ela tinha o status de penúltima capital do Brasil, em arborização, e tenho a absoluta certeza que daremos um grande salto.

Estamos enfrentando uma pandemia. O que a Semmas programou para comemorar na Semana do Meio Ambiente?

AN: Tivemos toda a Semana do Meio Ambiente a gente tem esse carinho muito grande e temos uma programação vasta. Ano passado, por exemplo, plantamos 2 mil árvores nas margens do Mindu. Hoje, com o cenário da pandemia, a gente está fazendo ações 100% digitais.  Nesta sexta-feira, 05, estamos lançando cursos digitais que são minicursos que costumamos dar nos Pacs [Pronto Atendimento ao Cidadão] para, naturalmente, menos pessoas. Agora, vamos ter um raio de participantes muito maior e eles vão ser certificados. Temos cursos de plantio de árvores, ou seja, como plantar a sua muda e a sua horta; cursos de compostagem e reaproveitamento de resíduos, entre outros.

Capital do Amazonas, Manaus está inserida na maior floresta verde do mundo, a Amazônia. (Divulgação/Alex Pazuello)

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