A urgente luta pela presença indígena: a verdadeira inclusão que o Brasil ignora
Por: Inory Kanamari
23 de novembro de 2025No Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, é com tristeza e profundo pesar que me vejo obrigada a afirmar que não há o que comemorar. Nossa luta, que já se estende por mais de 520 anos, continua a ser um fardo pesado, carregado de promessas não cumpridas e promessas vazias. O Brasil, que se diz um país plural, segue, na prática, ignorando a necessidade urgente de inclusão dos povos originários em todos os espaços da sociedade. O discurso de “inclusão” se torna cada vez mais vazio, enquanto o governo negligencia a demarcação de terras, desrespeita nossos direitos e encobre o genocídio que continua em curso contra nossos povos.
Vivemos em uma sociedade que insiste em escrever a nossa história de uma forma que nunca foi a nossa, sem nos consultar, sem nos ouvir. As terras que deveriam ser demarcadas para garantir nossa sobrevivência e autonomia continuam sendo desrespeitadas, enquanto as promessas feitas pelos governantes se diluem em discursos vazios. Nosso movimento, que deveria ser uma frente unificada de resistência, está cada vez mais fragmentado. Aqueles parentes que alcançaram as esferas de poder, que poderiam ser amplificadores das nossas vozes, tornaram-se reféns dos conchavos políticos, desconectados das necessidades reais dos nossos povos.
De um lado, temos a elite indígena, distante da realidade das bases, que só nos procura durante períodos eleitorais, enquanto desfrutam de altos salários e uma vida confortável. Do outro lado, estão os verdadeiros guerreiros e guerreiras, os que lutam todos os dias contra as invasões, os assassinatos, as violências e a marginalização. A luta é árdua, pois ainda estamos sendo tratados como uma sociedade secundária, esquecidos em um país que se autoproclama democrático, mas que pratica a exclusão.
A realidade dos povos indígenas não é apenas uma questão de justiça histórica, mas de uma urgência vital para todos. A falsa inclusão que nos é apresentada na mídia e pelos governantes não passa de uma ilusão. O país não nos incluiu de fato; ao contrário, sempre nos afastou de nossas raízes, de nossa cultura, e da nossa língua. Somos povos indígenas vivendo sob um regime permanente de colonização, uma colonização que nos roubou o direito de ser quem somos. O Brasil, que se diz preocupado com a preservação ambiental e com a sustentabilidade, continua a ignorar a necessidade de reconhecer os povos indígenas como parte vital desse processo. O verdadeiro problema não é o “atraso” indígena, como muitos na sociedade pensam, mas a ignorância social que insiste em desconsiderar o valor dos povos originários para o futuro do Brasil e do planeta.
A luta pela presença dos povos indígenas em todos os espaços da sociedade não é uma demanda isolada; é uma pauta urgente e essencial para o futuro do Brasil. A nossa presença deve ser reconhecida não apenas nas periferias, mas nos centros de poder, na política, no mercado de trabalho, na educação, na mídia. A verdadeira inclusão passa pela afirmação de nossas identidades, pela garantia dos nossos direitos e pelo reconhecimento de nossa soberania. Não podemos mais ser tratados como simples objetos de caridade ou invisibilizados como se nossa história e nossos saberes fossem irrelevantes.
Este é um momento crucial: a luta dos povos indígenas é a luta pela vida. Nossa resistência não é apenas pela preservação das nossas terras e culturas, mas pela preservação de todo o planeta. Se o Brasil deseja construir um futuro realmente justo e sustentável, precisa urgentemente nos incluir em todos os espaços. A nossa luta é de todos, pois sem os povos indígenas, não há natureza preservada, não há sustentabilidade, e não há equilíbrio. É hora de unir forças, de reconhecer que nossa sobrevivência é crucial para a sobrevivência de todos. A luta dos povos indígenas não é só nossa, é de toda a humanidade.