Abandono de cemitério que teve valas coletivas na Covid-19 em Manaus vira alvo do MP-AM


Por: Ana Pastana

02 de setembro de 2025
Abandono de cemitério que teve valas coletivas na Covid-19 em Manaus vira alvo do MP-AM
Valas coletivas abertas no Cemitério Parque Tarumã, em Manaus, durante o colapso da pandemia de Covid-19, em 2020 (Ricardo Oliveira/Cenarium)

MANAUS (AM) – Vegetação alta, lixo e entulho tomam conta da área destinada às vítimas da Covid-19, conforme apurou a CENARIUM, no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, também conhecido como Cemitério Parque Tarumã, no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus. As condições do espaço, que guarda a memória de mães, pais, filhos e netos da primeira onda da pandemia, são alvo de um inquérito civil instaurado pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM) contra a Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (Semulsp), da Prefeitura de Manaus, sob gestão de David Almeida (Avante).

Durante o colapso funerário de 2020, dezenas de vítimas foram enterradas em valas coletivas no local. A imagem de caixões alinhados em covas abertas por retroescavadeiras viralizou e correu o mundo, tornando-se um dos símbolos mais marcantes da tragédia que atingiu a capital amazonense.

Cinco anos depois, em 21 de agosto de 2025, o MP-AM formalizou uma investigação para apurar se a Semulsp, que tem como gestor Sabá Reis, viola a dignidade humana e o direito ao sepultamento adequado. A Notícia de Fato 06.2025.00000647-7, assinada pelo promotor de Justiça Antônio José Mancilha, da 57ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, aponta a falta de limpeza e manutenção do cemitério, sobretudo na área onde está a maioria das vítimas da doença infecciosa causada pelo coronavírus SARS-CoV-2.

Portaria do MP-AM sobre instauração de inquérito contra a Semulsp, da Prefeitura de Manaus (Reprodução/Diário Oficial do MP-AM)
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Na área destinada às vítimas da pandemia em Manaus, indicada por uma placa que informa “Aqui repousam as vítimas da Covid-19 – 1° onda“, os túmulos estão cobertos por vegetação, impossibilitando o acesso e até a identificação do jazigo.

Jazigo coberto por vegetação na área destinada às vítimas de Covid-19, no Cemitério Parque Tarumã, em Manaus (Ana Pastana/Cenarium)

No mesmo local, em uma área de difícil acesso, entre árvores e próximo a um túmulo cercado, acumulam-se entulhos, garrafas plásticas e lixo.

A vegetação alta indica que o local não possui manutenção há algum tempo. Além de lixos, pedaços de madeiras, garrafas plásticas e entulhos, em outro espaço há uma colônia de formigas externa ao solo. Não foi possível identificar se no local, especificamente onde surgiu o formigueiro, há algum túmulo.

Colônia de formigas, vegetação e lixo no local onde foram enterradas vítimas de Covid-19, em Manaus (Ana Pastana/Cenarium)
Semulsp

A Semulsp, administrada pelo secretário Sabá Reis, aliado do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), é responsável pela limpeza pública da cidade e pela manutenção e organização dos dez cemitérios públicos existentes em Manaus, sendo seis em área urbana da cidade e quatro na zona rural.

De acordo com o Portal da Transparência da Prefeitura de Manaus, até agosto de 2025, a Semulsp registrou R$ 407 milhões em gastos. O valor é superior ao empenho previsto para a pasta neste ano, que era de R$ 256 milhões.

Informações disponíveis no Portal da Transparência da Prefeitura de Manaus (Reprodução/Portal da Transparência)

O atual gestor da pasta, Sabá Reis, foi alvo da Operação Dente de Marfim, da Polícia Federal (PF), deflagrada em 2023 e que investigou um esquema de propina em contratos da gestão municipal. O inquérito está sob sigilo.

Sabá é apontado como um dos principais beneficiários do esquema de propina investigado, segundo documento da PF. Interceptações telefônicas indicam que o secretário teria recebido pagamentos em espécie da empresa Mamute Conservação, contratada pela Prefeitura de Manaus.

Investigação cita “pagamento de vantagem indevida” a Sabá Reis (Reprodução/PF)
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Covid-19 em Manaus

No pico da primeira onda da pandemia de coronavírus, em 2020, vítimas da doença foram enterradas em covas coletivas. Na época, por meio de nota, a Semulsp explicou que em decorrência do “aumento no número de sepultamentos, foi adotado o sistema de trincheiras para realizar o enterro das vítimas de Covid-19”.

Vítimas da Covid-19 enterradas em valas coletivas, em Manaus (Sandro Pereira/Cenarium)

Segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), o Amazonas registrou mais de 653 mil casos da doença e 14,5 mil mortes registradas.

A CENARIUM entrou em contato com a Prefeitura de Manaus e com a secretaria responsável pela manutenção do cemitério e não obteve resposta até a publicação desta matéria.

Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona

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