‘Abequar’: ator indígena amazonense protagoniza filme e reforça representatividade no cinema

MANAUS (AM) – Nascido no Vale do Javari (AM), a segunda maior terra indígena do Brasil, o ator indígena Abrão Mayoruna carrega em sua trajetória a missão de representar tanto o povo Matsés quanto o Amazonas nas telas de cinema. No próximo dia 6 de setembro, o indígena estreia como protagonista do filme “Abequar”, dirigido por Jaya Vitali. À CENARIUM, ele destacou a importância de ocupar esse espaço e dar mais visibilidade às histórias e vivências dos povos indígenas no cinema.

O longa-metragem, protagonizado por Mayoruna, conta a história de uma criança indígena que entra, por curiosidade, em um avião de madeireiros contrabandistas e desembarca em São Paulo, por acidente. Neste mundo desconhecido, Abequar enfrenta o choque de cultura na convivência com os homens brancos, mas a tradição de seu povo e sua relação com a natureza fazem-no passar por um processo de redenção, enfrentar seus traumas, curar seus medos e retornar para um lugar de pertencimento.

A trama, para Abrão, ecoa vivências muito próximas às suas. Ele recorda as experiências fora do território e a dificuldade em se adaptar a uma nova realidade, com língua, costumes e até alimentação diferente, e conta que usou essas memórias para dar vida ao personagem na idade adulta.

“Minha maior emoção durante esse processo é que eu pude ver um pouco, no personagem, do que eu vivi na vida real. Isso foi importante para mim, me fez relembrar do que eu passei na vida real. E também me deu um desafio para que eu contasse essa história por meio da personagem, por meio de um filme-ficção, para que as pessoas entendam o que nós sentimos na pele dessa forma“, explicou.

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Protagonismo indígena no cinema

Para Abrão, a presença de um ator indígena no elenco principal de um longa também é significativa em um cenário onde atores indígenas ainda são, em sua maioria, chamados somente para papéis estereotipados ou secundários. Ele faz questão de destacar a necessidade de ampliar essas oportunidades.

“Representar esse filme, ser protagonista e ser indígena, para mim, é muito louvável, porque muitas vezes a gente não tem essa oportunidade de protagonizar um filme. É muito difícil, dentro do cinema brasileiro. É tudo muito disputado, fazemos muitos testes, eu, inclusive, faço muitos testes, e conheço a importância de trazer o nome dos povos indígenas [para destaque]. Para mim, sempre é protagonismo“, disse Mayoruna, acrescentando o orgulho de representar, também, o Amazonas.

“De certa forma você ser indígena do Amazonas, você acaba representando o Estado todo, como ator amazonense, como ator indígena, e também muitas vezes acaba representando o não indígena também, aquele que apoia os indígenas. Para mim, sempre é uma honra representar os indígenas, meus parentes, e levar o nome do Vale do Javari, de Atalaia do Norte. Esse nome sempre eu carrego para onde eu estiver“, completou.

Para o ator, o cinema é mais do que entretenimento: é uma ferramenta de visibilidade e afirmação cultural. “Quando indígenas estão atrás das câmeras, deixem de ser apenas representados por visões externas, e passam a construir narrativas que reafirmam suas identidades, as nossas memórias e também nossos modos de vida. Além disso, o cinema indígena contribui também para desconstruir estereótipos que por muito tempo marcaram a maneira como esses povos que foram mostrados na mídia“, disse também.

Trajetória

O primeiro trabalho de Abrão como ator profissional foi em 2018, na série “Aruanas”, do Globoplay, ao lado de nomes como Débora Falabella e Taís Araújo. Neste ano, participou do curta-metragem “Flores Secas”, uma produção amazonense dirigida por Arnaldo Barreto, lançado no dia 3 de março, no Teatro Amazonas, em Manaus (AM).

“Abequar”, de Jaya Vitali, estreia nacionalmente no sábado, 6. A cerimônia acontecerá no Centerplex Atibaia, na Rua José Alvim, bairro Centro, em Atibaia (SP), às 10h30. Os ingressos custam R$ 30 a inteira, e R$ 15 a meia. Mais informações no contato (11) 93052-1157, com Mabi.