‘Abrigo para criminosos’, diz relator no Senado ao propor rejeição da ‘PEC da Blindagem’


Por: Cenarium*

23 de setembro de 2025
‘Abrigo para criminosos’, diz relator no Senado ao propor rejeição da ‘PEC da Blindagem’
Alessandro Vieira é relator da "PEC da Blindagem" no Senado (Geraldo Magela/Agência Senado)

MANAUS (AM) – O relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe processos contra congressistas, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), recomendou em seu parecer a rejeição total do projeto. De acordo com Vieira, a PEC é inconstitucional e poderia transformar o Legislativo em “abrigo seguro para criminosos”.

A PEC da Blindagem foi aprovada na semana passada pela Câmara, em uma votação feita a toque de caixa. O texto estipula que congressistas só podem ser processados se houver aprovação pelo Legislativo em voto secreto. Também estende o benefício a presidentes de partidos.

A proposta é impopular. A reação das redes sociais contra deputados que apoiaram o projeto já assustava senadores antes mesmo de o texto chegar formalmente à Casa Alta. A tendência é que o Senado derrube a PEC, até como forma de responder às manifestações realizadas em diversas cidades no último fim de semana.

O projeto está na pauta de votações de quarta-feira, 24, da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Vieira apresentará seu relatório aos colegas e, se ninguém pedir mais tempo para avaliar, a PEC poderá ser votada no colegiado. O presidente da Comissão, Otto Alencar (PSD-BA), é contra o projeto e quer derrubá-lo o quanto antes.

O senador Alessandro Vieira (Roque de Sá/Agência Senado)

Defensores do texto o chamam de PEC da Prerrogativas e dizem que ele protege a classe política de abusos do Supremo Tribunal Federal (STF). Vieira discorda dessa visão, como mostra o relatório.

“A PEC que formalmente aponta ser um instrumento de defesa do Parlamento é na verdade um golpe fatal na sua legitimidade, posto que configura portas abertas para a transformação do Legislativo em abrigo seguro para criminosos de todos os tipos”, escreveu o relator.

“Trata-se do chamado desvio de finalidade, patente no presente caso, uma vez que o real objetivo da proposta não é o interesse público –e tampouco a proteção do exercício da atividade parlamentar–, mas sim os anseios escusos de figuras públicas que pretendem impedir ou, ao menos, retardar, investigações criminais que possam vir a prejudicá-los”, disse Vieira no documento.

O senador menciona os 13 anos posteriores à promulgação da Constituição de 1988, quando uma regra parecida com a PEC da Blindagem estava em vigor. Essa regra foi revogada em 2001. Nesse período, segundo o relator, foram quase 300 pedidos de investigação contra deputados e apenas um teve aval da Câmara.

Relator da PEC da Blindagem no Senado, Alessandro Vieira (Waldemir Barreto/Agência Senado)

“Assim, a presente PEC teria o real objetivo de proteger autores de crimes graves, como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o que configura claro desvio de finalidade e, consequentemente, inconstitucionalidade”, afirmou o relator.

O senador também rejeita as emendas propostas por colegas ao projeto. Sergio Moro (União-PR), por exemplo, busca salvar a PEC limitando a necessidade de aprovação do Legislativo a processos relacionados a crimes contra a honra ou a falas de congressistas.

Se o relatório de Alessandro Vieira for aprovado por unanimidade, a PEC da Blindagem será enterrada sem precisar passar pelo plenário por ser considerada inconstitucional. Caso contrário, ainda é possível votação no plenário.

Leia mais: Deputados da Amazônia aprovam ‘PEC da Blindagem’ com 77% dos votos da bancada
(*) Com informações da Folha de São Paulo

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