Academia Brasileira de Letras condena censura à obra Avesso da Pele que critica racismo policial
09 de março de 2024

Jefferson Ramos – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – A Academia Brasileira de Letras (ABL) repudiou a censura ao livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, feita pela Secretaria de Educação do Paraná (Seduc-PR). Para a entidade literária, não existe razão para que, em pleno século 21, livros sejam negados a estudantes sob pretexto de inadequação de linguagem.
“A Secretaria de Educação deveria, ao contrário, estimular a leitura de livros como esse, para o bem de nossa cultura e o desenvolvimento de nossos alunos”, repudiou a ABL em nota divulgada na quinta-feira, 7.
Além do Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás também censuraram a obra, que foi publicada em 2020 e narra a história de Pedro, que teve o pai assassinado em uma abordagem policial. O livro apresenta questões raciais que vão desde o racismo estrutural à violência policial, e trata ainda da fetichização e sexualização de corpos negros.
A obra venceu o prêmio Jabuti, a mais importante premiação literária do País, no ano de 2021. A obra consta na lista de livros obrigatórios do vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), um dos mais concorridos do Brasil.
Em meio à censura, as vendas do livro registraram alta de 125% na plataforma on-line Amazon. Em entrevista à GloboNews, o autor afirmou que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais da obra causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras.

“Os trechos são detalhados, mas não diferem em conteúdo de livros de literatura infantojuvenil, facilmente encontrados nessas mesmas bibliotecas escolares. Há uma diferença, no entanto, na linguagem usada para descrever as cenas, com palavras que muitos consideram chulas ou vulgares, o que pode, talvez, fazer com que a obra seja entendida por alguns como inadequada para o ambiente escolar”, comentou o autor.