Ação humana é responsável pela contaminação de bacias hidrográficas
Por: Ana Pastana
10 de outubro de 2024
Flutuantes no Tarumã-Açú (Reprodução)
MANAUS (AM) – A ação humana é a única responsável pela contaminação das baciashidrográficas do Amazonas. Diferentemente do que se possa imaginar, a seca e a cheia na região não interferem na qualidade das águas dos rios, segundo o coordenador do Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Amazonas (ProQAS/AM), professor Dr. Sérgio Duvoisin Junior. Esta é uma das conclusões de pesquisas realizadas pelo programa, desenvolvido pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
“A primeira impressão que a gente tinha é que na seca tudo ia ficar ruim, então, tinha menos água, a gente ia concentrar os poluentes e tudo mais. O que a gente observa é que, nos locais que não tem ação humana, o rio continua com as mesmas características da água”, explicou.
Em setembro deste ano, em meio à seca que atinge a região, cientistas que atuam no ProQAS/AM iniciaram uma nova viagem pelos rios Negro e Amazonas, com uma comitiva formada por 13 pesquisadores, para fazer o monitoramento da qualidade da água dos rios que banham o Estado, além das principais bacias que banham a capital amazonense. Essa é a quarta expedição feita pelo programa.
Embarcação do ProQAS/AM monitora a qualidade da água dos rios que banham o Estado e a capital amazonense (Divulgação/UEA)
O pesquisador explicou, também, que os fatores de poluição existem independente da seca ou da cheia. “Sempre vai ter fatores de poluição, principalmente em igarapés que estão no meio de uma cidade como Manaus. Então, esses resultados, ao decorrer dos anos, a gente vê que tem bacias que são muito impactadas na cidade de Manaus, tipo a bacia do São Raimundo e a bacia do Educandos, e tem bacias que estão dando seu primeiro grito para a gente fazer alguma coisa, como a bacia do Tarumã Açu”, disse.
Desenvolvido pela universidade há dez anos, o projeto levou a instituição a se tornar uma referência em estudos e monitoramento ambiental no Estado. A expedição acontece anualmente e é coordenada por Duvoisin Junior.
O coordenador do ProQAS, professor Dr. Sérgio Duvoisin Junior (Luiz André/Revista Cenarium)
“Há um planejamento para a pesquisa acontecer, que é feito sempre em novembro do ano anterior. Como é um programa de monitoramento regular das bacias, a gente em novembro planeja todas as campanhas durante todo o ano seguinte. O monitoramento é feito na grande maioria das bacias de três em três meses e as grandes campanhas de quatro em quatro meses”, explicou.
Bacias
Atualmente com 100 pontos de monitoramento, o programa verifica as principais bacias em Manaus, como do Rio Negro, que banha a cidade, do Tarumã Mirim, localizado na zona rural, assim como a bacia do Tarumã Açu e a bacia do São Raimundo, ambas na Zona Oeste de Manaus, além da bacia do Puraquequara, na Zona Leste e a bacia do Educandos, na Zona Sul.
De acordo com as informações disponibilizadas no site do programa (www.gp-qat.com), é possível observar que uma das bacias monitoradas, a bacia do Tarumã-Açú, registra o índice 66 de qualidade das águas. Segundo o monitoramento, o valor é considerado bom entre 52 a 79 IQA.
Painel de monitoramento do ProQAS/AM (Reprodução/UEA)
Outros três pontos de monitoramento identificados como bacia do Pró-Estado, localizados no bairro da Ponta Negra, na Zona Oeste, e no bairro Tarumã-Açu, apontam a qualidade da água em 51 IQA, considerada ruim, de acordo com o índice.
Contaminação
Em maio de 2022, o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) havia determinado a retirada dos flutuantes do Tarumã-Açu. Em 2004, havia 74 casas flutuantes na localidade. Em 20 anos, o número disparou: foram contabilizadas 900 unidades, entre restaurantes, flutuantes para lazer, garagens e píeres.
Em 2023, o programa apontou qualidade péssima na bacia do Educandos, com média de 31 IQA. Já na bacia do São Raimundo, que não é afluente industrial e possui mais resíduos domésticos, o IQA registrado também apresentou dados ruins na época, com média de 32 IQA.
Recuperação de bacias
Diante dos anos de monitoramento e a partir das análises, o pesquisador é taxativo em dizer que as bacias do Tarumã-Mirim e Puraquequara são, em geral, extremamente saudáveis, enquanto as do São Raimundo e Educandos estão extremamente degradadas. Já a bacia do Tarumã-Açu, envolta na polêmica dos flutuantes, está sob risco. Para o professor, é possível reverter essas situações.
“As bacias do Tarumã-Mirim e Puraquequara são extremamente saudáveis, com seus pontinhos de problemas, sabe? Por exemplo, ali em Puraquequara tem um matador. É um local muito específico que está com problema. A gestão pública poderia, vendo o problema, se adiantar em resolver isso. É um problema pontual dentro de uma bacia que está extremamente saudável“, explica.
Referente às bacias do São Raimundo e Educandos, Sergio Duvoisin destaca que são necessárias medidas extremas para a recuperação dos cursos d’água. Ele cita que, mesmo diante de toda a poluição na cidade, existe vida nos igarapés e isso representa a resiliência de todo o ecossistema.
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