‘Acham que o açaí é dos EUA’, diz chefe brasileiro sobre o fruto da Amazônia após evento internacional

O fruto do açaizeiro é típico da Região Amazônica (Paula Vieira/Idam)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Acabei de sair de uma reunião de um evento internacional e descobri que fora das Américas acham que o açaí é dos EUA. Que tal?”. O relato é do chef paraense Thiago Castanho, especialista em comidas tradicionais da Amazônia e considerado um dos mais renomados do Brasil, que compartilhou o caso em uma publicação nas redes sociais.

Acontece que o açaí é um fruto brasileiro originário da região Amazônica, que nasce do açaizeiro Euterpe oleracea, uma palmeira típica dos Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Tocantins, no Norte do País, e Maranhão, no Nordeste. A árvore, que pode chegar a 30 metros de altura, produz anualmente cerca de quatro a oito cachos de açaí, que é caracterizado pela pequena forma arredondada, de coloração escura (roxa à preta).

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Por conta da grande capacidade proteica e de fornecimento de carboidrato, o açaí se popularizou em todo o Brasil, sendo utilizado para inúmeros pratos da culinária nacional. Além disso, o fruto é rico em ferro e também é usado para evitar o envelhecimento precoce.

Produção

Nas comunidades tradicionais, o açaí leva benefícios econômicos e ecológicos para a população, que colhe o fruto para a produção de doces, sorvetes, geleias e bebidas, como o “vinho de açaí”, feito com a polpa do fruto e água. Os moradores costumam consumir a fruta amazônica também com farinha de mandioca ou tapioca.

O Estado do Pará é o maior produtor de açaí no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no ano passado pela Pesquisa Agrícola Municipal 2020 (PAM 2020). Segundo o levantamento, cerca de 96% de toda a área de plantação de açaí do País está situada no Estado, que produziu mais de 1,5 milhão de tonelada do fruto em 2020.

Veja também: ‘Ouro negro da Amazônia’: Pará lidera produção de açaí do Brasil

Além do Pará, os Estados que ocupam o ranking são: Amazonas, Roraima, Rondônia, Bahia, Tocantins, Maranhão, Espírito Santo e Alagoas. Os três municípios do Pará que lideram o ranking são Igarapé-Miri, Cametá e Abaetetuba.

Repercussão

Após a publicação do relato sobre o modo como que o açaí é visto pelo mundo, internautas também compartilharam experiências de quando descobriram que os estrangeiros acreditavam que a especiaria seria típica dos Estados Unidos. Em uma das publicações, uma pessoa contou como alguns canadenses enxergam a origem do açaí.

“Trouxe bombom do Pará para os meus colegas de trabalho no Canadá. De cupuaçu, de bacuri, de castanha e de açaí. Perguntei pra (única canadense) se ela conhecia alguma das frutas e ela me respondeu mastigando: “Only açaí…from USA” [Só açaí… dos EUA, na tradução livre]. Minha vontade foi mandar ela cuspir o bombom”, publicou uma pessoa, no Twitter.

Outro internauta afirma ser triste ver um dos patrimônios culturais gastronômicos do Brasil usurpado por estrangeiros. “Por isso é tão importante lutarmos pelos selos de indicação geográfica para os nossos produtos”, reforçou no Twitter.

Para o chef Thiago Castanho, conhecido pelo trabalho à frente do restaurante Remanso do Bosque, em Belém, no Pará, por conta de casos como esses, a melhor forma de proteger o que é da terra é consumir, conhecer e se apropriar. “Fazer um verdadeiro movimento antropofágico da própria cultura!”, salientou o chef brasileiro, no Twitter.

Curiosidade

Em 2003, o açaí chegou a ser registrado no Japão como marca de propriedade da empresa K.K. Eyela Corporation. Em 2007, no entanto, o registro da marca foi cancelado por ordem do Japan Patent Office, o escritório de registro de marcas do Japão, segundo o Departamento de Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente.

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