Acidentes com cobras na região amazônica são mais comuns com jararacas, diz biólogo

Todos os anos, na época das cheias, jararacas da espécie Bothrops atrox se concentram no alto das árvores (Divulgação)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Após o recente incidente com uma cobra da espécie jararaca, que atacou a médica Dieynne Saugo, durante banho de cachoeira na região de Nobre, no Estado do Mato Grosso, a REVISTA CENARIUM conversou com especialistas sobre os riscos e a frequência desses acidentes com répteis comuns no Amazonas, Estado que possui diversos locais de banhos naturais.

De acordo com levantamento da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) divulgado em abril deste ano, o número de acidentes com animais peçonhentos no Estado chegou a 831 no período de janeiro a março de 2020, em uma redução de 14% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 968 casos.

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As serpentes foram as principais causadoras dos acidentes, com 591 casos (71% do total) de janeiro a março deste ano. Para o professor de Biologia, Daniel Mattos, a tragédia com a médica, contudo, trata-se de um caso isolado, pois a frequência desses acontecimentos em cachoeiras são baixas.

Segundo ele, cobras preferem locais preferencialmente calmos e longe da movimentação, pois são animais lentos. “A gente pode considerar normal (a existência de cobras em cachoeiras), afinal as cobras são habitantes da região antes de qualquer sociedade ter se desenvolvido ali. Locais calmos são a preferência de serpentes, pois são animais de movimentos lentos. No Amazonas, nós não temos muitas espécies de cobras venenosas, mas a jararaca bate recorde de acidentes com picadas”, disse à REVISTA CENARIUM.

O professor pontuou ainda que, provavelmente, a cobra estava se defendendo da presença da médica no recinto e que o animal estava procurando um local quieto e quente, mas acabou em um lugar muito visitado por banhistas.

“A cobra só atacou para se defender como instinto natural, porque para a cobra produzir veneno ela consome um gasto energético elevado, para ela investir no ser humano como defesa e não em uma presa que ela possa se alimentar e, posteriormente, produzir mais veneno, também vai consumir um gasto energético maior”, destacou.

Defesa

Estudo publicado pela Fundação de Medicina Tropical (FMT) Doutor Heitor Vieira Dourado, do Governo do Amazonas, relembra que é essencial a identificação da serpente causadora do acidente para orientar a conduta médica e a prescrição do soro mais conveniente.

Segundo o estudo, se a serpente levada pelo acidentado tiver um orifício entre os olhos e a fossa nasal, trata-se de uma serpente peçonhenta. Na região amazônica, as duas serpentes mais frequentemente encontradas são as dos gêneros Bothrops sp. (conhecida como surucucurana, jararaca ou surucucu) e Lachesis sp. (ou surucucu ou surucucu-pico-de-jaca).

Qualquer ocasionalidade que termine em uma picada de cobra, de acordo com o professor de Biologia Daniel Mattos, é necessário manter a calma, ficar quieto e esperar o pronto-socorro chegar, evitando movimentos bruscos.

“Um básico é: não tentar chupar o veneno, pois se a pessoa tiver uma fissura (ferimento) na boca, por menor que seja o veneno, vai atuar ali e serão duas pessoas a ir ao hospital. Não usar torniquete, pois vai interromper o fluxo sanguíneo, apodrecer a área atingida pelo veneno e ter que amputar o membro (no pior dos casos). Deve-se, também, evitar bebida alcoólica”, finalizou.

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