Adoecimento e mercado de trabalho afligem refugiados da pandemia em Roraima

O medo de ficar doente e o aumento nas dificuldades na área do trabalho estão entre os principais impactos da Covid-19 (Bruno Mancinelle/OIM)
Com informações da IOM

BOA VISTA – O medo de ficar doente (90%) e o aumento nas dificuldades na área do trabalho (76%) estão entre os principais impactos da Covid-19 levantados pelos 1.055 refugiados e migrantes venezuelanos entrevistados na sexta rodada da Matriz de Monitoramento de Deslocamento (Displacement Tracking Matrix – DTM, em inglês).

A ação foi realizada pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) em 14 municípios de Roraima durante o primeiro trimestre de 2021, e acontece dentro do escopo do Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério da Cidadania e a OIM. Publicação é lançada esta semana em português e espanhol.

Além dos impactos socioeconômicos da pandemia, novidade desta rodada, o levantamento apurou que quase a totalidade dos entrevistados (99%) expressou intenção de permanecer no Brasil. Destes, 88% declararam o estado de Roraima como destino final. Os outros 11% têm como destino desejado grandes cidades brasileiras como Manaus, São Paulo, Curitiba e Florianópolis.

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Quanto às atividades laborais, dos entrevistados que estão economicamente ativos, 94% deles estão na informalidade, e 61% informaram receber menos de um salário-mínimo por mês. A maioria das pessoas que participaram do levantamento se encontrava desempregada na Venezuela (42%), enquanto no Brasil a maior parte está trabalhando de forma independente/autônomo (54%).

Quando os venezuelanos foram solicitados a ordenar suas principais necessidades de suporte, parcela expressiva indicou geração de renda e emprego (83%), informando em seguida de acesso a alimentação (78%) e educação e capacitação (36%).

O objetivo com o monitoramento é fornecer insumos para a elaboração de estratégias de resposta por parte das organizações envolvidas na Operação Acolhida, resposta humanitária do Governo Federal, e na construção de políticas públicas.

“A DTM é uma ferramenta importantíssima para subsidiar a resposta intersetorial eficaz ao fluxo migratório de refugiados e migrantes venezuelanos. Com os resultados, todos os envolvidos na Operação Acolhida podem planejar suas atividades com mais exatidão, em sintonia com a realidade”, destaca assessora para assuntos de migração do Ministério da Cidadania, Niusarete Lima.

Esta é a sexta vez que a OIM aplica a DTM em Roraima desde março de 2018. A média de idade da população desta rodada é de 27 anos. Os menores de 18 anos de idade totalizam 31%. As famílias apresentaram média de 3,7 pessoas e a escolaridade dos venezuelanos com 18 anos ou mais é equivalente ao ensino médio brasileiro (completo e incompleto).

“Para nós que estamos em campo, a DTM possibilita conhecer melhor o público com o qual trabalhamos, e planejarmos nossas ações de forma mais adaptada, baseada em evidências. Ao longo dos anos fomos aperfeiçoando a aplicação da ferramenta, e buscando os dados que nos pareciam mais pertinentes para as nossas atividades e as dos parceiros”, explica a coordenadora da resposta humanitária da OIM, Lia Poggio.

A ferramenta também já foi aplicada em Manaus e no Maranhão, esta última com levantamento específico sobre a população venezuelana indígena de etnia Warao. Atualmente, a OIM, em parceria com o Ministério da Cidadania, Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e Fundação Nacional do Índio (Funai), está em fase de conclusão da DTM Nacional sobre a população indígena venezuelana, com dados levantados em 17 municípios brasileiros.

A DTM é um conjunto de ferramentas concebida pela OIM em 2004, com o objetivo de monitorar e caracterizar o deslocamento de populações. A metodologia já foi utilizada por mais de 60 países, incluindo em contextos de desastres naturais, emergências complexas e prolongadas crises.

Essa atividade é realizada com o apoio financeiro do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América.

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