Adolescente indígena é morta após ser violentada por garimpeiros em Palimiú (RR), denuncia Yanomami

Junior Yanomami reportou ainda que uma criança indígena de 4 anos, que viajava com a jovem de barco, caiu em um rio da região e está desaparecida (Reprodução)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium*

MANAUS — Uma adolescente indígena de 12 anos foi morta após ser violentada sexualmente por garimpeiros na Comunidade de Palimiú, em Roraima, segundo denunciou nessa segunda-feira, 25, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami. Em uma publicação nas redes sociais, o líder indígena reportou ainda que uma criança de 4 anos, que viajava com a jovem de barco, caiu no rio da região e está desaparecida.

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“Recebi a informação hoje (25/04), às 20h, que uma adolescente de 12 anos foi violentada brutalmente por garimpeiros na região de Palimiú e que uma criança de 4 anos que estava com a mesma caiu do barco em que estavam”, reportou o Yanomami, comunicando que viaja, nesta terça-feira, 26, à comunidade para buscar mais informações.

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À REVISTA CENARIUM, o líder indígena disse que um grupo de homens do garimpo invadiu a comunidade e levou a adolescente e outras duas mulheres que estavam com a criança que, ao tentar se defender, caiu na água. Júnior Yanomami informou também que está orientando a comunidade a não reagir, pois os garimpeiros estão fortemente armados.

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“Não sei se ela estava fugindo. A adolescente foi estuprada, violentada até a morte e estou indo buscar as informações corretas, tentar convencer a comunidade de trazer o corpo da adolescente que está morta. A comunidade está revoltada e estou orientando a não atacarem os garimpeiros, porque eles estão fortemente armados”, explicou o presidente da Condisi-YY.

Buscas

Nesta terça-feira, 26, Júnior Yanomami afirmou que irá delatar o caso às autoridades competentes, por meio de um ofício, e solicitar, também, ajuda do Corpo de Bombeiros para realizar as buscas pelo corpo da criança de 4 anos. A intenção é, na viagem à comunidade, levar o apoio institucional.

Violência recorrente contra o povo Yanomami

Esta não foi a primeira vez que casos de violação sexual e invasão acontecem contra indígenas do povo Yanomami. Na segunda semana deste mês de abril, a Hutukara Associação Yanomami lançou um relatório, feito por pesquisadores indígenas, antropólogos e tradutores das seis línguas faladas entre os Yanomami, ao menos três crianças entre 10 anos e 13 anos foram mortas após serem abusadas por garimpeiros, na região central do território conhecida como polo-base Kayanaú.

Segundo o documento, as mortes ocorreram em 2020, mas somente agora vieram à tona, após entrevistas com indígenas nas aldeias mais afastadas e afetadas pelo garimpo. Em um dos relatos, os indígenas revelam que garimpeiros ofereciam drogas e bebidas a indígenas, e quando todos já estavam bêbados, um homem estuprou uma criança.

Em maio do ano passado, indígenas da Comunidade Palimiú, da Terra Yanomami, vivenciaram cerca de dez dias de ataques constantes de garimpeiros. Os invasores chegavam a atirar na população e jogar bombas de gás lacrimogênio. Os conflitos armados entre garimpeiros e indígenas se acirraram após operações da Polícia Federal para coibir a atuação do garimpo ilegal.

Palimiú na Terra Yanomami

A Comunidade Palimiú fica no município de Alto Alegre, na Terra Yanomami, às margens do Rio Uraricoera. A região se tornou uma espécie alvo de exploração ilegal de ouro sendo rota usada por garimpeiros para chegar aos acampamentos ilegais no meio da floresta.

Com 27 mil indígenas, a Terra Yanomami é considerada a maior reserva indígena do Brasil, com quase 10 milhões de hectares entre os Estados de Roraima e Amazonas. Na região, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), existem povos isolados e outros reportados.

Sem retorno

A REVISTA CENARIUM entrou em contato com a Polícia Federal (PF-RR) e o Ministério Público Federal de Roraima (MPF-RR) nesta terça-feira, 26, solicitando mais informações sobre o caso, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

(*) Colaborou o jornalista Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

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