‘Afeta direito de indígenas’, diz ativista Ailton Krenak sobre pressão do mercado contra áreas protegidas

Para o ativista, é o mercado determina o que deve ou não ser protegido (Mathilde Missioneiro/ Folhapress)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Considerado por críticos e especialistas como um dos maiores ativistas do movimento socioambiental e de defesa dos povos indígenas, o líder indígena, Aiton Krenak, criticou nesta quarta-feira, 3, a pressão do mercado econômico contra as áreas protegidas que afeta, principalmente, o direito das populações tradicionais dependentes do extrativismo. Para o ativista, é o mercado que determina o que vai ser protegido e nenhum governante da América Latina é capaz de contrariar essas determinações.

“O mercado determina o que é que vai ser protegido. Eu não vejo, em nenhum País da América do Sul, qualquer governo capaz de fazer frente à pressão que o mercado faz sobre os nossos territórios. A mineração, as madeireiras, a ampliação do agronegócio, a potência da agroindústria invadindo esses territórios, derrubando as florestas, entrando com o carro, com a soja e, principalmente, expulsando as comunidades humanas. Os povos originários estão flagelados pelo modelo de ocupação dessa região da América Latina, a bacia Amazônica”, disse o líder indígena.

A declaração de Aiton Krenak ocorreu durante a conferência de abertura do X Seminário Brasileiro sobre Áreas Protegidas e Inclusão Social (Sapis) e V Encontro Latino-Americano de Áreas Protegidas e Inclusão Social (Elapis). O evento acontece, de forma online, de 3 a 6 de novembro deste ano, reunindo especialistas de diversas vertentes para discutirem sobre a proteção do meio ambiente e propor melhorias sustentáveis para a gestão territorial.

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(Reprodução/Zoom)

De acordo com o líder indígena, uma área prioritária à conservação é aquela onde comunidades humanas seriam capazes de fazer uma gestão e produzir uma resposta criativa para si e para o ambiente onde vivem. Ou ainda, aquela eleita por técnicos, engenheiros e gestores ambientais onde o componente humano deixa de ser parte dessa prioridade e passam a ser percebidos como ameaças.

Para Ailton, contudo, existem ações diretas do próprio Estado brasileiro de mudar a categoria de áreas prioritárias à conservação para atender a demanda do mercado e à pressão do modelo extrativo de riquezas que o capitalismo impõe sobre a região da bacia Amazônica.

“[Isso] incide, diretamente, sobre os direitos dos povos, seja de comunidades indígenas e ribeirinhas, que viveram desde o século XVIII, XIX e XX do extrativismo, de recursos que estão internos na floresta e que não dependiam de uma estrada, porto, infraestrutura física implantada pelos governos regionais, mas que estão tendo seus territórios atravessados; todo tipo de invasão pode implantar uma infraestrutura para atender o crescimento econômico”, alertou o especialista.

Ailton Krenak

Nascido em 1953, na região do Vale do Rio Doce, onde está localizada a Terra Indígena Krenak, Ailton Krenak, de 68 anos, é jornalista, doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, e Minas Gerais, e autor dos livros “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” e “A Vida Não É Útil”.

O escritor e ambientalista Ailton Krenak (Mathilde Missioneiro/Folhapress)

Defensor do meio ambiente, o líder indígena discursou na Assembleia Constituinte, em 1987, com o rosto pintado de preto como forma de protesto contra quem ameaça os povos indígenas. Na ocasião, Ailton Krenak fez um alerta sobre o desmatamento na Amazônia.

Em 2016, o ambientalista teve a casa devastada após o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, em Mariana, considerado o maior desastre ambiental do Brasil e que completa seis anos no último dia 5 de novembro.

O evento

O Seminário Brasileiro sobre Áreas Protegidas e Inclusão Social (Sapis) ocorre desde 2005, com a primeira edição na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio do Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (EICOS/IP/UFRJ).

Desde então, foram realizadas edições no Rio de Janeiro (2005 e 2006), Teresópolis (2007), Belém (2009), Manaus (2011), Belo Horizonte (2013), Florianópolis (2014), Niterói (2017) e Recife (2019). A partir de 2013, ganhou um caráter internacional, quando passou a ser realizado conjuntamente com o Encontro Latino Americano sobre Áreas Protegidas e Inclusão Social (Elapis).

Em meio ao desafio de gerir áreas protegidas em plena pandemia da Covid-19 e com o aumento do desmatamento, o que tem preocupado especialistas em meio ambiente, o seminário e o encontro têm como tema central a “Autogestão e desenvolvimento territorial sustentável de áreas protegidas: diálogos, aprendizagens e resiliência”. A iniciativa conta com conferências e mesas-redondas realizadas em modo virtual, sempre a partir das 9h de Brasília.

Este ano, o evento é sediado em Manaus, capital do Amazonas. A programação será transmitida pela plataforma Doity Play. Nesta edição, o V Elapis terá um dia completo de programação com os temas centrais a Equidade e Diversidade com participação de importantes lideranças sociais e acadêmicas da América Latina.

Na edição de 2021, o evento está sendo organizado por três instituições de ensino e pesquisa do estado do Amazonas: a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), pelo Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (PPGCASA), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), pelo Mestrado em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia (MPGAP).

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