‘Agentes de saúde e militares foram responsáveis por contaminar territórios indígenas’, denunciam pesquisadores

Atendimento emergencial das forças armadas na região de Auaris, Terra Indígena Yanomami, em Roraima.(Divulgação/Ministério da Defesa)

Michelle Portela – Da Revista Cenarium

BRASÍLIA – Indígenas da Amazônia deverão denunciar o governo brasileiro como o responsável pela contaminação por Covid-19 nos territórios tradicionais durante a Cúpula dos Líderes do Clima, organizada pelos Estados Unidos. O evento será realizado de forma virtual nos dias 22 e 23 de abril, com a presença do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Para sustentar a acusação, pesquisadores da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) mapearam a entrada do vírus até os territórios indígenas, cujo acesso é restrito. Os quatro casos mostram a chegada do vírus em áreas demarcadas em três Estados, impactando diferentes povos.

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No Alto Solimões, no Amazonas, o mapeamento revelou que um médico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, foi responsável por contaminar a população indígena da região, sendo o território que agrupa o maior número de contaminados. Apenas entre os Kokama, há 59 mortes confirmadas por Covid-19. Entre os Tikuna, outro povo indígena da região, são 17 mortes, de acordo com os dados do levantamento.

O Vale do Javari também foi impactado por agentes da Sesai, área com maior número de povos isolados do mundo. Para citar um exemplo, o povo Tson wük Dyapah, que recentemente foi contactado e com uma população de 46 pessoas, registrou dois casos de Covid-19 entre adultos e uma criança.

Dados oficiais indicam 152 casos diagnosticados no Vale do Javari, com um óbito registrado. No entanto, o estudo da Apib aponta que, devido à falta de testagem em massa em todo o País no contexto indígena, os dados não refletem a realidade da extensão da pandemia entre os povos indígenas.

“Devido à falta de testagens em massa em todo o País no contexto indígena, estimamos que há uma disparidade significativa entre o número de casos confirmados e a quantidade real de pessoas infectadas”, diz a Apib. “Os dados coletados pelo comitê são de testes confirmados entre indígenas por secretarias municipais e estaduais de saúde e, eventualmente, por instituições como o Ministério Público Federal (MPF), por exemplo, que tem colaborado na testagem em alguns Estados para os indígenas refugiados da Venezuela, os Warao”.

Negligência

A mesma história se repetiu na Terra Indígena Mamoadate, no Acre, quando também agentes da Sesai contaminaram a população local, onde os indígenas estavam em isolamento voluntário.

É o Exército Brasileiro que a Apib aponta como o agente contaminador da Terra Indígena Parque de Tumucumaque, uma área remota da fronteira entre o Pará e Amapá e o Suriname. Pelo menos 23 pessoas foram infectadas no local onde funciona o 1º Pelotão Especial de Fronteira, com 50 militares do Exército e das Força Aérea Brasileira (FAB).

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