Água começa a ser negociada em contratos futuros na bolsa de Nova Iorque, nos Estados Unidos


10 de dezembro de 2020
No Amazonas, criança ribeirinha toma banho em rio da Amazônia. Negociação salienta as preocupações de que o recurso natural que suporta a vida pode ficar escasso em várias partes do mundo (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)
No Amazonas, criança ribeirinha toma banho em rio da Amazônia. Negociação salienta as preocupações de que o recurso natural que suporta a vida pode ficar escasso em várias partes do mundo (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Com informações da Agência Lusa

A água começou a ser negociada como recurso (commodity) em contratos futuros na bolsa de Nova Iorque, à semelhança do que já acontece com o petróleo ou o ouro, mas sem poder ser fisicamente transacionada. As informações foram divulgadas essa semana pelo site Bloomberg.

De acordo com a agência financeira, a negociação salienta as preocupações de que o recurso natural que suporta a vida pode ficar escasso em várias partes do mundo.

Agricultores, hedge funds (fundos especulativos) e municípios poderão apostar contra ou a favor da escassez da água a partir desta segunda-feira, já que o Grupo CME lançou contratos ligados à indústria de cerca de 1,1 mil milhões de dólares (cerca de 906 milhões de euros) do mercado de água da Califórnia, nos Estados Unidos.

Segundo o Grupo CME, os contratos futuros ajudarão os utilizadores da água a gerir o risco e a alinhar melhor a oferta e a procura, refere a agência Bloomberg.

Os futures da água, os primeiros de sempre nos Estados Unidos, foram anunciados em setembro, altura em que os incêndios florestais assolaram a costa oeste dos Estados Unidos, onde se situa a Califórnia.

Os contratos serão acordados financeiramente e não requererão a efetiva entrega física de água, e estão baseados no índice de Água Nasdaq Veles Califórnia lançado há dois anos.

Este índice estabelece um número de referência semanal do preço do direito à água na Califórnia, sustentado pela média ponderada por volume dos preços de transação nos cinco maiores e mais negociados mercados de água do estado.

Os contratos incluirão os trimestrais até 2022, com cada um a representar 10 acres-pés de água, equivalente a cerca de 3,26 milhões de galões (12,3 milhões de litros).

Atualmente se um agricultor quiser saber quanto vai custar a água na Califórnia dentro de seis meses, é uma questão de “palpite”, disse numa entrevista Patrick Wolf, da Nasdaq, com os futures a permitirem saber “quais são os palpites de toda a gente”.

A Bloomberg aponta ainda que os contratos destinam-se a servir tanto como cobertura para os maiores consumidores de água da Califórnia face ao aumento exponencial de preços, como ser uma bitola de escassez para os investidores a nível mundial.

“As alterações climáticas, as secas, o aumento da população e a poluição tornarão provavelmente os problemas de escassez de água e o seu preço um tema quente nos próximos anos”, disse o diretor e analista da RBC Capital Markets Deane Dray, citado pela Bloomberg, afiançando ainda que irá “definitivamente acompanhar” a evolução dos futures da água.

Dois mil milhões de pessoas vivem atualmente em países com problemas de acesso à água, e quase dois terços do mundo poderá sofrer quebras no abastecimento de água dentro de quatro anos, disse Tim McCourt, do Grupo CME, à Bloomberg.

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