Ainda em recuperação da Pandemia, cadeia produtiva movimenta economia da região Amazônica


02 de julho de 2020
Ainda em recuperação da Pandemia, cadeia produtiva movimenta economia da região Amazônica
Delivery de tacacá foi uma alternativa para fazer a iguaria chegar nas casas dos clientes que passaram a contar com o serviço, impulsionado pela pandemia (Reprodução/Divulgação)

Mencius Melo – da Revista Cenarium

MANAUS/BELÉM – Com a recente abertura do comércio e a retomada em ritmo lento da indústria na região norte, os setores produtivos que formam a cadeia econômica passam a ver com clareza, quais empreendimentos conseguiram sobreviver, ou até mesmo se superar em meio à crise provocada pela pandemia do novo Coronavírus.

Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDLM), Ralph Assayag, o comércio está em escombros e os efeitos econômicos da pandemia passarão a ser sentidos a partir deste mês.

“Desconheço quem se superou em meio a essa crise, mas posso apontar os que menos se deram mal, que foram os supermercados e as drogarias”, analisou. Pelos nossos cálculos, cerca de 1.500 lojas em Manaus não irão voltar do isolamento e mesmo as que funcionaram como os postos de gasolina, por exemplo, tiveram 70% de perda”, informou.

Ainda segundo Ralph, a luta agora é para tentar salvar o que sobrou. “Nossa preocupação enquanto entidade de classe, é lutar para que os que estão reabrindo tenham como sobreviver com 50% de vendas. Como um restaurante de 80 metros quadrados irá funcionar com 8 mesas? Que lucro ele vai ter com esse volume de vendas?”, questionou.

Tacacaria amazonense produziu kit delivery para entregar nas casas dos clientes (Reprodução/Divulgação)

Delivery funcionou

A empresária Fabíola Kimura do empreendimento Tacacaria Parintins, localizada em Manaus, foi na contramão da perspectiva de Ralph Assayag. A Empreendedora do ramo gastronômico, Fabiola trabalha com uma iguaria irresistível na região amazônica: O tacacá*

Com duas unidades, Fabiola usou as redes sociais para dinamizar as vendas. “A pandemia foi implacável com as lojas e por isso, tivemos que partir para o delivery e confesso: deu muito certo”, comemorou ela. “Usei as redes para vender meus produtos e deu tão certo que hoje tenho um grupo de entregadores de aplicativos que já ficam na porta da tacacaria porque sabem que a demanda não acaba e não fica pouca”, comentou bem humorada.

Com uma unidade no Centro Social Urbano do Parque 10 de novembro e outra no bairro D.Pedro I, a empresária revela que não usa aplicativos como Ifood ou Uber Eats. “O volume já é grande sem utilizarmos essas ferramentas, imagina se ativarmos as vendas por esses meios, aí terei que abrir uma terceira unidade só para o delivery”, observou.

Com inúmeros atrativos, Belém do Pará é um dos destinos mais procurados na região norte do país (Reprodução/Internet)

Turismo no Pará em ritmo lento

Localizado no histórico bairro da Campina, em Belém do Pará, o Hostel Belém teve redução de 95% em sua clientela. Acostumado a receber mochileiros do mundo todo para conhecer as belezas da capital do Pará e da Amazônia paraense, o empreendimento aguarda os próximos meses para tentar reverter o quadro negativo.

Fernando Mendes, proprietário do hotel diz que para segurar a pressão, teve que cortar custos. “Não fechamos, mas, fui obrigado a reduzir despesas, dispensar funcionários e a cortar tudo o que eu podia cortar. Passamos a receber somente pessoas que vinham a tratamento de saúde ou a trabalho, em Belém”, descreveu.

Fernando espera desatar “os nós” que a pandemia gerou na cadeia produtiva do turismo paraense, mesmo com as perspectivas de recomposição dos elos estruturais, Fernando Mendes acredita que o tempo de recuperação será longo para o setor.

“Em julho acredito que teremos uma pequena melhora, porém, isso dependerá da abertura do aeroporto e da rodoviária”. Contudo vamos voltar, mas acredito que até o final do ano teremos no máximo 50% de recuperação do setor”, sentenciou.

Com inúmeros pedidos o empreendedor Abraão Ferreira, muitas vezes sai à campo para levar seus produtos à casa dos clientes (Reprodução/Divulgação)

Inaugurou na pandemia

O empreendedor de Manaus, Abraão Ferreira inaugurou o “Pastel do Chefe” na semana em que a pandemia atingiu Manaus. Em meio a dura realidade que tomou seus investimentos, ele não se abateu. “De portas fechadas, parti para o delivery e foi a melhor decisão que eu tomei”, destacou.

Com o estouro nas vendas, Abraão passou a reavaliar seu negócio. “Vendo 100 pastéis das 15h às 21h só no delivery, o que me leva a crer que apesar de nociva, a pandemia veio para mostrar que o cliente quer a comodidade de ser servido em casa e que hoje, a porta aberta da loja, é mais por simbolismo”, analisou.

Para o pós-pandemia, ele planeja ampliar. “Não posso dizer que vou expandir, mas, pretendo ampliar a loja para vender mais e com isso compro equipamentos em uma loja especializada e passo a empregar mais gente, é assim que vamos sair dessa”, finalizou.

Economista analisa

Vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), a professora Denise Kassama, faz uma análise diante do quadro que apontou uma queda de 1,5% do PIB da região norte e a queda de 21,8% das vendas do comércio em estados como o Amazonas, na região norte.

Para ela, o momento agora é de avaliar com frieza. “Com essa aparente volta à normalidade, vamos entender que existe uma distância entre ‘o querer’ e ‘o acontecer’, neste atual momento”, ponderou Denise.

“O desemprego está altíssimo e se agravou com a pandemia, por isso a população está priorizando bens de primeira necessidade e não produtos como celulares e televisores, que são a base do Polo Industrial de Manaus”, observou.

Ainda segundo a economista, existem diferenças entre as economias do Amazonas e do Pará, por exemplo. “O Pará sofreu tanto quanto o Amazonas, porém, possui uma diversidade de matrizes econômicas e uma forte presença do setor primário, o que me permite avaliar que lá a economia pode se recuperar com maior velocidade”, comparou.

Quanto às impressões que o período deixará sobre a economia, Denise Kassama sentenciou. “A pandemia vai deixar a lição do empreendedorismo e me arrisco a dizer que o cara mais feliz do planeta, é o dono da Ifood”, finalizou.

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