‘Aldear a política’, entidade faz retrospectiva da luta indígena no Brasil em 2022
31 de dezembro de 2022
O ano de 2022 foi ano de lutas e conquistas para os povos indígenas do Brasil, mas entidades representativas querem mais (Reprodução/btmais.com)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) fez um balanço da atuação da entidade junto às pautas do movimento indígena no País. Na avaliação de lideranças da Apib, o ano foi de muitas lutas e “aldear a política” foi a forma de garantir espaço de resistência nas bandeiras dos povos originários do Brasil. Com lideranças na ponta do processo, a Apib comemora a eleição de parlamentares indígenas e aponta a criação do “Ministério dos Povos Originários” como a maior conquista.
Sonia Guajajara foi eleita deputada federal, se tornou ministra de Estado, e é uma das maiores lideranças dos povos indígenas no Brasil (Reprodução/MST)
“O ano de 2022 se mostrou estratégico para os Povos Indígenas. Mobilizações nos territórios, nas redes e nas cidades pautaram a importância da representatividade indígena, a demarcação das terras, do enfrentamento às violências e o racismo. A Apib promoveu mais de 30 ações dentro e fora do Brasil, em 2022. A maior mobilização da história, em Brasília, foi realizada durante o “18° Acampamento Terra Livre”, com a participação de oito mil pessoas de mais de 200 povos de todas as regiões do Brasil”, avaliou a Apib em nota.
“Há mais de 500 anos, os povos originários do Brasil têm lutado contra o genocídio, mas nos últimos quatro anos isso ficou ainda pior com o desgoverno Bolsonaro. Ele e seus aliados incentivam a invasão dos territórios indígenas, a todo momento, e a disputa eleitoral tem intensificado isso. Em menos de dois dias, três parentes foram mortos e outros tantos ficaram feridos”, criticou Dinamam Tuxá, coordenador-executivo da Apib.
A articulação destaca, ainda, que organizações regionais que compõem as bases da Apib fortaleceram suas ações, com assembleias, e recompondo o Fórum de Lideranças Indígenas da Apib. Apoinme, Aty Guasu, Arpin Sudeste, Arpinsul, Comissão Guarani Yvyrupa, Conselho do Povo Terena e Coiab “mobilizaram o movimento indígena para ampliar as incidências políticas, jurídicas e de comunicação, dentro e fora do Brasil”.
O ’18° Acampamento Terra Livre’, que aconteceu em Brasília (DF), foi a maior mobilização dos povos indígenas no Brasil, em 2022 (Reprodução/Vermelho.org)
Reação
Para o antropólogo Alvatir Carolino, o ano de 2022 foi perverso para os povos indígenas, mas também foi um ano de reação. “De 1988, com a promulgação da Constituição, esse foi o ano mais trágico para as populações indígenas no Brasil. O conjunto de maldades do Governo Bolsonaro teve foco e objetivo de desarticular os povos originários no País. O desmonte intencional dos órgãos como a Funai , Ibama, políticas de saúde e educação indígenas teve como objetivo abrir espaço para garimpeiros, grileiros, madeireiros e toda sorte de exploradores em terras indígenas”, lamentou.
“Foi uma sincronia de maldades que teve que contar com a reação dos povos indígenas. Foi um ano de muitas perdas, mas acionou os povos originários para a luta. E o resultado maior disso foi o anúncio da primeira mulher indígena para o primeiro ministério voltado para os povos indígenas do Brasil. A indicação de Sonia Guajajara é uma vitória inédita da sociedade brasileira“, comemorou Alvatir.
Para agentes da sociedade brasileira e cientistas, o Ministério dos Povos Originários é uma vitória que precisa ser alicerçada com um orçamento factível (Reprodução/Cimi)
Para o antropólogo, a criação de um ministério e a nomeação de uma mulher indígena é motivo de comemoração, mas é preciso mais. “Dos escombros do sucateamento das políticas voltadas para os povos indígenas, à criação de um ministério, é preciso entender que se faz necessária uma estrutura e um orçamento que permita a aplicação de políticas voltadas para essas populações. Sem isso, não será possível recolocar os indígenas na agenda brasileira”, finalizou.
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