‘Aldear a política’; mulheres ocupam a programação do quinto dia do Acampamento Terra Livre

O dia do ATL 2022 também foi marcado por mais uma denúncia em âmbito internacional contra o governo brasileiro e o Congresso Nacional, na ONU e no Parlamento Europeu, por violações aos direitos humanos dos povos indígenas (Yusseff Abrahim/CENARIUM)

Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium

MANAUS – O empoderamento e a participação feminina, desde a vida nas comunidades à política institucional, dominaram os debates do quinto dia do Acampamento Terra Livre (ATL), nesta sexta-feira, 8, em Brasília. Com o tema “Nossas Vozes Ancestrais Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”, a palavra de ordem foi a ocupação dos espaços de decisão.

“Nós queremos ocupar a política institucional porque nós queremos participar das decisões deste País. Nós nunca mais vamos aceitar um Brasil sem nós”, disse a líder indígena e coordenadora nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara, na abertura da mesa que reuniu parlamentares e pré-candidatas indígenas.

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Antes do início do debate, as 17 pré-candidatas receberam as bênçãos de caciques e representantes do povo Guarany.

“Essa aqui é a ‘bancada do cocar’ para substituir a ‘bancada ruralista’, a ‘bancada da bala’. Queremos que o Congresso Nacional tenha a cara do Brasil. E para ter a cara do Brasil, tem que ter mais mulheres indígenas”, afirmou Guajajara, lançando sua pré-candidatura à deputada federal pelo PSOL/SP.

Pré-candidata à deputada federal por Minas Gerais, a líder indígena Célia Xakriaba explicou como o grupo interpreta a intenção de entrar na política. “Nós não estamos indo apenas pelo poder, mas para poder fazer; não exatamente por causa, mas pela causa; não é para corromper, mas é para romper, porque queremos ser lembradas não somente como uma política na história, mas queremos fazer história pela política”.

O evento foi marcado pela proposta de um pacto entre as mulheres da ‘bancada do cocar’ e os participantes, para que os indígenas votem em indígenas. “Não basta dizer que gosta de índio, se vocês continuam elegendo pessoas que querem nos matar. Parente vota em parente”, advertiu Célia.

Do Amazonas, a líder indígena Vanda Witoto criticou a falta de compromisso com a qual candidatos não indígenas e organizações agem sobre alguns temas de interesse dos povos originários. “Hoje, o meu povo, a exemplo de outros povos da Amazônia, está sofrendo com a mineração, no município de São Paulo de Olivença. São comunidades que sofreram com uma escavação e, como o Rio Solimões tem uma correnteza muito forte, acumulou terra em frente onde mora o meu povo Witoto”, explica.

Vivendo na área do município de Amaturá, a líder indígena conta que os 178 remanescentes da etnia que, há três anos resiste aos impactos da mineração, precisam recorrer a uma represa para encontrar água para beber. A falta de abastecimento estaria atingindo também os povos Kambeba e Kokama, segundo Witoto.

“Por isso que nós precisamos de representantes nos espaços de tomada de decisão: para construir políticas públicas para nossos povos”.

Empoderamento nas aldeias

Além de maior e mais jovem, a cara do Acampamento Terra Livre 2022 também está mais feminina. A impressão é da representante do povo Gavião, Maria Helena Gavião, do Estado do Maranhão. Participante das últimas cinco edições do ATL, para ela, a construção das lideranças indígenas femininas é um processo que está em curso a partir da iniciativa de mulheres de vários povos indígenas pelo Brasil.

“Lá no povo Gavião a gente tem um projeto que leva a discussão sobre políticas públicas para as mulheres. Fazemos uma articulação potente. As mulheres têm que se inserir nesses espaços para discutir política na aldeia e fora dela”, explica Helena, vice-coordenadora da Articulação de Mulheres Indígenas do Maranhão (Amima).

Maria Helena Gavião é vice-coordenadora da Articulação de Mulheres Indígenas do Estado do Maranhão (Yusseff Abrahim/CENARIUM)

No Mato Grosso, o povo Kayapó conta com um movimento iniciado no ano passado, de acordo com a ativista indígena Irepoiti Metuktire, por meio do Instituto Raoni.

“Na nossa região, nós mulheres não participávamos muito do movimento. A gente sempre ficava excluída, mas agora a gente vem conseguindo um espaço e estamos junto com os homens para isso: ter nossos direitos, mas lutar também pela defesa do nosso território, por nossos filhos, por nossos netos”, disse a ativista.

Para a ativista indígena Irepoiti Metuktire, a luta das mulheres indígenas Kayapó é por mais participação nas decisões da aldeia e para estar ao lado dos homens na defesa do território (Yusseff Abrahim/CENARIUM)

Denúncia no Parlamento Europeu

O dia do ATL 2022 também foi marcado por mais uma denúncia em âmbito internacional contra o governo brasileiro e o Congresso Nacional, na ONU e no Parlamento Europeu, por violações aos direitos humanos dos povos indígenas.

A ação aconteceu por meio de audiência online, onde lideranças de diversas etnias alertaram que os ataques têm sido sistemáticos.

O Acampamento Terra Livre segue até o dia 14. Veja a programação dos próximos dias:

09.04 Sábado

9h | #EmergênciaIndígena – Mobilização nacional dos movimentos

10.04 Domingo

ATL 18 anos

  • Reuniões de alinhamento das regionais para a segunda semana do ATL

11.04 Segunda-feira

9h | Plenária: #JuventudeIndígena – O futuro é agora. Plenária da juventude indígena

14h | Plenária: #IndígenasLGBTQIA+ – Diversidade indígena e a nossa força ancestral

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