Além do fogo, derrubadas e garimpo ilegal, tráfico de animais silvestres é outra ameaça ao bioma amazônico

Répteis da Amazônia estão entre os mais procurados por contrabandistas da fauna amazônica brasileira (Reprodução/Internet)

Mencius Melo – da Revista Cenarium

MANAUS/ BELÉM – A terceira fase da operação Marrakesh, deflagrada nessa quinta-feira, 30, pela Polícia Federal (PF), desarticulou uma organização criminosa que traficava animais de origem amazônica, em especial serpentes.

Lagartos amazônicos são bem cotados no mercado clandestino de animais exóticos (Reprodução/Internet)

A quadrilha possuía braços no Amapá, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Além dos répteis, o grupo contrabandeava tartarugas, lagartos, aranhas, lacraias e escorpiões.  

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Em São Paulo, a PF contou com o apoio do Polícia Ambiental do Estado e prendeu um homem que possuía diversos animais sem autorização, o que leva a crer que se trata de ‘estoque’ para atender ao mercado clandestino de animais exóticos.

No Amapá, onde se acredita ser o ‘centro distribuidor’ da carga, foram espedidos mandados de prisões, mas, nenhum nome foi revelado até a publicação desta matéria.

Acidente revelador

A operação da Polícia Federal teve início apos o acidente em que o estudante de Brasília, no DF, Pedro Henrique Krambeck, de 22 anos, foi picado por uma naja de origem africana.

Pedro Henrique Krambeck, de 22 anos, foi picado por uma cobra da espécie Naja, no DF (reprodução)

A serpente, altamente venenosa,era estranha à fauna brasileira e quase levou o estudante à morte. A partir daí, os agentes começaram a investigar uma possível rede de tráfico envolvendo contrabandistas Brasil afora.

A prática de comercializar animais exóticos é enquadrada dentro da ‘Convenção de Washington’, do qual o Brasil é signatário.

Venenosas, as lacraias estão entre os mais procurados animais peçonhentos, no mercado clandestino de espécies exóticas (Reprodução/Internet)

A REVISTA CENARIUM conversou com o biólogo piauiense Pablo Cerqueira. Pablo é doutor em zoologia pelo Museu Paraense Emílio Goeldi.

Para o pesquisador, a prática é um desserviço à natureza. “O tráfico de animais é sempre maléfico para a fauna. A remoção de indivíduos silvestres do seu habitat natural tem um potencial enorme de redução do tamanho populacional, uma das causas diretas para a extinção de espécies”, sentenciou. 

Ainda segundo Cerqueira, a prática ilegal acelera o processo de eliminação de espécies da natureza. “Ao se reduzir a quantidade de indivíduos de uma espécie na natureza isso afeta as taxas de reprodução das espécies, que é mais grave ainda para aquelas que levam mais tempo para reproduzir ou que produzem poucos filhotes por ninhada. O tráfico de animais e perda de habitat natural são as principais causas de extinções atualmente”, lamentou.

O especialista chama atenção para outros desdobramentos decorrentes do tráfico. “Muitas vezes os indivíduos são adquiridos com pouca ou nenhuma noção do comportamento do animal e de como cuidá-lo corretamente e com o tempo este animal pode crescer mais do que o esperado ou simplesmente a pessoa perder o interesse e soltá-la por conta própria”, alertou.

Segundo Cerqueira, animais que foram retirados da natureza não devem ser soltos sem a devida supervisão, pois estes podem estar invadindo o habitat de outras espécies causando assim um desequilíbrio local por meio de predação ou até mesmo introduzindo novas doenças e patógenos neste novo ambiente.

Comércio sem riscos ao animal

Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, ou Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção no Brasil. Também conhecida por Convenção de Washington, é um acordo multilateral assinado em Washington DC, capital dos EUA, em 3 de março de 1973, agrupando um grande número de Estados.

O objetivo é assegurar que o comércio de animais e plantas selvagens, e de produtos deles derivados, não ponha em risco a sobrevivência das espécies nem constitua um perigo para a manutenção da biodiversidade.

Escorpiões também estão no pacote de produtos clandestinos, oferecidos pela rede de contrabando que atua no Brasil (Reprodução/Internet)

O acordo CITES foi redigido em resultado de uma resolução adotada em 1963 no seio da União Mundial para a Conservação da Natureza (World Conservation Union ou IUCN), que prevê vários níveis de proteção e abrange atualmente cerca de 30 mil espécies da fauna e flora selvagens.

Desde que o acordo CITES entrou em vigor, em 1975, não houve notificação da extinção devido ao comércio internacional de qualquer das espécies incluídas.

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