Aluno acusado de apologia ao nazismo em instituição do MS é indiciado por injúria racial

Aluno acusado de racismo e nazismo escreveu em aplicativo de conversas: 'Tu não é ariano, te coloco pra assar' (Reprodução)

Com informações do InfoGlobo

RIO — O estudante de informática José Evaristo Diel Freitas, de 18 anos, foi indiciado pelo crime de injúria racial. Ele foi acusado por três alunos do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS), em Campo Grande, de realizar ameaças e insultos preconceituosos tanto virtualmente como presencialmente. Em uma das mensagens, o suspeito escreveu que “tu não é ariano, te coloco pra assar”.

O indiciamento foi confirmado ao GLOBO nessa terça-feira pelo delegado Marcelo Damaceno, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca). De acordo com o investigador, o inquérito já encontrou suficientes indícios do crime.

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Damaceno aguarda apenas ouvir mais algumas testemunhas para finalizar a investigação. O delegado afirmou que o inquérito deve ser encaminhado ao Ministério Público do Estado de Mato Grosso em até 15 dias. O crime de injúria racial tem pena de um a três anos de reclusão e multa.

Neonazismo

Em entrevista ao GLOBO sob condição de anonimato, uma das vítimas afirmou que José Evaristo se apresentava como nazista em rodas de conversa na instituição. Segundo o relato, ele começou a frequentar o campus apenas em meados de fevereiro deste ano e não tinha amigos. Os dois são colegas de turma no curso médio técnico de informática do IFMS.

Foi em um grupo no aplicativo Discord, usado geralmente para games, que José Evaristo escreveu a um colega de sala de aula: “tu não é ariano, te coloco pra assar”. Antes, ele havia mandado uma mensagem em que dizia “faço saudação nazista e te mando se ‘concentrar'”, supostamente em alusão a campos de concentração.

Mensagens foram trocadas em grupo da turma no aplicativo Discord Foto: Reprodução
Mensagens foram trocadas em grupo da turma no aplicativo Discord Foto: Reprodução

No dia 24 de fevereiro, conta a vítima, o suspeito novamente fez uma série de comentários racistas em uma lanchonete localizada a cerca de 500 metros do campus do IFMS, onde alunos costumam comer. José Evaristo teria seguido um grupo de estudantes até o local, quando abordou uma menina se dizendo nazista.

“Ela olhou com espanto, e ele respondeu: ‘O que foi? Você é judia por acaso?’. Quando ela disse que sim, ele falou que podia ficar tranquila que ela seria a última a morrer. Apontou para mim e disse que eu seria o primeiro, porque sou maior e negro, então tenho mais massa escura. Em seguida apontou para o colega à minha esquerda e disse que ele seria o segundo por ser negro e menor. Depois apontou para um terceiro colega e não falou mais nada. E, no último, disse que ele deveria torturado”, disse a vítima, que conta ter entrado em “estado de choque”.

No dia seguinte ao ocorrido, a vítima e sua mãe foram ao IFMS denunciar o caso. Em 3 de março, houve uma nova reunião com pais de outros alunos que relataram ameaças de José Evaristo. Na ocasião, foi comunicada a suspensão provisória do acusado, que se desculpou dias depois.

Relatos feitos por outros alunos expõem que José Evaristo também comentava sobre zoofilia e tinha o mesmo comportamente desde o ensino fundamental. Em ato realizado nesta quinta-feira em frente ao campus do IFMS, alunos exibiram cartazes e bradaram que “racistas e nazistas não passarão”. Uma das organizadoras, a estudante Maria Eduarda Macedo, representante da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), disse que “alguns alunos da sala dele foram atacados pela cor da pele e sofreram ameaça de massacre”.

“Antes de formular a denúncia, outros colegas falaram com a gente que ele tinha assuntos estranhos. Ele tinha comentado que essa escola é boa para fazer um massacre”, falou a vítima.

Defesa nega crime

O advogado José Freitas, pai de José Evaristo, afirmou à reportagem que as acusações apresentadas carecem de provas. Ele disse ainda que a frase ‘tu não é ariano’ teria sido dita pelo filho após ser incitado por um grupo de colegas durante uma partida online de videogame.

“Não existe materialidade nenhuma. Eles trouxeram diversas provas que serão usadas contra eles no devido momento. Todos aqueles que ofenderam a honra de José Evaristo serão responsabilizados civil e criminalmente”, disse.

“Tirando essa infelicidade, não existe vinculo ao nazismo. O aluno foi afastado do IFMS depois que o caso ganhou repercussão.

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