Alunos disputam mesas e cadeiras para assistir às aulas em ilha no Pará
Por: Fabyo Cruz
22 de fevereiro de 2025
BELÉM (PA) – Estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Julião Castro, na cidade de Bagre, localizada no Arquipélago do Marajó, no Pará, precisam disputar mesas e cadeiras para conseguirem assistir às aulas, por conta da falta de pelo menos 50 carteiras escolares. O problema afeta a unidade educacional desde 2013 e faz com que a direção de ensino recorra ao revezamento de turmas para conseguir atender à demanda.
A situação foi exposta em uma mensagem enviada pela direção da escola ao grupo de pais e responsáveis, que confirmou a ausência de mobiliário adequado há mais de uma década. A escola explicou ainda que, até o momento, as solicitações feitas à Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc-PA) não foram atendidas, e que a única previsão de recebimento de novos equipamentos era no início deste ano.
“Queremos comunicar aos pais que desde 2013 a escola não recebe mobiliários, cadeiras e mesas da Seduc e, por isso, apresenta uma falta de pelo menos 50 mesas de alunos. Já fizemos várias vezes a solicitação do referido material, porém até o momento nada recebemos, somente com uma previsão ainda para este início de ano. Sendo assim, no turno da manhã, vai ser necessário fazer um revezamento de turmas, até resolvermos o problema. Apenas uma turma por dia vai ficar sem aula”, diz a mensagem enviada pela direção da escola aos pais.

A falta de estrutura da escola não é um problema novo. Em 2019, quando a instituição completou 68 anos, alunos, professores e responsáveis organizaram um mutirão para limpar, pintar e revitalizar o espaço com recursos próprios, uma tentativa de melhorar as condições de ensino diante da falta de apoio institucional.

Uma mãe de aluno, que preferiu não se identificar, relatou como a falta de mobiliário afeta a rotina de seu filho: “O diretor colocou no grupo da escola explicando que, desde 2013, a escola não recebe mesas, cadeiras, nada da Seduc. Então, isso já vem acontecendo há muito tempo e nunca resolveram. Meu filho, que está no segundo ano, precisa sair cedo para tentar garantir uma mesa. Ele sempre me diz: ‘Mãe, eu vou cedo porque quero pegar uma mesa, não quero estudar em pé’”.

A mãe do estudante de 16 anos disse ainda que essa disputa por um lugar para estudar tem sido uma constante para os alunos. “Eles têm que chegar mais cedo, porque a disputa é grande. O meu filho sempre chega antes para garantir o espaço, porque, sem uma cadeira, ele não tem como estudar. Isso tem gerado um grande desconforto e dificuldade para todos os alunos”, afirmou.
Desafios na educação
O município de Bagre, com uma população de cerca de 31.892 habitantes, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, enfrenta outros desafios educacionais. A taxa de escolarização de crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos era de 82,7%, de acordo com dados de 2010, mas a falta de infraestrutura nas escolas tem comprometido o avanço do ensino na região. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Bagre é de 0,471, refletindo as desigualdades e dificuldades socioeconômicas enfrentadas pela população.

A falta de recursos na Escola Julião Castro não é um caso isolado. Outros estabelecimentos de ensino no município e na região do Marajó sofrem com a escassez de materiais e a falta de investimento no setor educacional. A situação reflete as disparidades educacionais entre os grandes centros urbanos e as áreas mais periféricas e isoladas do Pará.
A CENARIUM solicitou um posicionamento da Seduc-PA sobre a falta de mobiliário na Escola Julião Castro e a razão do atraso na entrega de novos equipamentos. Por meio de nota, a secretaria informou que “as mobílias serão encaminhadas até o início de março”.