Alunos e colegas lamentam morte de professor da Ufam por Covid-19: ‘um dos melhores e mais queridos’

O professor e militante do PSOL estava internado com Covid-19 deste fevereiro (Reprodução/Facebook)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A comunidade acadêmica do Amazonas sofreu mais uma perda, nesta quinta-feira, 12, de um educador, por Covid-19. O sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Fernando de Souza Santos, de 56 anos, lutava contra a doença desde o começo de fevereiro deste ano, mas não resistiu às complicações do vírus e morreu em um hospital público de Manaus. Alunos e colegas lamentaram a morte do docente e prestaram homenagens nas redes sociais.

“Infelizmente a Covid conseguiu levar alguém que eu considerava muito, estou extremamente triste com a perda desse excelente profissional. O professor Luiz Fernando Souza Santos foi um dos meus professores mais queridos no primeiro período da universidade. Era um homem humilde, inteligente, prestativo, dedicado”, lamentou Jéssica Souza, estudante de Geografia da Ufam.

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Jéssica foi aluna do professor e teve aulas de sociologia com ele (Reprodução)

Jéssica conta que conheceu Luiz Fernando em 2017, quando teve aulas de sociologia com ele e ficou encantada com a disciplina. “Até pensei em estudar Ciências Sociais”, conta ela. A estudante salientou que, na época, tudo na Ufam era novidade para ela que, como caloura, ficou empolgada em ter um professor que se colocava no mesmo nível de um aluno.

“Um dos primeiros trabalhos que ele nos pediu foi para encaminharmos a resposta de algumas questões na formatação ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas] e, absolutamente ninguém da turma sabia como fazer. Alguns alunos escreveram no próprio corpo do texto da mensagem e encaminharam por e-mail, mas, mesmo assim, o professor Luiz aceitou todos os trabalhos não rebaixando a nota de ninguém e ensinou a forma certa de fazer”, lembrou.

Jéssica lembra ainda um momento delicado que passou na trajetória acadêmica, quando foi assediada na instituição. O professor me deu todo o apoio que eu precisava no momento, tal como demonstrou preocupação com a minha segurança e me aconselhou a não ficar sozinha pelo campus até o pervertido me deixar em paz”, salientou.

Tristeza

O professor Sérgio Freire, também da Ufam, lamentou a morte do amigo e companheiro de trabalho. “A tristeza bate forte de novo. Perdemos o companheiro Luiz Fernando Souza Santos. Mais um colega da Ufam que esse vírus miserável leva… Que tristeza, meu Deus”, escreveu, no Facebook.

A deputada federal do Psol, em São Paulo, Sâmia Bomfim, também publicou uma mensagem ao professor e militante do partido e prestou solidariedade à família do educador. No texto, a parlamentar protestou ainda contra a política negacionista e o caos promovido pelos governos.

“Na noite de ontem recebi a notícia de que perdemos mais um lutador para a Covid-19. Luiz Fernando Souza Santos era professor da Ufam, em Manaus, militante do Psol, um intelectual com importante contribuição sobre o Brasil e a Amazônia, um companheiro aguerrido. Luiz é vítima da sanha negacionista e do caos promovido pelos governos, quero enviar a minha solidariedade para sua família e amigos. Por ele e pelas mais de 270 mil vítimas brasileiras, seguiremos a luta pela derrota do negacionismo e por vacina para todos já! Luiz Fernando, presente!”, escreveu.

Sâmio protestou ainda contra a política negacionista e o caos promovido pelos governos (Reprodução)

Intelectual e ativista

Intelectual marxista e ativista do Psol, Luiz Fernando defendia o pensamento social e a teoria sociológica. Ele era professor colaborador do Programa de Mestrado Profissional em Filosofia da Ufam. Na instituição, onde se graduou em Ciências Sociais no ano de 1995 e se formou como mestre em Programa de Pós-Graduação Natureza e Cultura na Amazônia, em 2002. Pela Universidade Estadual de Campinas, em 2019, se tornou doutor em Sociologia.

O professor foi militante do Psol (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Em seu livro “O Panóptico Verde: a ambientalização da Amazônia”, resultado de seu mestrado em 2002, Luiz Fernando apresenta um estudo sobre a Amazônia no contexto atual e propõe debates sobre a crise ambiental nas sociedades contemporâneas e uma análise crítica desses discursos e práticas ambientalistas.

Na sua tese de doutorado, intitulado como “Entre o Mágico e o Cruel: a Amazônia no pensamento marxista brasileiro”, o professor desenvolve uma análise sobre um momento particular da história das Ciências Sociais brasileira, relativa ao encontro entre o marxismo brasileiro da Escola Sociológica Paulista e a Amazônia.

A infecção

No dia 2 de fevereiro deste ano, Luiz Fernando publicou uma mensagem nas redes sociais anunciando o diagnóstico positivo para o novo coronavírus. No texto, ele faz uma reflexão sobre cultura do cancelamento e como a pandemia tem sido dura para Manaus. O professor falou ainda sobre a necessidade de usar o contexto pedagógico do vírus para humanizar as pessoas e, dessa forma, destruir a Covid-19.

Luiz Fernando anunciou, nas redes sociais, que testou positivo para a Covid-19 (Reprodução)

Cinco dias depois, no dia 7 de fevereiro, ele publicou uma foto na qual aparece em um leito de um hospital de Manaus. Ele permaneceu internado até essa quinta-feira, 11 de março. Luiz Fernando de Souza Santos deixa a mulher Houry Carla, o filho Lucas e as filhas Larissa Fernanda e Rebecca.

Educador publicou uma foto em um leito de hospital (Reprodução)

Covid-19 no Amazonas

O Amazonas chegou a 328.763 casos do novo coronavírus até essa quinta-feira, 11, sendo 152.107 de Manaus (46,27%) e 176.656 do interior (53,73%). O Estado tem 11.431 vidas perdidas para a Covid-19. Entre pacientes na capital, há 8.106 óbitos pelo vírus. No interior, os 61 municípios têm 3.325 óbitos confirmados. Os dados são do boletim epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM).

Segundo a fundação, Manaus tem 811 pacientes internados com Covid-19. Desses, 391 em leitos clínicos (75 na rede privada e 316 na rede pública), 398 em UTI (102 na rede privada e 296 na rede pública) e 22 em sala vermelha, estrutura voltada à assistência temporária para estabilização de pacientes críticos/graves para posterior encaminhamento a outros pontos da rede de atenção à saúde.

Entre os pacientes internados considerados suspeitos e que aguardam a confirmação do diagnóstico, há, ainda, outros 217 na capital. Desses, 167 estão em leitos clínicos (27 na rede privada e 140 na rede pública), 34 estão em UTI (6 na rede privada e 28 na rede pública) e 16 em sala vermelha.

No interior do Estado, há outros 337 pacientes internados com Covid-19 na rede pública de saúde, conforme a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM). São 35 em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) e 302 em leitos clínicos.

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