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Amapá tem primeiro ninho ativo com filhote de gavião-real monitorado pelo Projeto Harpia
A espécie depende de florestas para construir seus ninhos em árvores bem altas (Divulgação/ Inpa)
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31 de janeiro de 2021
Com informações da assessoria
MANAUS – Acompanhar um ninho de gavião-real (Harpia harpyja) com filhote de dois meses na Comunidade União, em Porto Grande, município do Amapá, trouxe otimismo à equipe do Projeto Harpia, uma rede de apoio pela conservação da espécie de âmbito nacional e que nasceu no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). A espécie que está ameaçada de extinção no Brasil tem crescimento populacional lento e precisa de extensas áreas preservadas para sobreviver.
O ninho é o primeiro ativo com a presença de um filhote no Amapá, anunciado ao Projeto Harpia, segundo a coordenadora de campo do projeto, a pesquisadora do Inpa Tânia Sanaiotti. “Outros dois ninhos foram registrados entre os anos de 2009 e 2012 por pesquisadores de outros projetos Christian Andretti e Marcus Canuto, entretanto, visitas realizadas por nossa equipe não encontraram a presença da ave ou do ninho desde então”, contou Sanaiotti.
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De acordo com a tecnologista do Inpa e colaboradora do Projeto Harpia, Tania Pimentel, o ninho em Porto Grande fica próximo a um ramal, sendo um convite aos observadores de aves e amantes da natureza e por outro lado uma ameaça à sobrevivência da família de gavião-real por estar exposta às pessoas que circulam em carros e motos. Pimentel e o fotógrafo Fábio Sian foram em novembro ver de perto a situação do filhote. “Este ninho com seu filhote deve ser valorizado pela sua raridade no estado, e um dos desafios é manter as matas na região do ninho, explicou Pimentel, bióloga com doutorado em Ecologia Aplicada.
O contato com o Projeto Harpia foi feito pelo técnico em extensão rural da Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Amapá (SDR) Luiz Brito da Silva, que foi avisado sobre o filhote por um comunitário. “Parti em busca de encontrar instituições e parceiros que pudessem auxiliar na conscientização para a proteção do ninho e da família de gavião-real”, conta Silva, que nunca tinha visto uma harpia.
Luiz visitou vários órgãos em Macapá-AP, e no Bioparque da Amazônia, Marina Macedo o informou sobre o Projeto Harpia e ela fez o relato da novidade pelo instagram do Projeto, e a coordenadora da articulação institucional, Helena Aguiar, encaminhou a demanda para a equipe de campo.
Considerado a maior ave de rapina do Brasil, o gavião-real, também chamado de harpia, ocorre nas Américas Central e do Sul, mas a maior população encontra-se na Amazônia considerando a ampla extensão de floresta ainda disponível no bioma. As principais ameaças são a caça e a perda de hábitat pelo desmatamento e plantio de soja.
A espécie depende de florestas para construir seus ninhos em árvores bem altas. Em Porto Grande o ninho, que está a 30 metros de altura encontra-se em um angelim, e como o tronco está comprometido, a madeira não foi explorada, para sorte da família harpia. Em se tratando de uma árvore próxima a estrada expõe a harpia aos riscos de muitos viajantes desavisados e curiosos, ou mesmos os que passam andando pelo local.
O ninho é monitorado semanalmente pelo técnico de extensão rural da SDR e voluntários. A ideia é agregar parceiros durante 2021, já que o filhote dependerá exclusivamente dos pais para trazerem alimento até o seu primeiro ano de vida. No dia de campo acompanhado pela equipe, Silva contou que o macho trouxe uma preguiça para alimentar o filhote. “A sobrevivência do filhote dependente diretamente da sobrevivência dos adultos”, ressalta Sanaiotti.
Preservar a árvore do ninho é uma das ferramentas de conservação da espécie realizada pelo Projeto Harpia. A espécie de águia retorna a cada dois ou três anos para se reproduzir na mesma árvore.
Ações do Projeto Harpia
Para trabalhar a sensibilização ambiental com a comunidade, o Projeto Harpia doou dois livros produzidos pela Nitro Imagens, “Harpia” e “Projeto Harpia 20 anos” de autoria do fotógrafo João Marcos Rosa.e do escritor Gustavo Nolasco. Em linguagem acessível e com belíssimas imagens, as obras serão utilizadas em atividades possíveis durante a pandemia e nas aulas escolares quando forem retomadas de forma presencial.
Segundo Sanaiotti, o envolvimento da comunidade do entorno do ninho e de instituições do Amapá são fundamentais para que o filhote consiga sobreviver e se dispersar pela região, hoje com floresta fragmentada. “Conhecer a biodiversidade local é uma das formas de valorizar o patrimônio do município de Porto Grande e do Amapá”, destaca a pesquisadora.
Vulnerável
A espécie Harpia harpyja está classificada na Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas na categoria Vulnerável. Nos últimos dez dias no Amapá, houve quatro resgates de harpia por ações antrópicas, e em nenhum dos casos as aves puderam retornar às matas do Estado.
O quadro não é exclusivo do estado vizinho, no Amazonas somente durante a pandemia de Covid-19 em 2020 houve dois resgates. Um dos casos foi de um gavião-real alvo de disparos que foi a óbito, apesar dos esforços das equipes envolvidas do Centro Triagem de Animais Silvestres (Cetas/Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Icmbio) e clínica veterinária voluntária. O segundo resgate, um filhotinho, sobreviveu graças aos cuidados da equipe do zoológico do CIGS.
Projeto Harpia
Iniciado no Inpa, em 1997, o Projeto Harpia conta atualmente com vários grupos regionais e núcleos em outros biomas, unindo esforços de várias instituições. O objetivo é devolver à natureza o maior número de harpias possível, para que possam deixar sua contribuição genética para as populações da espécie no Brasil.
Mapear ninhos, sensibilizar proprietários particulares ou entorno de Unidades de Conservação é um dos caminhos para manter os sítios reprodutivos em pé e aumentar as chances de sobrevivência do filhote durante a dispersão. Atualmente 60 ninhos ativos são monitorados pelo Projeto Harpia nos biomas Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. “Temos ainda que ampliar a divulgação para os municípios do interior dos estados da Amazônia, captar recursos para as ações locais e buscar o comprometimento dos órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental e uso da terra”, conta Sanaiotti.
O Projeto recebe financiamento e doações nacionais e internacionais, como Vale, Veracel no Brasil, ABUN (Artists and Biologists United for Nature), LogNature, Beauval Nature Association (França) e Zoológico de Nuremberg (Alemanha). O Instituto Últimos Refúgios, organização socioambiental e cultural sem fins lucrativos, abraçou o Projeto Harpia e está apoiando em áreas importantes, como a difusão científica e gestão de recursos.
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