Amapá volta a registrar mortes de trans e travestis após três anos, afirma dossiê

Bandeira do orgulho trans com o símbolo de luto (Reprodução/ Internet)

Victória Sales – Da Revista Cenarium

MANAUS – Informações divulgadas na sexta-feira, 28, pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), mostram que o Amapá voltou a registrar, em 2021, mortes de pessoas trans e travestis depois de três anos. Com isso, o assunto coloca em discussão a violência contra essas pessoas no Dia Nacional da Visibilidade Trans, comemorado neste sábado, 29.

Ainda segundo o dossiê, o Estado registrou duas mortes no ano passado, sendo que os últimos registros foram feitos em 2017, com um óbito. A Antra destaca, ainda, que os números não são oficiais, pois, não foi feito um levantamento pelo governo federal, mas ressalta que a associação faz uma pesquisa a partir de dados de relatos, órgãos públicos e entidades.

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O sociólogo Luiz Antonio afirma que o machismo tem muitas facetas. Combinado com a discriminação e o preconceito, essas facetas são como ácido que vão corroendo a existência das coisas e das pessoas, inclusive, a vida delas. “Então, você tem, de um lado, a discriminação e o enorme preconceito em relação aos trans e travestis, mas, por outro lado, eles se relacionam também com homens que se consideram héteros”, destacou.

Leia mais: Brasil registrou 140 assassinatos de pessoas trans em 2021, aponta levantamento

Luiz explica que, por esse motivo, é frequente que os homens que se consideram héteros se choquem, estranhem, se revoltem, após uma relação afetiva e, sobretudo, uma relação sexual. “Muito da violência que essa população é submetida é, exatamente, por conta disso. É que a relação afetiva e sexual desses homens violentos, e que sentem atração por trans ou travestis, revela essa maldade em forma de violência física que vai levar à morte”, destacou.

“A questão central que a gente vai compreender é a inexistência de punição. Você tem dois tipos de violência explícita, no País, a verbal e a física, que crescem, exponencialmente, de ano a ano, e que não têm combate, não tem enfrentamento. O machismo estrutural combinado com um Estado brasileiro onde se tem um presidente da República que desdenha e estimula a violência, é óbvio que esse estímulo vai materializar no aumento dos registros de mortes”, contou.

Dados

O relatório aponta, ainda, que os Estados que mais apresentaram registros de vítimas, em 2021, foram São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco. O documento reafirma que entre as vítimas registradas estavam uma mulher de 30 anos, conhecida como “Maquita”, e outra mulher de 41 anos, conhecida como “Monalisa”. Vale ressaltar, quem o Atlas da Violência do ano passado trouxe informações que passaram pelo sistema de Saúde, em 2019, mas por falta de informações, não trouxe a motivação das agressões.

Importante ressaltar também que, em 2021, aproximadamente, 140 assassinatos de pessoas trans foram registrados no Brasil, tendo 135 vítimas travestis e mulheres transexuais e cinco homens trans e pessoas trans masculinas. Apesar do registrado, o número foi menor que o identificado em 2019, o qual contabilizou 124 óbitos. Com isso, o número identificado em 2021 está acima da média, desde 2008, onde foram contabilizados 123,8 homicídios anuais.

País que mais mata

Pelo 13º ano consecutivo, o Brasil se tornou o País que mais mata pessoas trans. Entre os assassinatos, 53% dos casos tinham entre 18 e 29 anos, 28% entre 30 e 39 anos, 10% entre 40 e 49 anos, 5% entre 13 e 17 anos, e 3% entre 50 e 59 anos. As principais vítimas do crime foram profissionais do sexo. O estudo destaca também a falta de dados, pela ausência de um recorte que contemple pessoas trans, em estatísticas de secretaria de segurança e instituições de direitos humanos.

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