Amazonas é 5º colocado do país em número de enfermeiros mortos pela Covid-19

Em meio à pressão do ambiente de trabalho, sob o risco biológico, enfermeiros enfermeiras, lutam para salvar vidas, durante a pandemia do novo Coronavírus (Reprodução/Agência Brasil)

Mencius Melo – da Revista Cenarium

O Amazonas é o quinto colocado do país em número de enfermeiros mortos pelo novo Coronavírus, segundo informou o Conselho Regional de Enfermagem do Amazonas (Coren/AM) à REVISTA CENARIUM. Até esta terça-feira, 12, Dia Nacional do Enfermeiro, ao menos 20 profissionais perderam a vida para a doença.

Segundo Sandro André da Silva, Presidente do Conselho, os números chamam atenção. “Do início da pandemia no Estado até agora, tivemos 20 óbitos [12 mulheres e oito homens]”, destacou.

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Na linha de frente, as mulheres compõem o grupo que mais sofre com a contaminação da Covid-19. Segundo Sandro, isso é explicado porque a profissão é muito abraçada pelo sexo feminino. O número é maior devido à procura pela profissão. “As mulheres são maior número, porque 85% da enfermagem é composta por mulheres”, explicou.

Mais qualidade

Questionado sobre a proteção dos profissionais que estão na linha de frente, o presidente do Coren/AM chamou a atenção para a qualidade dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s). “No início da pandemia estava crítico, além do número reduzido, a qualidade era péssima”, relembrou. “Hoje, temos uma discreta qualidade, mas, reconheço que ainda faltam EPI’s para mutas instituições”, criticou. Entre os materiais, ele cita dois que estão fazendo falta. “Recebemos muitas máscaras e viseiras, mas esqueceram o avental e o gorro, que hoje são os mais pedidos”, apontou.

O medo ronda os profissionais

Na trincheira dos ambulatórios, alojamentos hospitalares e centros cirúrgicos, a enfermeira Andréia Silva, 36, há dois anos na profissão, relatou à REVISTA CENARIUM o clima de roleta russa vivido diariamente por enfermeiros e enfermeiras. Na área obstétrica de uma maternidade, Andréia Silva trabalha com grávidas, muitas portadoras do novo Coronavírus. “Recebemos grávidas com a Covid -19 e quando percebemos que o quadro é grave, já internamos”, detalhou. O trabalho delicado fica dobrado quando o parto está a caminho. “O pior é quando a grávida está com a doença e entra em trabalho de parto. Já tivemos uma que morreu logo após dar a luz”, lamentou.

“Estamos num beco escuro…”

A enfermeira relata o temor constante de uma contaminação. “Tenho medo porque é um vírus desconhecido, não existe essa de comorbidade, presença de outras doenças, na mesma situação, vi gente sarada, praticante de esportes, saudável, morrer”, observou. Andreia conta nos dedos os parceiros de profissão que se contaminaram e as baixas. “Perdemos um médico e mais de dez colegas meus, já foram contaminados”, informou. Questionada se pensa em se afastar, ela declarou. “Fiz um juramento profissional e mesmo com o temor, tenho que ir, mas, reconheço: estamos num beco escuro…”, finalizou.

“Essa pandemia é diferente de tudo que já tinha visto”

Enfermeira há 21 anos, Edinéia Wanzeller já atuou em todos os prontos socorros da cidade e também trabalha no hospital geral de Boa Vista (RR). Por conta da pandemia, retornou a Manaus para atuar no hospital de campanha do município. A enfermeira tem um filho de 26 anos, estudante de medicina.

“Essa pandemia é diferente de tudo que eu já tinha visto. Meu medo maior é de levar algo para dentro de casa, para meu marido e meu filho. Eu fico em um local separado, uso máscara dentro de casa, peço para não se aproximarem de mim. Não tem abraço, aperto de mão. Só nos olhamos de longe, tudo com maior cuidado. Apesar disso, não tenho medo de trabalhar, porque eu sei que os pacientes precisam da minha ajuda e isso é gratificante para mim”.

Apoio psicológico

Sandro André, do Coren/AM, informou que o sistema Cofen – Coren criou um canal para atendimento psicológico aos profissionais da enfermagem. “O canal funciona 24h e lá o profissional irá encontrar apoio psicológico com acesso direto pelo link”, finalizou.

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