Amazonas registra alta de Covid-19 e vírus respiratório entre vulneráveis
Por: Fred Santana
10 de setembro de 2025
MANAUS (AM) – O último Boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que a Covid-19 voltou a ser a principal causa de hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre idosos no Amazonas e no Rio de Janeiro nas últimas semanas. O documento, divulgado na quinta-feira, 4 referente à Semana Epidemiológica 35, entre 24 e 30 de agosto, indica que a circulação do Sars-CoV-2 exige atenção redobrada para a atualização da vacinação dos grupos de risco.
No Amazonas, além do aumento das internações por Covid-19 em pessoas idosas, o boletim destacou um crescimento expressivo de casos de SRAG em crianças de até quatro anos, impulsionado pelo avanço do Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Segundo a análise, a presença do vírus tem resultado em hospitalizações crescentes, o que preocupa autoridades de saúde devido ao impacto sobre a faixa etária infantil.

“Na realidade, trata-se de uma epidemia que atingiu níveis de incidência altos em menores de cinco anos, ao longo de agosto, especialmente em menores de 2 anos. Entre as pessoas com 65 ou mais anos, também houve acentuado aumento e isso se deve, provavelmente, a uma soma de efeitos, os quais incluem o período de recesso/férias, incluindo de escolares, mas também o completo relaxamento e descaso com a Covid-19”, explicou à CENARIUM o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz da Amazônia.
Outro fator que está contribuindo para este aumento é a queda na cobertura vacinal da população. “Um outro fator, seriam as coberturas vacinais contra a doença e seus esquemas, especialmente as doses de reforço, como idosos. No entanto, este é um sério equívoco, pois a doença segue matando milhares de pessoas, mundialmente”, alerta Jesem.
Negacionismo
A campanha de desinformação promovida por políticos locais também pode ser um fator que contribui para a queda na imunização. Na última semana, a deputada estadual Débora Menezes (PL-AM) se manifestou contra a vacinação de crianças no Amazonas. A parlamentar divulgou, no último dia 29 de agosto, em seus perfis nas redes sociais, um vídeo em que classifica como “absurdo” um documento entregue a pais de alunos de um colégio de Manaus que exige a vacinação de crianças contra a Covid-19. Em novembro de 2023, Menezes apresentou na Assembleia Legislativa um projeto de lei para proibir a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 em crianças de zero a cinco anos.
“A irresponsável e desarrazoada narrativa antivacina da deputada Débora Menezes, sem dúvida, é um sério problema que segue impune no País. Pessoas como ela, certamente contribuem, em alguma medida, para o visível e preocupante aumento da incidência de SRAG, justamente entre escolares de 5-14 anos do Amazonas, em agosto/2025”, alertou Jesem Orellana.
Estados com tendência de alta
Outro estado amazônico monitorado, o Amapá, apresentou crescimento de SRAG especialmente entre crianças e adolescentes, relacionado ao aumento de casos de rinovírus. Essa tendência também foi observada em Goiás, no Distrito Federal e no Rio de Janeiro. Já no Espírito Santo, o aumento de casos atinge principalmente a população idosa.
A responsável pelo boletim, pesquisadora Tatiana Portella, do Programa de Computação Científica da Fiocruz, reforçou que, embora os índices de Covid-19 ainda não sejam considerados alarmantes, a circulação recente do vírus em várias regiões representa um sinal de alerta. Ela recomenda que idosos e pessoas imunocomprometidas mantenham doses de reforço a cada seis meses, enquanto indivíduos com comorbidades devem atualizar a proteção uma vez ao ano.
Além disso, a especialista orientou que crianças e adolescentes que apresentem sintomas gripais permaneçam em casa, evitando frequentar a escola, diante da forte circulação de rinovírus entre essas faixas etárias.
Os dados das últimas quatro semanas epidemiológicas mostraram que, entre os casos positivos de SRAG, 8,1% foram atribuídos à influenza A, 1,7% à influenza B, 25,6% ao VSR, 47% ao rinovírus e 14% ao Sars-CoV-2. Nos registros de óbitos, 23,8% foram associados à influenza A, 2,2% à influenza B, 18,1% ao VSR, 27,9% ao rinovírus e 26,7% ao Sars-CoV-2.