Ameaçado no Pará, ativista busca exílio fora do Brasil
Por: Fabyo Cruz
27 de maio de 2025
BELÉM (PA) – O ativista ambiental Pedro Paulo de Moraes Lima, de 61 anos, diretor da ONG Guardiões e Amigos do Parque Ecológico (Gape), em Belém (PA), afirmou, em vídeo, que pretende deixar o Brasil após uma série de ameaças o forçaram a se refugiar em Manaus (AM). Na gravação divulgada na segunda-feira, 26, no perfil oficial da organização no Instagram, Pedro afirmou que aguarda apoio institucional para sair do País com destino a São José, capital da Costa Rica.
“Estou refugiado no Estado do Amazonas, na capital Manaus (…). Agora eu vou até a delegacia da Cachoeirinha me apresentar, para que lá eles possam decidir sobre a minha segurança. E também gostaria que a Comissão de Direitos Humanos da OAB Amazonas acompanhasse o meu caso até a minha saída do País, em São José da Costa Rica, onde lá estarei defendendo o Acordo de Escazú para que ele seja ratificado no Brasil urgentemente, para que ativistas como eu, no futuro, não peçam exílio político em outra nação”, declarou o ativista no vídeo.
Veja o vídeo:
À CENARIUM, o coordenador do Gape, Flávio Trindade afirmou, nesta terça-feira, 27, que ele próprio e outros membros da ONG continuam sendo ameaçados em Belém. Ele denuncia que milicianos intimidam moradores e ativistas.
“Temos notícias que milicianos, contratados por pessoas envolvidas com especulação imobiliária das áreas remanescentes do Parque Ecológico do Município de Belém, estão circulando no conjunto Bela Vista. Intimidam as pessoas que denunciaram as vendas ilegais. Inclusive esses milicianos foram vistos junto com pessoas que agrediram Pedro Paulo”, declarou Trindade à reportagem.
Flávio afirma, ainda, que a área em disputa é avaliada em mais de R$ 90 milhões, e as vendas já foram consideradas clandestinas pela Justiça. O Gape informou que as primeiras denúncias sobre as irregularidades foram feitas ainda em 2015, sem que houvesse providências concretas até hoje. O grupo já encaminhou denúncias ao Ministério Público do Estado do Pará (MP-PA) e à Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Pará (OAB-PA).
Caso Pedro Paulo
Pedro Paulo ficou desaparecido por mais de dez dias após uma sequência de agressões e ameaças relacionadas à atuação do Gape em denúncias de ocupações e vendas ilegais de áreas públicas no Conjunto Bela Vista, em Belém (PA). Ele reapareceu em 17 de maio, em um áudio enviado ao site Info Revolução, em que afirmou estar refugiado no Amazonas e pediu garantias de proteção ao governo local e à Comissão de Direitos Humanos da OAB-AM.
No áudio, o ativista acusou diretamente o advogado Thiago José Souza dos Santos, conhecido como “Carcaça”, além de um homem chamado Renato e outro não identificado, que, segundo ele, aparentava ser um miliciano armado. Também mencionou o envolvimento de uma viatura do 27º Batalhão da Polícia Militar do Pará.
“Estou aqui para pedir garantia de vida própria ao governo local e à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, OAB Amazonas, em virtude de ter sido agredido fisicamente e ameaçado de morte”, afirmou em áudio.
Versão do advogado citado
Em nota enviada à CENARIUM, o advogado Thiago José Souza dos Santos negou qualquer envolvimento com o desaparecimento de Pedro Paulo e refutou as acusações. Ele afirmou que sua atuação como advogado foi motivada por irregularidades atribuídas ao próprio Gape e classificou as denúncias como “revanchismo”.
“Trata-se de um revanchismo e ‘dor de cotovelo’ de uma organização denominada de Gape (…). Tais ‘acusações’ não passam de um ataque desse grupo de odiosos a minha pessoa e as minhas prerrogativas de advogado”, afirmou.
Agressão e desaparecimento
As agressões contra Pedro Paulo foram registradas em um boletim de ocorrência feito por Rosemary Pereira de Oliveira, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PA. Segundo o relato, ele foi espancado no dia 3 de maio por três moradores do Conjunto Bela Vista.
Após atendimento médico e uma reunião com colegas da ONG, o ativista deixou de ser visto a partir do dia 6, quando um bilhete com a frase “Estou sendo ameaçado de morte”, assinado por “Paulo Lima”, foi encontrado em sua casa.

Desde então, sua ausência mobilizou colegas e entidades de direitos humanos. Com o reaparecimento em Manaus e o anúncio de que busca sair do País, o caso ganha nova dimensão e reforça os alertas de organizações que defendem o Acordo de Escazú — tratado internacional que prevê proteção específica a defensores ambientais na América Latina e Caribe.
A reportagem solicitou um posicionamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), em relação ao caso envolvendo o ativista ambiental Pedro Paulo, para saber o que o Estado tem feito para prevenir a vida dele, assim como o retorno seguro do ativista ambiental a Belém, mas não obteve retorno. A CENARIUM segue à disposição da pasta para esclarecimentos.