Ameaças a Lula em Manaus mencionam ‘matador de aluguel’ e uso de armas


Por: Bianca Diniz

09 de setembro de 2025
Ameaças a Lula em Manaus mencionam ‘matador de aluguel’ e uso de armas
Em publicações analisadas pela CENARIUM é possível identificar dezenas de comentários com teor ameaçador (Ricardo Stuckert / PR / Reprodução | Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – Comentários com teor de ameaça ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram identificados nas redes sociais na segunda-feira, 8, em publicações que anunciavam a chegada do chefe da Nação a Manaus nesta terça-feira, 9. Entre os registros analisados pela equipe da CENARIUM, usuários mencionaram o uso de armas, a contratação de matadores de aluguel e até a oferta de recompensas por ataques.

Presidente Lula participa de agenda em Manaus com compromissos nas áreas de segurança, meio ambiente
e tecnologia (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Nas publicações, é possível identificar dezenas de comentários com teor ameaçador. Usuários fizeram referências a armamento e indicaram a intenção de cometer ataques, condutas que podem ser enquadradas como crime de ameaça, previsto no artigo 147 do Código Penal.

Algumas mensagens dos seguidores da página indicam intenção explícita de cometer violência contra o presidente. Usuários mencionaram a contratação de “matadores de aluguel” e o papel de “justiceiro”, termos que remetem diretamente à ideia de execução de ataques físicos ou homicídios, configurando indícios de crime de ameaça previsto no artigo 147 do Código Penal.

Outra expressão utilizada por um homem foi “ataque soviético”, que faz referência a táticas militares ofensivas e indiscriminadas, conotando um tipo de ataque em larga escala, utilizado como metáfora para violência extrema contra a autoridade.

Além das ameaças diretas, a publicação também recebeu outros tipos de mensagens direcionadas ao presidente, entre elas, foram registrados trechos como: “Só de ler a mensagem sumiu R$100 reais aqui da minha carteira” e “Onde vende cartelas de ovos na promo?”, indicando que os usuários reagiram ao conteúdo com críticas ofensivas.

Veja os comentários:

Em outro comentário, um cidadão escreveu: “Essa é a hora de virar herói da nação 762 já resolvia”. A referência é à munição de fuzil calibre 7,62 mm, utilizada em armas de alta potência, como o fuzil IMBEL IA2, adotado pelo Exército Brasileiro (EB). Essa munição é capaz de perfurar blindagens leves e atingir alvos a distâncias superiores a 800 metros, conforme especificações técnicas. A utilização desse calibre em ameaças l indica o nível de detalhamento e a gravidade das ameaças dirigidas ao presidente nas redes sociais.

Comentários em tom ameaçador foram publicados nas redes sociais (Reprodução/Internet)
Histórico de ameaças

As publicações aumentam a lista de ameaças contra o presidente do País nas redes sociais no ano de 2025. Nas últimas semanas, a investigação da Polícia Federal (PF) em parceria com a Polícia Civil do Distrito Federal (PC-DF) identificou que Lula e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também eram alvo de ameaças na deepweb, parte da internet não acessível por mecanismos de busca comuns, que permite comunicação em fóruns e grupos com maior anonimato.

Em algumas publicações, os autores detalharam um suposto ataque previsto para este mês, incluindo o uso de explosivos, granadas e um fuzil .50 Barrett, arma de atiradores de elite com alto poder bélico, capaz de derrubar helicópteros.

Um inquérito conduzido pela Divisão de Proteção e Combate ao Extremismo Violento (DPCEV) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e pela Diretoria de Inteligência Policial (DIP) da Polícia Federal foi instaurado para identificar os autores, os participantes e os meios que seriam empregados neste possível atentado.

Crime

Especialistas consultados pela CENARIUM destacaram que ameaças dirigidas ao presidente da República, mesmo quando feitas por meio de redes sociais, podem ser enquadradas como crime de ameaça, previsto no artigo 147 do Código Penal, que dispõe: “Ameaçar alguém, por palavra, gesto ou qualquer outro meio, de causar-lhe mal injusto e grave”.

A pena prevista é de detenção de um a seis meses ou multa, e a ação penal é pública, condicionada à representação da vítima. Segundo jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), a consumação ocorre quando a vítima se sente intimidada, independente de a ameaça ser explícita ou implícita.

Advogados também explicaram que a tipificação do crime não representa uma limitação do direito de manifestação do pensamento, garantido pela Constituição Federal. Publicações que contenham violência ou incitação a atentados contra a vida do presidente não se enquadram nesse direito, que é fundamental, mas não absoluto.

Conforme a Constituição Federal de 1988, “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” (art. 5º, IV). Esse direito encontra limites quando conflita com outros direitos fundamentais, como a honra, a dignidade e a segurança pública. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) reforça que a manifestação do pensamento pode ser relativizada para proteger a ordem pública e a segurança nacional.

No contexto da publicação analisada, a responsabilização atinge tanto os autores das ameaças quanto as plataformas digitais, que têm o dever de monitorar e agir diante de conteúdos que violem a legislação, adotando medidas para remover publicações com caráter criminoso ou ofensivo.

Lula em Manaus

O presidente chegou à capital amazonense na manhã desta terça-feira, 9, para cumprir agenda oficial. Às 10h30, participou de visita seguida da cerimônia de inauguração do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI Amazônia).

Pela tarde, a programação teve como objetivo o lançamento do cabo de fibra óptica de integração das infovias do Programa Norte Conectado, no píer da Estação Naval do Rio Negro. Os eventos contam a presença de representantes do governo federal, autoridades locais e convidados.

O presidente encerrou a agenda com participação na cerimônia de implementação do Programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais. Na evento, foram assinados o contrato entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão (Anater) para implementação do programa, além do contrato entre o BNDES e o Memorial Chico Mendes para implementação do projeto Sanear Amazônia.

Autoridades

A reportagem solicitou um posicionamento da Assessoria Especial da Presidência da República e da Polícia Federal (PF), com questionamentos sobre o caso e o acompanhamento das manifestações publicadas nas redes sociais. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno por parte das instituições.

Leia mais: Lula defende proteção a povos da Amazônia no combate ao crime organizado

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