‘Amigos da Arte’ faz ação simbólica para preservar ‘casa’ de Thiago de Mello

Náferson Cruz – Da Revista Cenarium

MANAUS – O movimento “Amigos da Arte” formado por artistas, escritores e poetas do município de Barreirinha, a 331 quilômetros de Manaus, ocupou nesta terça-feira, 8, de forma simbólica e pacífica o Memorial Thiago de Mello. Há mais de uma década abandonada e em condições precárias, a “Casa da Frente”, no Paraná do Ramos, como é conhecida, tem o projeto assinado pelo arquiteto Márcio Costa, autor do plano piloto de Brasília.

Ameaçada de diferentes formas, o antigo “casarão” faz parte do conjunto arquitetônico composto por cinco edificações em Barreirinha, a única obra de Lúcio Costa na Amazônia. Sensibilizado com as condições precárias da casa, o escritor Elpídio Nunes, um dos coordenadores do movimento Amigos da Arte, disse que a ação do grupo teve o intuito de salvaguardar aquele que pode vir a ser tombado como patrimônio histórico.

“Não podíamos ficar de braços cruzados diante dessa situação, uma arquitetura tão singela e imponente, mas esquecida pelo poder público. Tivemos a liberdade e a consciência de que o local precisava de alguns reparos interno e externo, então, resolvemos fazer apenas a limpeza da casa, até porque não podíamos fazer uma intervenção drástica por conta de sua arquitetura histórica. Esperamos que o poder público tome uma atitude e transforme a Casa da Frente num espaço de lazer com oficinas de arte, exposições, debates, tudo que for pertinente para fomentar a cultura”, declarou o escritor barreirinhense.

Para a artista plástica, Mila Simões Castro, 32 anos, resgatar e ‘abraçar’ o antigo casarão é incentivar a cultura amazônica e preservar a história de um dos maiores escritores e poetas do País.

“A Casa da Frente me trazia imensa alegria, ainda mais quando se sabe que ele foi idealizado por meio de um poeta que ousou trazer o renomado arquiteto Lucio Costa. Infelizmente, hoje, a estrutura se encontra num estado deplorável. Creio que não era isso que o nosso poeta Thiago iria querer, mas, agora, estamos cuidando da casa do jeito que o poeta merece”, ressaltou a integrante do Amigos da Arte.

O barreirinhense João Carlos, artista plástico, diz que o memorial tem um significado ímpar para a cidade. “Entendemos que a casa é fundamental para a cultura não somente do município, mas do Estado. Essa intervenção foi feita com ternura em prol da arte e para devolvermos um ambiente cultural”, completou.

Assista ao vídeo:

Impasse sobre o destino do ‘casarão’

Em 2005, Thiago de Mello vendeu a Casa da Frente para o Estado, que a transferiu em regime de comodato para a prefeitura de Barreirinha com o compromisso de que o lugar seria transformado num espaço cultural. Em 2013, completamente abandonado, o casarão quase veio abaixo durante as obras de revitalização da orla do município.

A estrutura foi salva da demolição, após a superintendência do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) embargar a obra exigindo o estudo arqueológico, conforme a lei ambiental, fazendo ressalva para que se preservasse a arquitetura de Lúcio Costa. Desde essa época, o processo de tombamento está em análise no Iphan.

Sobre a situação da antiga residência do poeta Thiago de Mello, a Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Meio-Ambiente (Semctram) de Barreirinha, informou que, em 2015, uma equipe do Iphan esteve no local fazendo vistoria para o processo de tombamento, que consiste no reconhecimento histórico da edificação. Entretanto, naquele momento, o município foi informado que não poderia executar nenhum tipo de serviço, incluindo a revitalização e reforma no imóvel e, desde então, a responsabilidade do referido patrimônio, a Casa da Frente, está sob a tutela do Iphan.

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