Animal pré-histórico descoberto no interior do RS vira capa da revista internacional ‘Nature’

Ixalerpeton viveu há mais de 230 milhões de anos e foi encontrado em sítio arqueológico do RS (Foto: Arte/Rodolfo Nogueira)

Com informações do G1

PORTO ALEGRE – Um animal pré-histórico encontrado em São João do Polêsine, na Região Central do RS, estampou a capa da revista científica Nature, em dezembro. O ixalerpeton polesinensis, como foi batizado o fóssil, viveu há cerca de 230 milhões de anos, e é tema do artigo “Enigmáticos precursores de dinossauros preenchem lacuna até a origem dos Pterosauros”.

O animal é objeto de estudo de um grupo internacional de pesquisadores há cerca de dez anos, desde que foi encontrado no sítio Buriol, na cidade gaúcha. O professor e paleontólogo Sérgio Cabreira, da Associação Sul Brasileira de Paleontologia, é um dos autores da descoberta e assina o artigo, junto com especialistas de vários países, como Argentina e Estados Unidos.

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Foi a primeira vez que um lagerpetídeo foi encontrado no Brasil, um tipo ainda raro de animal pré-histórico. Esses pequenos animais são os antepassados dos pterossauros, espécie de dinossauros que voavam. E também possuem semelhanças com os antepassados das aves.

Fósseis

Segundo Sérgio Cabreira, o ixalerpeton encontrado tem mais ou menos o mesmo tamanho de um quero-quero. Estava na mesma rocha em que os fósseis do buriolestes schutlzi, um dos precursores dos dinossauros, foram localizados.

Animal possui características evolutivas semelhantes às dos pterossauros, dinossauros voadores, e das aves (Reprodução/Nature)

Embora estivesse desarticulado, o fóssil do ixalerpeton estavam completos, diz o professor. “Partes do crânio, as mandíbulas, esqueleto da coluna, dos membros, muitas peças foram encontradas. Isso trouxe novas informações”.

Com o material completo, o bom estado dos ossos e tecnologias de estudo, como uma ferramenta que possibilita a realização de imagens internas dos fósseis, foi possível aprofundar os conhecimentos no até então pouco conhecido grupo de animais.

Variações

O lagerpetídeo, por exemplo, possui o labirinto ósseo, que fica no ouvido, bastante desenvolvido, o que está ligado à capacidade de voar. O animal encontrado no RS não voava, mas fornece elementos para desvendar as origens dos pássaros.

“[o animal] Tinha um sistema de equilíbrio extremamente complexo, parecido com o sistema de equilíbrio dos pterossauros, que eram animais voadores. E muito parecido com o labirinto das aves”, diz o professor.

Também foi possível observar que o lagerpetídeo tinha um metabolismo acelerado, o que é pré-requisito para a atividade do voo, que exige muita energia.

“Essas pré-adaptações são necessárias. Não tem como o animal se lançar ao espaço pra voar sem que previamente ele tenha adquirido condições”, afirma.

Fósseis foram encontrados no sítio arqueológico Buriol, junto com os ossos do buriolestes, um dos dinossauros mais antigos (Divulgação/Nature)

Uma palavra em um livro

O ixalerpeton e buriolestes já foram citados em 113 artigos internacionais sobre paleontologia nos últimos anos, de acordo com o professor Sergio Cabreira. Isso mostra a importância da descoberta.

“Nós brasileiros também estamos participando dessa aventura que é a descoberta da origem desses grupos”, afirma.

“Uma das coisas mais difíceis da paleontologia é nós encontrarmos os fósseis que deram origem aos grandes grupos de animais. Por exemplo, o ancestral dos mamíferos, das aves, dos dinossauros”, diz.

“Quando surge um grupo novo na natureza, ele surge num momento único. Tu tem uma transformação total, o grupo surge pronto, e diferente do ancestral. O que acontece que os pterossauros é que a origem e o tempo em que eles surgiram era um ponto obscuro dentro da paleontologia de vertebrados”, diz.

E mesmo importante, a descoberta não esgota o conhecimento dos animais e do período histórico, e levanta ainda muitas outras dúvidas.

“É uma parte muito pequena que existiu na face na terra. É uma palavra dentro de um livro”, ressalta.

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