Antes apoiador de Bolsonaro, prefeito de Manaus disputa reeleição ao lado de lulistas
08 de julho de 2024
Eduardo Braga, David Almeida e Omar Aziz (Composição: Weslley Santos/Revista Cenarium)
Marcela Leiros – Da Cenarium
MANAUS (AM) – O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), antes apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), busca a reeleição ao lado de dois dos aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT): os senadores do Amazonas Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD). A mudança de aliança política marca uma reviravolta na trajetória do mandatário municipal, que, agora, une forças com a base lulista em busca da continuidade no cargo.
O termo “lulista” refere-se aos seguidores e apoiadores de Lula, associado a políticas de esquerda e ao Partido dos Trabalhadores (PT). No contexto político do Amazonas, os senadores Omar Aziz e Eduardo Braga, filiados a partidos de centro, apoiaram Lula nas últimas eleições presidenciais e articulam-se para caminhar ao lado de David Almeida nas eleições municipais deste ano.
Na semana passada, David Almeida e Eduardo Braga estiveram juntos, em Manaus (AM), para entrega de um pacote de obras com recursos das emendas parlamentares do senador no valor de R$ 383,4 milhões. Na ocasião, o prefeito anunciou que o primeiro bairro planejado da capital terá o nome da mãe de Braga, Dorothea de Souza Braga, e prometeu estar ao lado do senador nas eleições de 2026, quando o parlamentar deve tentar a reeleição.
Eduardo Braga e David Almeida em Manaus (AM), na semana passada (Divulgação)
Em 2023, Almeida ainda deu o mesmo nome a uma creche inaugurada na Zona Norte de Manaus:
Já Omar Aziz parece estar mais receoso em relação ao apoio a David Almeida. Apesar de ambos também serem vistos juntos em eventos oficiais, ainda não houve anúncio oficial. Mas, no mês passado, durante evento em Manaus, o senador elogiou publicamente o prefeito David Almeida por sua postura em reconhecer e agradecer as contribuições de seus adversários políticos. A CENARIUM questionou o senador sobre o apoio ao prefeito e não teve retorno até a publicação desta matéria.
O analista político Afrânio Soares, do Instituto Action, chama de “conveniência” a articulação de David Almeida junto a Omar Aziz e Eduardo Braga, mas algo em que os três podem sair “ganhando”. Ele cita o interesse do prefeito no tempo de TV do PSD e MDB, e a escolha do vice que, em 2026, poderá assumir o cargo na Prefeitura de Manaus se Almeida tentar se eleger ao governo do Amazonas, disputando contra Aziz.
“Davi Almeida precisa ter tempo de TV e Omar Aziz traz com ele o PSD, e Eduardo Braga o MDB, que leva um tempo significativo para Davi Almeida. O prefeito já foi apoiador de Bolsonaro, sim, sem dúvida, e isso desagrada, principalmente ao senador Omar Aziz. Mas, acho que não é suficiente para que haja uma ruptura. Algo que poderia estremecer essa relação seria a questão do vice. Tanto o senador Omar Aziz quanto o senador Eduardo Braga desejam indicar o vice na chapa de Davi Almeida“, analisa.
“E para garantir, digamos assim, que caso o prefeito deseje concorrer, ele teria que renunciar e o vice seria automaticamente ‘carregado’ para o cargo de prefeito, isso é algo que é decisivo. A intenção de Omar e Eduardo, principalmente de Omar, seria colocar alguém dele“, pontuou, lembrando que Omar Aziz ainda tem seis anos de mandato como senador.
O analista político Helso Ribeiro também enfatiza que a aliança política é uma mudança momentânea para a eleição e não ideológica. “Nem sempre as 5.600 cidades brasileiras se alinham aos acordos do governo federal, os acordos que ocorrem em Brasília. No primeiro turno da eleição [de 2022], David Almeida não apoiou nem Lula nem Bolsonaro. O Brasil carece muito de fidelidades ideológicas. Então, em cada eleição, cada um veste uma fantasia, uma roupa. Cabe ao eleitorado ver até que ponto é uma aliança apenas para essa eleição ou uma aliança em cima de valores, de princípios, de propostas de trabalho“, conclui.
A assessoria de campanha de David Almeida informou, à reportagem, que “David está de braços abertos a todos que querem ver Manaus bem. Independente de ideologias políticas. David está do lado de Manaus“.
À direita
A aliança de David Almeidacom o bolsonarismo rendeu práticas alinhadas com o conservadorismo. Uma das iniciativas foi a sanção da Lei Municipal nº 3.087, de 3 de julho de 2023, que homologou a criação do “Dia Municipal do Conservadorismo” e agora faz parte do calendário oficial da cidade de Manaus.
O chefe do Executivo municipal também cancelou a participação da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc) no casamento coletivo de Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais (LGBTQUIAPN+), em 2023, sem maiores explicações.
Jair Bolsonaro (à esquerda) e David Almeida; prefeito de Manaus esteve ao lado do ex-presidente (Divulgação/Prefeitura de Manaus)
No ano anterior, a Prefeitura de Manaus, sob a gestão de Almeida, também dificultou a realização do 12º Festival Afro Amazônico de Yemanjá de religiões de matriz africana. Na época, os organizadores do evento precisaram cobrar resposta do poder público para organização do festival, que acontecia sem problemas nos anos anteriores.
Trajetória “lulista”
Além de aliado de Lula, Braga ocupou cargos em governos petistas. O senador foi líder do Governo Dilma Rousseff no Senado entre 2012 e 2014. Entre janeiro de 2015 e abril de 2016, foi ministro de Minas e Energia. Durante a votação do impeachment da ex-presidente, também em 2016, se absteve de votar. Ele saiu do cargo no mesmo ano.
Em 2022, Braga apoiou a candidatura presidencial do petista desde o primeiro turno, mesmo após o MDB ter lançado a então senadora e atual ministra Simone Tebet para disputar a presidência. O parlamentar atuou para que o MDB e integrantes do partido aderissem à campanha de Lula.
Com Lula no governo, Braga, que é líder do MDB no Senado, foi escolhido como relator da Reforma Tributária na Casa Legislativa, onde articulou por mudanças no texto para manter as vantagens fiscais da Zona Franca de Manaus (ZFM).
Da esquerda à direita: Omar Aziz, Lula e Eduardo Braga (Divulgação)
No ano passado, disputou o governo do Amazonas, mas perdeu para Wilson Lima (União Brasil), reeleito no cargo com apoio de Jair Bolsonaro. O parlamentar já foi vereador de Manaus, deputado estadual, deputado federal, prefeito da capital amazonense e, por dois mandatos consecutivos, foi governador do Estado, entre 2003 e 2010.
Omar Aziz começou a vida política na década de 1990, quando conquistou seu primeiro mandato eletivo, como vereador da capital amazonense. Em 1994, foi eleito deputado estadual. Antes de chegar à Brasília, passou mais de duas décadas atuando na política local: foi vice-prefeito de Manaus entre 1997 e 2002, e vice-governador do Estado entre 2003 e 2010, durante a gestão de Eduardo Braga. Em 2010, foi eleito para a chefia do Executivo estadual. Ele deixou o governo local em 2015, quando foi eleito ao Senado.
A atual relação de Omar Aziz e Lula tratou-se de uma reaproximação, após anos de articulações do senador contra os interesses do PT. Ele foi um dos senadores que votou a favor da impeachment de Dilma Rousseff, da PEC que instituiu o “Teto de Gastos” e da Reforma Trabalhista do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
A reaproximação com o presidente começou ainda na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando Aziz presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia. No fim dos trabalhos, a CPI pediu o indiciamento de 80 pessoas, entre elas, Jair Bolsonaro, seus três filhos e aliados próximos ao então chefe do Executivo.
Omar Aziz chegou a ser cotado, em 2022, para ser ministro no governo federal se Lula saísse vitorioso nas eleições daquele ano, mas negou que aceitaria um possível convite. O senador contou, inclusive, com o apoio do petista na campanha a reeleição, quando foi eleito com 784.007 votos. Omar Aziz chegou a definir Lula como “o melhor presidente da história desse País”.
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