Antes de contaminação, igarapés e balneários urbanos eram opções de lazer durante verão amazônico

Manaus precisa recuperar mananciais para dispor de mais qualidade de vida para população (Reprodução/Internet)

Mencius Melo – da Revista Cenarium

MANAUS – A capital amazonense é uma cidade tipicamente amazônica, com uma geografia que consiste nos entrecortes de igarapés que marcam a fisionomia da urbe, que por conta da poluição dos afluentes, paisagens que eram tomadas por banhistas durante o verão amazônico, agora dão lugar ao lixo e ao mau cheiro. Atualmente, tais redes de águas estão sob análise de pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), para mensurar o impacto da poluição na qualidade de vida de 2,2 milhões de habitantes.

De acordo com o Doutor em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos da UEA, Carlossandro Albuquerque, o estudo começou no início deste ano e agora entra na segunda fase. “Os estudos coordenados pelo professor Sergio Duvoisin Junior se concentram nas bacias do São Raimundo e Educandos (bairros de Manaus que margeiam esses leitos) e estão sob as ações do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus, o Prosamim”, explicou.

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Segundo o pesquisador, os estudos têm como objetivo avaliar os impactos do Prosamim e balizar futuras ações do poder público. “Esses monitoramentos resultam em indicativos para ações que a prefeitura, o Governo do Estado e o governo federal podem tomar para recuperar ambientalmente esses cursos d’água e essas bacias”, explicou.

Balneário do Parque 10 de novembro era um oásis tropical, guardado na memória de uma Manaus que não existe mais (Reprodução/Internet)

Contaminados

Mas independentemente do resultado – se estão mais poluídos ou menos poluídos – o que se sabe é que hoje não é mais possível usufruir do conforto que os cursos d’água propiciavam ao povo da cidade grande.

Piscina de águas naturais, construída para represar as águas do maior igarapé de Manaus, o igarapé do Mindu (Reprodução/Internet)

“Já sabemos que as bacias do São Raimundo e Educados estão poluídas e não permitem a balneabilidade. Mas com o resultado podemos trabalhar, por exemplo, na coleta do saneamento básico e a educação hídrica, que hoje é fundamental”, destacou Albuquerque.

Questionado se é possível recuperar os igarapés de Manaus, Carlossandro Albuqurque usou outro rio, conhecido mundialmente como exemplo. “O Tâmisa (na Inglaterra) era muito mais poluído e hoje, inclusive, está balneável. É claro que isso custa caro e envolve um alto custo econômico e social, mas é preciso fazer”, avaliou o especialista.

Um grande balneário

O balneário da Cachoeira do Tarumã é o mais lembrado ponto de lazer que não existe mais em Manaus (Reprodução/Internet)

A relação de Manaus com o mundo aquático que a cerca e corta é controversa, no passado, inúmeros eram os igarapés que faziam parte da vida urbana da cidade. “É preciso criar áreas de proteção, avaliar a ocupação das margens desses igarapés, criar e fortalecer a política de educação hídrica para a população”, declarou.

Estes eram locais de banho para se refrescar do calor amazônico, que com as altas temperaturas atuais esses espaços fazem falta. Entre os mais nostálgicos, estão o balneário do Parque 10 de novembro, bairro esse que é banhado pelo Igarapé do Mindu.

O local era point das famílias que para lá se dirigiam nos anos 1940, 1950, 1960 e 1970. Hoje somente jacarés-tingas, com seu potente sistema digestivo sobrevivem em meio aos sacos plásticos, garrafas PETs e metais pesados.

Outro balneário que deixou saudade, foi o ponte da Bolívia. O local era banhado por um belo igarapé chamado Quixó, localizado próximo onde hoje se encontra a barreira das estradas AM 010 e BR 174. O local funcionou até meados dos anos 1980, quando foi totalmente contaminado pelo surgimento de bairros ao longo do curso d’água.

Cachoeira do Tarumã

Mas nenhum outro deixou mais saudades do que o balneário Cachoeira do Tarumã, localizado na Zona Norte de Manaus, era um verdadeiro paraíso amazônico. Uma forte queda d’água caia sobre um pedral, formando um lago que fluía na continuação do igarapé.

Antigo balneário da Ponte da Bolívia, banhado pelas águas geladas do Igarapé do Quixó (Reprodução/Internet)

As então cachoeiras “altas e baixas” também eram objetos de culto das religiões de matriz africana. O balneário sobreviveu até meados da década de 1980, quando o crescimento desordenado da cidade levou a poluição as suas águas. Hoje, do antigo balneário, só restam as pedras e um curso de água mal cheirosa que em nada lembra o cenário paradisíaco da antiga cachoeira.

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