Anvisa aprova primeiro medicamento injetável de uso semanal para sobrepeso e obesidade
02 de janeiro de 2023
(Reprodução)
Da Revista Cenarium*
SÃO PAULO – A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o primeiro medicamento injetável de uso semanal para sobrepeso e obesidade. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda (2).
Chamada Wegovy (semaglutida 2,4mg), a injeção é produzida pela farmacêutica Novo Nordisk e tem o mesmo princípio ativo do medicamento Ozempic, indicado para diabetes tipo 2 e que já tem aprovação no Brasil.
A semaglutida desempenha algumas ações no organismo que colaboram na perda de peso. Uma é aumentar a sensação de saciedade e reduzir o apetite.
A aprovação se baseou em resultados de estudos clínicos que envolveram mais de 4.500 pessoas no mundo. O remédio levou a uma redução média de 17% do peso corporal nos pacientes em cerca de 17 meses — um a cada três participantes do estudo chegou a perder 20%. Os voluntários que fizeram parte do grupo controle, com uso de placebo, perderam apenas 2,4% de peso corporal.
Nos Estados Unidos, a semaglutida estava aprovada pela agência reguladora americana (FDA) desde o final de 2021 e tem um preço de tabela de US$ 1.349 (cerca de R$ 6 mil).
A substância tornou-se muito popular nas redes sociais a partir de outubro do ano passado, após o bilionário Elon Musk atribuir o seu emagrecimento a ela, e chegou a faltar nas farmácias americanas.
No Brasil, ainda não há uma data definida de quando a medicação chegará às farmácias e nem de quanto custará. Segundo a Novo Nordisk, é preciso aguardar a finalização de processos, como a definição de preços pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos.
Homem com obesidade prepara a injeção de semaglutida para controlar níveis de açúcar no sangue (Myskin/Adobe Stock)
A medicação ainda não foi submetida para avaliação na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), no SUS, para eventual oferta pelo sistema público de saúde. Atualmente, a comissão avalia a incorporação da liraglutida, no SUS, que está aprovada pela Anvisa desde 2016.
Para o endocrinologista Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), a aprovação da medicação é uma ferramenta a mais no arsenal de estratégias terapêuticas adequadas para tratamento da obesidade.
“É um medicamento que demonstrou a maior perda de peso para pessoas com obesidade, de maneira sustentável, ao longo de um a dois anos, e também com segurança. Os estudos com diabetes, que já tem mais de cinco anos, demonstram segurança cardiovascular e potencial benefício cardiovascular.”
Ele reforça, porém, que as mudanças de hábitos de vida continuam sendo a base para qualquer proposta de emagrecimento, uma vez que o reganho de peso é muito frequente.
“A obesidade é uma doença crônica altamente reincidente. Uma vez que você interrompe o tratamento, não é surpresa que a pessoa reganhe peso. Assim como não é surpresa quando uma pessoa com hipertensão suspende a medicação e a pressão volte a subir.”
Para ele, o caminho mais adequado é que os pacientes com obesidade tenham um acompanhamento e estratégias individualizadas de manutenção do peso perdido. “Algumas pessoas vão precisar manter a medicação por um longo período”.
Um dos grandes problemas é o acesso aos novos tratamentos. Atualmente, na atenção primária do SUS, há serviços com profissionais, como nutricionistas e os de educação física, que orientam sobre mudanças de estilo de vida necessárias para a perda de peso.
O SUS também oferta cirurgias bariátricas, indicadas para pessoas com obesidade graves e que precisam perder acima de 30% de peso corporal. “Mas as pessoas que não estão nesses extremos, infelizmente, não têm nenhuma outra estratégia. Não tem nenhuma medicação disponível no SUS para tratamento da obesidade”.
Segundo Miranda, é importante que as autoridades públicas reconheçam a obesidade como um problema de saúde e não como uma situação comportamental.
“A pessoa com obesidade não é culpada. É importante que ela tenha atenção multidisciplinar para mudar hábitos, mas, eventualmente, ela precisará de medicações ou de cirurgia.”
A endocrinologista Cíntia Cecato, presidente da Associação Brasileira de Estudo sobre a Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), também cita a questão do acesso como um grande problema.
“Quando eu olho os bons resultados dessas novas substâncias, sei que vai ajudar os obesos a perder peso, reduzir comorbidades, melhorar qualidade de vida, eu só fico pensando: e os nossos pacientes? É sempre um dilema essa questão do acesso”, disse ela durante a Obesity Week, evento que aconteceu em novembro último em San Diego (Califórnia).
Ao mesmo tempo, os médicos condenam o uso dessas novas medicações por pessoas que não precisam delas e sem acompanhamento para a perda de peso.
“A pessoa pode até ter alguma perda de peso, mas, sem uma orientação, terá reganho e ainda poderá sofrer de efeitos adversos que poderiam ser prevenidos com orientação adequada.”
Quando ingerida sob supervisão médica, a dose é aumentada, aos poucos, justamente para conter sensações desagradáveis, como náuseas, vômitos e diarreias.
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