Aplicativo vai avaliar impactos dos incêndios florestais na fauna do Pantanal

Os incêndios florestais no Pantanal já consumiram mais de 4 milhões de hectares em 2020 (Jeferson Prado/ Sesc Pantanal)

Da Revista Cenarium*

MANAUS — Os incêndios florestais no Pantanal já consumiram mais de 4 milhões de hectares em 2020, cerca de 98 mil deles na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN Sesc Pantanal), localizada no município de Barão de Melgaço, em Mato Grosso.

Para monitorar a área maior do País, a reserva de 108 mil hectares deu início a pesquisa que irá avaliar os impactos dos incêndios na fauna pantaneira. Com duração de 12 meses, esta primeira etapa do estudo irá direcionar a melhor maneira de executar o manejo adaptativo e regenerativo da área, após o pior incêndio da história da região dos últimos anos.

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O aplicativo “SISS-Geo” da Fiocruz vai realizar o levantamento dos animais vivos e mortos na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN Sesc Pantanal) e registrar em tempo real informações sobre os animais, sua localização, características do ambiente e tirar fotos.

A iniciativa faz parte do Grupo de Estudos de Vida Silvestre (GEVs), composta por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Fiocruz, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Museu Nacional do Rio de Janeiro.

De acordo com o biólogo da Fiocruz, José Luís Cordeiro — que realiza pesquisas na área há 20 anos —, o estudo vai comparar a ocorrência e abundância das espécies e os impactos sobre essas populações.

“Já sabemos que os animais não morreram só queimados, mas de fome e sede. Por isso, o uso do aplicativo permite estimar a proporção da tragédia. Junto a isso, temos também a colaboração de guarda-parques e brigadistas do Sesc Pantanal, que são da região e enriquecem a pesquisa a partir da troca de experiências. Assim, é possível gerar mais conhecimento e qualificá-lo”, declara Cordeiro.

Para a gerente de Pesquisa e Meio Ambiente do Sesc Pantanal, a bióloga Cristina Cuiabália, ainda é cedo para falar sobre a regeneração do bioma. “Não sabemos ainda se isso vai interferir ou não, pois não há dados o suficiente para trazer mais luz a essas respostas. Somos otimistas e estamos tentando trazer mais vida e regeneração para uma área tão afetada. Esperamos que essa regeneração seja no tempo certo, no tempo da natureza, e vamos dar toda condição para que isso aconteça”.

Já a superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano enfatiza. “Diversos fatores contribuíram para que o fogo alcançasse as proporções deste ano. Por isso, todos os que vivem no Pantanal precisam estar unidos e preparados para fazer a prevenção, o combate e também evitar o uso do fogo no período proibitivo. Cada ação importa para termos o período da seca com menos impacto para a biodiversidade, as comunidades e as propriedades privadas”.

Christiane disse ainda que este ano foi histórico e a importância da união de esforços para que este cenário não se repita nos próximos anos.

(Jeferson Prado/ Sesc Pantanal)

Alimentação e resgates do animais

Além do aplicativo, a equipe de pesquisadores vai usar drones para registros das áreas e armadilhas fotográficas para captação de imagens dos animais vivos, que têm recebido água e alimentação, numa ação emergencial, considerando a falta de recursos naturais, escassos pela seca severa deste ano e o fogo.

Cerca de 5 toneladas de frutas e verduras já foram distribuídas neste mês, por meio da parceria com a Ampara Silvestre e o SOS Pantanal. A ONG Mata Ciliar também colaborou com o resgate de animais, que foram encaminhados para atendimento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).

Caminhos do fogo

A RPPN Sesc Pantanal foi atingida por diversos focos de incêndio, o primeiro deles no dia 2 de agosto. Desde então, a brigada de incêndio do Sesc Pantanal trabalhou para conter o avanço do incêndio na área conservada há 23 anos.

Todo o entorno da reserva – fazendas São Francisco, Santa Lúcia, Aldeia Perigara e o distrito de São Pedro de Joselândia, comunidades Retiro de São Bento e Pimenteiras – também foi atingido. Conforme dados e perícia do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso, nenhum foco foi iniciado ou saiu da reserva durante todo o período de combate.

Logo nos primeiros dias da Operação Pantanal II, deflagrada no dia 7 de agosto, as duas frentes de fogo, ao norte e ao sul, avançaram até se encontrar na parte central da reserva. O fogo avançou ao oeste e, durante 40 dias, 23 mil hectares ao leste da RPPN foram preservados. Até que, no dia 14 de setembro, a última frente de fogo entrou nesta área ao leste, totalizando cerca de 98 mil hectares queimados.

(*) Com informação da Assessoria do Sesc Pantanal

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