Após 72 anos, juíza da Flórida absolve quatro homens negros acusados de sequestro e estupro de mulher branca


23 de novembro de 2021
Monumento aos
Monumento aos "Quatro de Groveland" em frente ao Museu da Sociedade Histórica do Condado de Lake, na Flórida. (Octavio Jones / REUTERS)

Com informações do Infoglobo

CONDADO DE LAKE, EUA — A juíza Heidi Davis, do Condado de Lake, na Flórida, absolveu de maneira póstuma, na segunda-feira, quatro homens negros conhecidos como “Os Quatro de Groveland”, que em 1949 foram acusados de sequestrar e estuprar uma adolescente branca na Flórida. A decisão ocorreu 72 anos após os eventos e foi tomada a pedido do promotor Bill Gladson, do mesmo Estado.

Em um documento enviado à juíza, Gladson afirma que “mesmo uma revisão ligeira do registro revela que estes quatro homens foram privados dos direitos fundamentais de um devido processo garantido a todos os americanos”. Ele ainda acrescentou que, dada a falta de provas, hoje “nenhum promotor imparcial consideraria apresentar estas acusações, e nenhum júri razoável condenaria alguém”.

Em julho de 1949, Norma Padgett, de 17 anos, disse à polícia que Charles Greenlee, Walter Irvin, Samuel Shepherd e Ernest Thomas atacaram o carro em que ela estava com seu marido. De acordo com o relato da jovem, os quatro homens a raptaram e a violaram em Groveland, no Condado de Lake. 

A declaração dela mudou para sempre a vida dos acusados, apesar da escassez de provas. Thomas foi perseguido e morto com 400 tiros por uma multidão pouco depois da queixa. Os outros três réus foram espancados enquanto estavam sob custódia e sentenciados por um júri totalmente branco.

Irvin e Shepherd foram condenados à morte. Greenlee, que tinha apenas 16 anos, foi sentenciado à prisão perpétua.

Em 1951, um xerife do Condado de Lake atirou em Irvin e Shepherd enquanto os transportava para uma audiência depois que a Suprema Corte anulou, por unanimidade, a sentença de seu primeiro julgamento. Naquela ocasião, os homens foram defendidos pelo advogado da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor, Thurgood Marshall, que mais tarde se tornou o primeiro juiz negro da Suprema Corte dos EUA.

Shepherd foi morto e Irvin foi ferido. O xerife alegou que eles haviam tentado escapar, uma versão negada por Irvin, que voltou a ser condenado em um segundo julgamento e morreu em 1969, em circunstâncias suspeitas, um ano depois de ter saído em liberdade condicional. Greenlee saiu da prisão em 1962, também em liberdade condicional, e morreu em 2012, mesmo ano em que o escritor Gilbert King lançou o livro vencedor do Prêmio Pulitzer “Devil in the Grove: Thurgood Marshall, the Groveland Boys and the dawn of a new America”, que renovou o interesse público pelo caso.

Os parentes dos quatro homens lutavam há décadas para que a inocência fosse reconhecida legalmente. Antes, em abril de 2017, o estado da Flórida já havia pedido desculpas às famílias, e o governador, Ron DeSantis, os havia postumamente em janeiro de 2019.

O novo caso de erro judicial contra cidadãos americanos negros ocorre apenas uma semana depois de a Justiça absolver, mais de 50 anos depois, dois homens acusados do assassinato do líder negro americano Malcom X, em 1965.

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