Após denúncia do MP-RO, assistente social que matou e enterrou adolescente deve responder por feminicídio

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) — Conhecido no meio político na região do município de Ouro Preto do Oeste, a 330 quilômetros de Porto Velho, em Rondônia, o assistente social Ronaldo dos Santos Lira deve responder por homicídio qualificado na modalidade de feminicídio, além dos crimes de ocultação de cadáver, fraude processual, estupro e armazenamento de conteúdo pornográfico, após denúncia oferecida pelo Ministério Público de Rondônia (MP-RO) à Justiça, nesta última terça-feira, 26. 

Ronaldo, que está preso desde 20 de março, matou Laryssa Victória, de 17 anos, e enterrou no quintal de casa o corpo da jovem, que ficou dois dias desaparecida. Ele já conhecia os pais da adolescente, tentou ocultar provas e, inicialmente, se negou a dar informações à Polícia Civil (PC), mas acabou confessando a autoria do feminicídio dias depois, durante interrogatório. 

De acordo com o MP-RO, “o crime foi cometido por motivo torpe, com emprego de tortura e meio cruel, bem como com recurso que dificultou a defesa da vítima”. Para a promotora de Justiça Marlúcia Chianca de Morais, o assassinato da estudante foi cometido por questões de gênero, “em total menosprezo e discriminação à condição de mulher da vítima”, por isso, a configuração de crime de feminicídio.

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Larissa Vitória, morta aos 17 anos, desapareceu após sair com amigas; jovem passou mais de 30 horas sob domínio do assassino, tendo sido torturada durante quatro horas (Reprodução/Facebook)

Vítima virou estatística

Larissa Vitória foi uma das duas vítimas de casos tratados e investigados como feminicídios, durante o mês de março, em Rondônia. No entanto, só no último mês, seis mulheres foram assassinadas de maneira violenta no Estado, totalizando 20 desde janeiro. Só no primeiro trimestre, os crimes de ódio e contra a vida de mulheres, portanto, na versão qualificadora de pena de reclusão, aumentaram 250% em território rondoniense.

Extrema crueldade

De acordo com o Ministério Público, a jovem foi morta com 31 facadas e Ronaldo teria saído de casa destinado a cometer a atrocidade, seja quem fosse a vítima. “Conforme a denúncia, na noite do dia 18 de março deste ano, o acusado saiu de sua residência portando uma faca e tendo se deslocado a uma área movimentada da cidade para escolher sua vítima”, informou o MP-RO à CENARIUM, por meio de nota.

“Após abordar a jovem, que a conhecia por intermédio de sua mãe, a atraiu para sua casa, mantendo-a em seu poder por mais de 30 horas. Durante o período, houve a prática de tortura por pelo menos quatro horas”, detalhou o Ministério Público. 

O corpo dela foi encontrado no domingo, 20 de março, depois que a polícia teve acesso a imagens de segurança de um posto de combustíveis, mostrando Ronaldo dos Santos Lira puxando a jovem, à força, enquanto caminhavam por uma rua. A Polícia Civil localizou a casa do suspeito, percebeu que o terreno do quintal apresentava sinais de uma possível escavação e determinou as buscas. Larissa havia saído para se divertir com as amigas.

Já de acordo com a PC de Rondônia, não foi possível confirmar se a adolescente foi dopada porque ela sangrou até a morte.

O MP-RO sugere, na denúncia, que o assistente social seja julgado por estupro (artigo 213 do Código Penal); fraude processual (artigo 347 do Código Penal), por ter alterado a cena do crime ao queimar um colchão; ocultação de cadáver (artigo 211 do Código Penal) e, por fim, por armazenamento de conteúdo pornográfico envolvendo criança ou adolescente (artigo 241 do Estado da Criança e do Adolescente, o ECA).

Ainda segundo o órgão do judiciário, foi possível comprovar, no dia da prisão de Ronaldo, que o acusado guardava arquivos de filmagens de sexo explícito e pornografia com menores de idade.

O assistente social tentou se tornar político e já foi até diretor de UBS como servidor comissionado da Prefeitura de Ouro Preto do Oeste (Reprodução/Facebook)

Perfil do assistente social assassino

Além de popular em sua cidade, Ronaldo dos Santos Lira, de 36 anos, é bem conhecido na região central de Rondônia, pela pretensão política. Em 2016, se candidatou a vereador pelo Partido Social da Democracia Brasileira (PSDB). Também concorreu em 2018, ainda pelo PSDB, mas ao cargo de deputado estadual. Já em 2020, filiou-se ao Partido Social Democrático (PSD), mas nunca chegou a ganhar nenhum desses pleitos eleitorais.

O assistente social também trabalhou como diretor de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Ouro Preto do Oeste, entre abril e dezembro de 2020, em cargo comissionado.

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