Após fala de Lula, Trump impõe tarifa de 50% ao Brasil
Por: Mari Furtado
09 de julho de 2025
MANAUS (AM) – Quarenta e oito horas após a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebatendo as acusações do presidente dos Estados Unidos (EUA) feitas ao Brics e ao Brasil, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira, 9, a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida, segundo ele, entra em vigor no dia 1º de agosto e afeta diretamente as relações comerciais entre os dois Países. O anúncio foi feito por meio de uma carta enviada ao presidente Lula.
No documento, Trump menciona o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e critica o julgamento a que ele responde no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o republicano, a ação do STF representa “uma vergonha internacional”, justificando, em parte, a elevação da tarifa sobre os produtos brasileiros. A carta foi divulgada pela Casa Branca e repercutiu entre autoridades e analistas de comércio exterior.

Trump também afirmou, sem apresentar provas, que a decisão foi motivada por supostos “ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres” e pela “violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”. A alegação faz referência a investigações no Brasil sobre desinformação e articulações golpistas, que envolvem aliados de Bolsonaro e conteúdos promovidos por influenciadores norte-americanos.
O tom adotado pelo presidente norte-americano marca novo episódio de tensão diplomática entre os dois Países. A tarifa de 50% representa uma elevação expressiva em relação aos 10% já aplicados desde abril, quando o governo dos EUA anunciou sobretaxas a produtos de Países do Brics.
O Palácio do Planalto ainda não se manifestou oficialmente sobre a carta ou sobre as novas tarifas.
Sobre o Brics
O BRICS é um grupo formado por 11 Países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Atua como um foro de articulação político-diplomática entre nações do Sul Global e busca fortalecer a cooperação em áreas como economia, política, desenvolvimento sustentável e inclusão social. Com a recente ampliação, o bloco passou a representar uma parcela ainda maior da população mundial, do PIB global e da produção de recursos estratégicos.

Entre os principais objetivos do BRICS estão o aumento da influência dos Países emergentes na governança internacional e a reforma de instituições multilaterais como Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio (OMC). O grupo defende um sistema internacional mais equilibrado, com maior legitimidade e participação dos Países em desenvolvimento nas decisões globais.
Veja a carta na íntegra
9 de julho de 2025
Sua Excelência
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília
Prezado Sr. Presidente:
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
Leia mais: Bolsonarismo coloca ‘Brasil acima de tudo’ em xeque após declaração de Trump