Após falar na ONU que índio e caboclo queimam florestas, Bolsonaro é chamado de ‘delirante’ e ‘cretino’

Em discurso veiculado pela internet, Jair Bolsonaro fez declarações controversas sobre a Amazônia e o Pantanal (Agência Brasil)

Paula Litaiff – Da Revista Cenarium*

Como sempre vem ocorrendo em eventos internacionais, o presidente Jair Bolsonaro fez um discurso duvidoso sobre meio ambiente nesta terça-feira, 22, na abertura dos debates da 75ª Assembleia Geral da Organização da Organização das Nações Unidas (ONU), gerando uma série de críticas de entidades ambientais e políticos. O assunto ficou entre os mais comentados do Trending Topics Brasil no Twitter.

Leia o discurso na íntegra do presidente Jair Bolsonaro à ONU

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Em reunião aberta, veiculada pela internet para todo o mundo, o presidente brasileiro disse que os incêndios no País acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o “caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”

O Observatório do Clima (OC) caracterizou o discurso como “delirante”, que “expõe o país de forma constrangedora” e confirma as preocupações de investidores internacionais. A nota do OC frisa que, ao negar a crise ambiental, pode pode incentivar o desinvestimento e o cancelamento de acordos comerciais que seriam importantes para a recuperação econômica pós-pandemia.

A entidade é uma rede que reúne entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir a questão das mudanças climáticas no contexto brasileiro. O OC promove encontros com especialistas na área, além de articular os atores sociais para que o governo brasileiro assuma compromissos e crie políticas públicas efetivas em favor da mitigação e da adaptação do Brasil em relação à mudança do clima.

Na Câmara Federal, o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), oposicionista a Bolsonaro, chamou o presidente de “cretino” por atribuir as queimadas nas florestas a indígenas e caboclos. A declaração veio por meio de um tuíte que ficou entre os mais compartilhados da rede social na tarde desta terça-feira, 22.

“O pior presidente do mundo acabou de falar na ONU que os índios que estão colocando fogo nas florestas. Bolsonaro, você é um cretino!”, afirmou Freixo.

O governador do estado do Maranhão – que compõe uma área da Amazônia Legal – Flávio Dino (PCdoB) afirmou que em seu discurso na ONU, Bolsonaro definiu quem são os “vilões” do Brasil ao acusar indígenas de serem os responsáveis pelas queimadas.

“Chave interpretativa do discurso de Bolsonaro na ONU: VILÕES – governadores, imprensa, Judiciário, caboclos e indígenas, ONGs, conspiração internacional etc. HERÓIS- Bolsonaro e Trump. Discurso impatriótico, não convence e enfraquece ainda mais o Brasil no mundo”, declarou Dino no Twitter..

Reincidente no equívoco

Há dois meses, Bolsonaro já havia declarado a culpabilidade de índios e caboclo nas queimadas. Na época, o governo federal tinha emitido a suspensão por 120 dias para a permissão de uso do fogo em práticas agropastoris e florestais na Amazônia Legal e Pantanal (Decreto de 16 de julho de 2020).

“Uma parte considerável das pessoas que desmatam e tocam fogo é indígena e caboclo. No nosso decreto, se proibir esses caras de tacar fogo, se chegar o decreto lá, se ele não fizer a agricultura tradicional ali, não vai ter o que comer”, disse Bolsoanro.  

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de Estocolmo já informaram que, ao contrário do que órgãos e agentes do governo federal vêm afirmando, parte significativa das queimadas e do desmatamento na Amazônia entre 2019 e 2020 está ligada a médios e grandes fazendeiros. 

Investigação x fazendeiros

A operação da Polícia Federal para apurar o possível envolvimento de criminosos no aumento das queimadas no Pantanal suspeita que as ações partiram de cinco fazendas da região de Corumbá, no norte do Mato Grosso do Sul.

Elas foram identificadas a partir de imagens de satélite que indicaram focos de incêndio iniciado dentro das propriedades antes de o fogo atingir áreas de preservação permanente e os limites do Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense e da Serra do Amolar.

Neste mês, um estudo da Organização Não Governamental (ONG)  Instituto Centro de Vida revelou que parte do fogo que devasta o Pantanal mato-grossense teve origem em fazendas de pecuaristas que vendem gado para o grupo Amaggi.

O grupo Amaggi pertence ao ex-ministro e ex-senador Blairo Maggi, e também foi citado o grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi, considerado o maior produtor de soja do mundo.  Esses dois grupos empresariais, por sua vez, são fornecedores das gigantes multinacionais JBS, Marfrig e Minerva. 

(*) Com informações das Agências de Notícias

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