Após perder patrimônio, Boi Garantido é pressionado por torcedores de Parintins no AM

Liminar assegura manutenção provisória do palco de shows e fábrica de alegorias e indumentárias que é a Cidade Garantido, cuja perda se configura na maior derrota material do boi, nos últimos 20 anos (Reprodução/Internet)

Mencius Melo – da Revista Cenarium

MANAUS – Depois do susto provocado pela perda do complexo “Cidade Garantido” em um leilão, torcedores do boi Garantido, um dos ícones do aclamado Festival Folclórico de Parintins (FFP), se perguntam qual o futuro da produção artística do boi, sem o espaço de construção alegórica.

O representante do Grupo Samel, Rogério Ozores, rede hospitalar que arrematou a “Cidade Garantido”, declarou à REVISTA CENARIUM, detalhes do pregão realizado pela 1ª Vara do Trabalho de Parintins.

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“Fizemos isso para preservar um patrimônio da cultura amazonense, que é o local onde o Garantido constrói suas alegorias e indumentárias para o festival de Parintins”, declarou Ozores.

Cidade Garantido é também o palco das grandes festas do Garantido (Reprodução/Internet)

Rogério é torcedor do Garantido, atual presidente do Movimento Amigos do Garantido (MAG), braço administrativo e cultural do Garantido em Manaus, afirma que não havia mais o que fazer, a não ser evitar o pior.

“A atual diretoria perdeu todos os prazos na justiça e quando Beto Nicolau (presidente do grupo Samel) e eu percebemos que um empresário que possui rixa com o Garantido, ia entrar no leilão para arrematar o galpão, não podíamos deixar isso acontecer”, detalhou.

Questionado sobre qual será o futuro do galpão, Rogério Ozores foi claro: “Vamos reformar e ceder para o boi, e quando o Garantido tiver o dinheiro para repor no preço do leilão, iremos repassar imediatamente”, anunciou.

Torcedores revoltados

O artista plástico do festival, sócio e torcedor do Garantido, Ito Teixeira, não conteve a indignação. “Nós, do Garantido lutamos uma década inteira para conseguir construir esse patrimônio, o Amarildo Teixeira (Artista de alegoria aposentado) e eu sonhamos com isso e ajudamos o ex-presidente José Walmir, a buscar meios para termos um galpão de alegorias”, recordou Ito.

O artista de alegorias Ito Teixeira não aceita a perda do patrimônio (Reprodução/Arquivo pessoal)

“Esse patrimônio é fruto do suor de muitos torcedores de Manaus e Parintins, é fruto da luta do Movimento Amigos do Garantido, que ajudou a comprar acredito que 60% da Cidade Garantido”, recordou.

Ele também relembra o histórico de torcedores e apoiadores que fundaram o movimento vermelho. “O MAG nasceu de muitas indicações de pessoas que eu e o Amarildo passamos para o seo Zé Wlamir”, relembrou.

Outro que não escondeu descontentamento, foi o torcedor parintintense Naldo Reis. Militante do MAG em Manaus, ele conta que voltou a morar em Parintins, mas, não esquece os anos que atuou em Manaus. “Ajudei a comprar esse galpão, fiz minha parte como torcedor e ai me vem o presidente, anunciar com alegria que perdemos o galpão como se isso fosse motivo de orgulho, menos né?. Perdemos patrimônio e a diretoria vem com aquela nota oficial: ‘em nome da nação vermelha e branca…’ em meu nome mesmo não!”, refutou.

Já deu!

Ex-vice presidente do Garantido, fundador e ex-presidente do MAG, Marco Aurélio Medeiros, não economizou nas críticas.

“Hoje é um dia para nós, torcedores do Garantido, não esquecermos. Metemos muito a mão no gelo, ficamos noites inteiras em portarias, estacionamentos, em palcos. Pagamos artistas, compramos materiais para construir alegorias e transportamos toneladas de produtos para pôr em porões de barcos à caminho de Parintins, e depois disso tudo, perder o fruto da nossa luta e do nosso suor é duro! Já deu para o Fábio Cardoso e esse grupo”, disparou.

Atual presidente do Garantido sofreu um duro revés com a perda do patrimônio do boi (Reprodução/Internet)

Ainda segundo Aurélio, a perda de parte da Cidade Garantido é o fim da ideia de promover o festival em novembro. “É a pá de cal na ideia de querer fazer um festival na marra, até porque, nem lugar para fazer alegoria temos agora. O que o senhor Fábio Cardoso tem que fazer é convocar assembleia de sócios, prestar contas e convocar as novas eleições, já está mais do que na hora”, sentenciou.

Procurado pela reportagem, o presidente Fábio Cardoso não atendeu as ligações e nem retornou as mensagens via whatsapp enviadas até o fechamento da matéria.

De inquilino a proprietário, e inquilino de novo!

A história do Garantido com as edificações de galpões que ficam na parte setentrional de Parintins é antiga. O complexo antes era uma fábrica de tecelagem que funcionou em Parintins até o inicio dos anos 1980.

Rogério Ozores ao centro e à direita Fábio Cardoso, o novo e o antigo dono das chaves da Cidade Garantido (Reprodução/Internet)

Com a falência da juticultura*, o grupo que administrava a antiga Fabril Juta, desativou a fábrica. Muitos funcionários foram demitidos e os galpões foram esvaziados do maquinário, restando apenas teto e paredes.

Com o crescimento do festival, os bois passaram a procurar mais espaços para as alegorias e tribos. O Caprichoso, foi a primeiro a construir um grande galpão ao lado do curral Zeca Xibelão (arena de ensaios do boi em Parintins) que ficou conhecido folcloricamente como ‘obra faraônica’.

O Garantido passou a ocupar os galpões abandonados da Fabril, já com o sonho de compra-los para fazer sua ‘fábrica de sonhos’.

Foi somente no ano de 1996, que o Movimento Amigos do Garantido (MAG), baseado em Manaus, ajudou a comprar via patrocínio da Antarctica Cervejaria, junto à gestão José Walmir, o primeiro dos três complexos que formam a atual Cidade Garantido (CG).

Em algum lugar dos anos 1970, a fábrica de sacarias que um dia viria a se tornar a ‘fábrica de sonhos’ do boi Garantido (Reprodução/Internet)

No ano seguinte foram adquiridos o galpão da tecelagem e a parte frontal que era o antigo galpão de armazenagem. Destruído ainda nos anos 1980, essa parte é hoje o palco, camarotes, escritórios sociais e arena de ensaios do bumbá, onde o público se concentra.

A expressão ‘Galpão’ é particular da cultura do festival de Parintins, equivale aos ‘Barracões’ das escolas de samba no carnaval Brasil afora. Antigamente eram chamados também de “QG” (Quartel do Garantido), expressão criada no inicio dos anos 1980, pelo ex – apresentador Paulinho Faria.

*Juticultura – foi um importante ciclo econômico na Amazônia a partir dos anos 1950. Consistia na plantação e cultivo da fibra de Juta, planta asiática que se adaptou bem às várzeas da amazônia. Foi introduzida no Brasil por imigrantes japoneses e teve em Parintins, um dos maiores polos de produção da fibra que é utilizada na produção de sacarias.

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