Após polêmica da castanha, cidade no Acre se torna capital do fruto
Por: Ana Pastana*
30 de abril de 2025
MANAUS (AM) – Após a polêmica sobre a denominação correta da castanha-do-brasil, também chamada de castanha-do-Pará, o município de Sena Madureira, no Acre, tornou-se a Capital Nacional da Castanha-do-Brasil. É o que determina a Lei 15.129, de 2025, publicada nessa terça-feira, 29, no Diário Oficial da União, após sanção do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Projeto de Lei (PL) 2.488/2023, que detalha a proposta, é de autoria do ex-deputado federal Gerlen Diniz, atual prefeito da cidade. No Senado, o projeto foi analisado pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), onde recebeu parecer favorável do senador Alan Rick (União-AC).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Sena Madureira está entre os principais produtores de castanha-do-Brasil no Estado do Acre. O fruto oleaginoso é rico em selênio – um importante mineral para a saúde – e pode ser consumido inteiro ou como farinha, sendo usado em diversas receitas.
Discussão
Após o ator amazonense Adanilo Reis da Costa se referir ao fruto como “castanha-da-Amazônia” durante um programa de televisão em janeiro deste ano, o assunto ganhou repercussão e provocou uma série de comentários nas redes sociais abordando o assunto. Afinal, é castanha-do-Pará, da Amazônia e Brasil?
Na época, uma das críticas com mais repercussão foi a da paraense e ex-BBB Alane Dias, que afirmou que o termo usado pelo ator Adanilo estaria incorreto. Alane, em um vídeo publicado nas redes sociais, disse que o “nome disso aqui é castanha-do-Pará”. “Eu estou falando o óbvio, porque, às vezes, o óbvio precisa ser dito. Não é castanha-do-Brasil, não é da Amazônia. É muito simples”, reafirmou.
À CENARIUM, a doutoranda em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Izabel Cristine, da etnia Munduruku, afirmou que o termo castanha-da-Amazônia seria o correto para se referir ao fruto. Ela destacou haver diversidade na maneira com que os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos lidam com o alimento na região.
“É preciso compreender que são esses termos tão diversos que precisam ser inseridos nessa lógica de que a Amazônia é muito diversa e complexa para estar delimitada ou demarcada por um termo único, por uma lógica única, por um Estado único. Não tem outro termo melhor, se não o amazônico“, disse.
Para Izabel, a restrição do nome do fruto a um local específico invisibiliza outras localidades. A historiadora também destacou que a afirmação de que a castanha é do Pará está ligada a uma lógica colonialista do século XVIII e XIX, onde tudo era reduzido a um determinado espaço.
“Quando a gente fala que determinado fruto, que determinada iguaria de uma região tão complexa como a Amazônia tende a possuir um nome que o delimita e o determina, é uma perspectiva colonial. Porque quem determina, quem delimita, é o colonizador”, destacou.

Produção do fruto
O Amazonas foi o Estado da Região Norte que mais produziu castanha em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com uma produção aproximada de 11,3 mil toneladas do fruto, o Estado teve o município de Tapauá, localizado a 448 quilômetros de Manaus, como líder na produção. Os dados de cada município não foram divulgados pela instituição.
Na sequência, o Acre apareceu como o segundo maior produtor da região, com 9.473 toneladas, seguido pelo Pará, que registrou 9.390 toneladas. Roraima ficou em quarto lugar, com 1.910 toneladas, e Rondônia produziu 1.003 toneladas. O Amapá, com 384 toneladas, completou a lista dos Estados que mais contribuíram para a produção de castanha na Região Norte. O Tocantins não apresentou dados sobre a produção do fruto.