Artesanato indígena ensinado por gerações inspira presentes originais para o Dia das Mães

Artistas do grupo Arts Regionais da Amazônia em exposição no Palácio Rio Branco, no Centro Histórico de Manaus (Alessandra Leite/Revista Cenarium)

Alessandra Leite – Da Revista Cenarium

MANAUS – As artesãs indígenas Ana Maria Alves, 60 anos, e Marina da Silva Puga, 69 anos, mantêm o artesanato como ofício herdado das mães, ainda na infância, como a principal fonte de renda da família, décadas depois. O grupo de mulheres Arts Regionais da Amazônia, assistido pela Cáritas Arquidiocesana de Manaus, exibe peças originais e inspiradoras para o Dia das Mães em exposição itinerante – atualmente no Palácio Rio Branco, localizado no entorno da Praça Dom Pedro II, no Centro Histórico de Manaus.

Em entrevista, as artistas falam da relação maternal agregada a cada peça de artesanato e dos processos de beneficiamento que fazem de sementes, cascas e outros insumos os colares, anéis, brincos e tantas outras biojoias. “Trabalho há 29 anos como artesã e é a minha única fonte de renda atualmente. Fazemos tudo desde a limpeza das sementes, das cascas, até a pintura, o acabamento das peças. A casca do coco, aquela parte que a gente fura para tomar a água, transforma-se neste pingente”, conta, mostrando um colar.

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Colar feito a partir do beneficiamento da casca do coco, da semente de açaí e paxiúba (Alessandra Leite/Revista Cenarium)

Vivência e preconceito

Para Ana Maria, do povo Kokama, o preconceito com a mulher indígena e com o trabalho do artesanato em si já diminuiu bastante em relação ao que era no passado, mas ainda é percebido na sociedade. Sozinha com a filha de 22 anos, que também trabalha na confecção e venda dos artesanatos, Ana Maria relata que a luta tem sido grande durante o período da pandemia, especialmente por ser um ofício que depende, sobretudo, do turismo.

Outra questão apontada por ela é o fato de o artesão, até hoje, não ser uma profissão regularizada e, portanto, não ter direito à aposentadoria. “Sofremos com vários tipos de preconceitos ainda. Cito aqui apenas três: o fato de ser mulher, indígena e artesã”, ressalta ao dizer que tem feito doces e salgados também para ajudar no sustento nestes tempos difíceis, sem renunciar ao artesanato.

Para se ajustar aos novos modelos de venda diante da pandemia, as artesãs atendem no formato delivery, pelo número (91) 98321-6703. As artesãs permanecerão com o espaço no Palácio Rio Branco até que seja montado um espaço permanente para elas na praça Dom Pedro II, como permissionárias da prefeitura de Manaus.

Colar confeccionado a partir de jupati, bacaba, açaí e madeira (Alessandra Leite/Revista Cenarium)

Medicina Indígena e artesanato

Também integrante do grupo e idealizadora da marca Arts Regionais da Amazônia, a artesã Marina da Silva Puga, 59, conta que a arte que também aprendeu de sua mãe é também uma terapia, além de fonte de renda e dignidade. Descendente de indígenas peruanos, Marina relata que nunca casou nem teve filhos, vivendo sempre de sua arte. “Tinha problemas de saúde e só fui curada aos 33 anos, com medicamentos indígenas que aprendi a fazer e faço até hoje. É, inclusive, uma das minhas fontes de renda neste momento da pandemia, porque muitos que saem dos hospitais tratam as sequelas com medicamentos naturais e ficam curados”, afirma.

Centro de Medicina Indígena

Localizado na rua Bernardo Ramos nº 97, também no Centro Histórico de Manaus, o Centro de Medicina Indígena volta a ter atendimento de um pajé neste sábado, 8/5, após um longo período de restrições de viagem, por ser do grupo de risco e morar em São Gabriel da Cachoeira.

O valor das consultas, de acordo com o responsável pelo Centro, Ivan Tukano, 31 anos, varia entre R$ 50 e R$ 150, dependendo da gravidade da doença. “O nosso pajé passou bastante tempo fora por ser do grupo de risco e devido aos decretos que restringiam as viagens até Manaus. Agora ele conseguiu voltar e fará os atendimentos”, informou.

Além de funcionar como uma espécie de consultório, o local comercializa medicamentos naturais e produtos de artesanato, vindos de diversas localidades indígenas. Um dos mais procurados tem sido os bancos tucanos, cujos tamanhos e grafismos mudam conforme a importância da pessoa indígena que vai se sentar.  As camisetas também são bastante procuradas, conforme o responsável pela loja, e são feitas, também, sob encomenda, pelo Instagram do Centro.

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