Artista indígena é o único brasileiro escolhido para participar de exposição da Unesco, em Paris

"Vestir-se é um ato político", diz o artista Rodrigo Tremembé (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – O artista visual Rodrigo Tremembé, de 25 anos, foi o único brasileiro escolhido para ter a pintura exposta ao público na sede da Unesco, em Paris, na França. A exposição integra a agenda de atividades do projeto intitulado “Turn It Around/Flashcards for Education” na qual 70 artistas de 44 países foram selecionados para expor produções que abordem temas voltados para políticas e justiça climática.

O projeto ficará exposto durante todo o mês de julho. A iniciativa é do Arizona State University e Artists’ Literacies Institute junto a Open Society Foundations e Futures of Education da Unesco e aborda a pauta “crise climática” de forma educativa e criativa por meio da arte. Ativistas, líderes, escritores e artistas participam com produções que compõem a programação.

O tema da exposição trata da educação ambiental como ferramenta transformadora, e como meu trabalho na moda indígena se alinha a essas questões submeti minha arte. Então, fui o único escolhido para representar o Brasil na luta por justiça climática”, explica Tremembé.

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“Vestir-se é um ato político”, afirma Rodrigo Tremembé (Unesco)

Acompanhado dos dizeres “Vestir-se é um ato político, nossas roupas contam uma história.
Venho falar sobre minhas inquietações como jovem artista indígena denunciando as práticas absurdas de
desmatamento no Brasil. Faço da moda um espaço de reflexão. Que história suas roupas contam?
A pintura de Tremembé, que denuncia a prática ilegal do “correntão”, uma prática de desmatamento considerada cruel, fica exposta em forma de cartaz de rua na área ao redor da sede da organização.

“Essa peça tem o papel de semear memórias e reflorestar pensamentos. O grafismo representa folhas de árvores e simbolizam liberdade”.

Croqui desenhado e pintado por Rodrigo Tremembé (Divulgação)

Orgulho e potência

Para Tremembé, é um orgulho poder participar de uma agenda relevante como a programação da Unesco. Na leitura do artista indígena, além de um ato político, a iniciativa é uma oportunidade para “potencializar vozes indígenas” por vezes invisibilizada.

Diante dos retrocessos políticos e o descaso que nós povos indígenas estamos vivendo em relação a políticas ambientais e sociais, sinto que minha obra representa bem as vozes dos povos indígenas do Brasil que tanto lutam por justiça climática. É motivo de muita honra potencializar através da arte vozes que são diariamente silenciadas“, considera.

Educar e reeducar

Em complemento ao projeto, um baralho de flashcards educacionais voltado para jovens e adultos foi confeccionado com conteúdos artísticos e mensagens sobre a crise climática. Os cards feitos por jovens de 44 países explora temas como a coexistência com outras espécies, medos quanto ao futuro e o capitalismo.

O baralho de 70 cartas está disponível em inglês, espanhol e francês. O produto será usado também em comunidades, escolas e locais de trabalho, como objeto lúdico, atuando como ponto de partida para conversas difíceis sobre temas que envolvam mudanças climáticas.

Rodrigo Tremembé

Nascido e residente na aldeia Córrego João Pereira, Itarema, Ceará, Rodrigo Tremembé, 25,
é indígena do povo Tremembé e artista visual com atuação na área da moda indígena. É fundador do Coletivo Juventude Tremembé, do Córrego, e da marca de vestuários “Tremembé”, que leva o nome de seu povo. É membro da Revista Inspiração Teen e dos coletivos Juventude Indígena Conectada (JIC).

Em janeiro deste ano, Rodrigo lançou uma coleção de roupas masculinas e femininas como um manifesto em favor da diversidade e consumo consciente e inclusão. Tremembé acredita que a moda indígena está intimamente ligada a um ato político e de resistência.

“Somos o que vestimos, desde o processo de matéria-prima, mão de obra, confecção e comercialização de um produto há histórias envolvidas. Que história suas roupas contam? A marca que você veste se preocupa com o meio ambiente? A mão de obra é valorizada? Fico grato de ter tido meu trabalho visto nesse sentido de ser uma obra que denuncia práticas de desmatamento e retrocessos políticos por meio da arte e da moda“, finaliza.

Veja vídeo:

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