Artistas do Norte questionam: cadê a representação amazônica em prêmios nacionais?
09 de dezembro de 2021
Artistas do Norte se posicionam sobre invisibilidade em premiações nacionais. (Foto: Reprodução/ Internet)
Nauzila Campos – Da Revista Cenarium
MANAUS – O Prêmio Multishow aconteceu na noite de 8 de dezembro, reconhecendo o trabalho de diversos artistas nacionais em várias categorias. A festa contou com apresentações musicais, homenagens a artistas que se foram – deixando saudade – e muita simpatia da humorista Tatá Werneck e da cantora Iza. As escolhas dos preferidos do público aconteceram ao longo de meses, por meio de votos na internet. O Prêmio também contou com uma banca técnica, chamada de Superjúri.
Que a festa foi bonita e emocionante, não dá para negar; mas depois do Prêmio, nos Estados da Região Norte, vários gritos ecoaram a mesma revolta: onde estão os artistas e as bandas nortistas nas premiações nacionais de renome?
Uma das vozes que mais expressou indignação nas redes sociais foi a da cantora Gaby Amarantos, paraense. No Twitter, em forte desabafo, Gaby disse que “Artistas da Amazônia, da Região Norte, não existem para as premiações brasileiras e isso dá um desestímulo (…)”.
Reprodução/ Twitter
Acompanhando a colega artista do mesmo Estado, Lia Sophia, também cantora paraense, demonstrou a mesma revolta no Instagram – e ambas contaram com o apoio de artistas de vários setores brasileiros.
Reprodução/ Instagram
Ponto de vista amazonense
Para expressar diretamente o que sentem os cantores locais diante desses protestos contra a “invisibilidade” nortista, a CENARIUM entrevistou Elisa Maia, cantora amazonense recém-premiada em categorias norte-nordeste por seus trabalhos audiovisuais no Prêmio Profissionais da Música.
A artista lembra que esse apagamento direcionado ao Norte não é de hoje – e um exemplo recente foi a triste ocorrência da falta de oxigênio, em janeiro, no Amazonas. “A grande mídia demorou um bom tempo para dar isso – e quando deu! Não é à toa que, em Manaus, foi levantada a hashtag #nortepelonorte. A gente tem um processo de invisibilidade histórica, e não é só na cultura. Na arte e na música não vai ser diferente”.
Outro ponto levantado por Elisa é o público-alvo do canal Multishow. A premiação é voltada para artistas de alcance de grandes massas, o que, tecnicamente, chamam de “mainstream”, aqueles que ‘todo mundo’ conhece. “A gente não tem ninguém da Região Norte que figure nesse cenário pop. Se a gente tivesse que estar em alguma categoria, seria na de ‘Superjúri’, que eles criaram para dar uma ‘entradinha’ ao médio mercado”.
O Superjúri é um time formado pelo canal, composto por especialistas da música, que julgam categorias técnicas e representam a opinião do Multishow. Havia representantes do Nordeste, mas do Norte, não.
Cantora amazonense Elisa Maia, ganhadora da categoria Videoclipe Região Norte, do Prêmio Profissionais da Música 2021. (Foto: Robert Coelho)
A CENARIUM também chamou ao debate a cantora Gabi Farias, de Manaus. Para ela, também não surpreende a falta de indicação de artistas amazônidas ou mesmo da participação no espetáculo. Mas, ainda causa revolta. “Nós vivemos sob um olhar de negligência, pautado na ideia de que por estarmos numa região afastada, e geograficamente menos ‘acessível’, somos menos entendedores de quem somos e o que podemos fazer. A Região Norte do País hoje, e especificamente a região Amazônica, produz uma diversidade e pluralidade artística como nenhum outro lugar. A nossa cultura, o nosso olhar sobre o nosso lugar são expressos com qualidade, com talento, com propriedade de gerações que hoje a gente traz para um movimento contemporâneo e necessário. (…) E a gente segue criando, indignados e exigindo respeito”.
O rapper gay Lua Negra, também recebido pela CENARIUM, vai além. Ele faz críticas em relação ao próprio circuito interno de Manaus, que, segundo ele, vai se fechando em “panelinhas” e, por isso, não expande. “São sempre as mesmas pessoas. Eu consegui espaço aqui em Manaus na base do grito mesmo. De ir na internet e dizer que eu fico indignado de não me convidarem para cantar em um evento com temática LGBTQIA+, preta, afroamazônida, periférica de arte urbana. Metade [do reconhecimento] é por prestígio, por pessoas que conheceram minha arte e música, e a outra metade na base do grito, senão a gente não consegue espaço nenhum – porque são restritos a grupos de amizade”.
Rapper queer periférico, Lua Negra. (Foto: Juliana Rosa Pesqueira)
Para conhecer mais sobre o trabalho dos artistas amazonenses e ajudar a levar os produtos amazônidas além do Norte, assista aos clipes disponíveis no YouTube.
Elisa Maia:
“Luas pra tantas faces”, de Elisa Maia, foi o clipe vencedor do Prêmio Profissionais da Música 2021.
Gabi Farias:
“Olhos negros” é o último lançamento audiovisual de Gabi Farias.
Lua Negra:
Lua Negra destaca o evento Sessão 432 como um dos momentos de grande acolhimento e divulgação do cenário local.
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